17 de novembro de 2025
Politica

Governo Lula sofre para fazer reenquadramento moral na segurança pública

O que deveria ser o objetivo central do Projeto Antifacção, melhorar o combate a milícias e organizações criminosas que infernizam a vida dos brasileiros e prejudicam a economia do País, tornou-se secundário, praticamente uma nota de rodapé, das verdadeiras intenções do governo Lula, que queria usar o texto original apresentado à Câmara dos Deputados para rebater a percepção popular de que é mole com bandidos, e da oposição bolsonarista, que não quer dar essa colher de chá para Lula, nem que para isso tenha que destruir algo potencialmente positivo para a segurança pública.

O presidente Lula disputa protagonista com a direita na elaboração do projeto Antifacção
O presidente Lula disputa protagonista com a direita na elaboração do projeto Antifacção

Nenhum dos dois lados tem um histórico vencedor na seara da segurança. Os governos do PT foram historicamente negligentes com o tema, frequentemente colocando equívocos ideológicos (como a vitimização sociológica de criminosos) à frente da capacidade de encontrar soluções pragmáticas para o problema.

Já a turma do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), relator do Projeto Antifacção na Câmara, conseguiu conectar seu discurso aos anseios de boa parte da sociedade cansada de viver com medo, mas é um fracasso na prática.

Até recentemente, como secretário de Segurança do governo paulista, na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), o ex-capitão da PM instituiu uma política de “tiro na cabecinha” de bandidos que, além de inaceitável do ponto de vista legal e moral, não se refletiu em ganhos inequívocos nas estatísticas criminais.

Políticos como Derrite, Tarcísio e o governador do Rio Claudio de Castro contam com o fato de que a população, apavorada com os assaltos, a disseminação das drogas e as extorsões praticados pela bandidagem, se encanta fácil com soluções simples e falsamente óbvias para se sentir mais segura.

As mudanças que o deputado quis fazer no projeto na semana passada, esvaziando a atuação da Polícia Federal, sugerem uma tentativa de unir o fortalecimento da estratégia brucutu em âmbito estadual à blindagem de autoridades locais corruptas. Os beneficiados, no fim das contas, seriam as próprias facções que se pretende combater.

O governo Lula, por sua vez, parece ter compreendido que, para não ser massacrado no tema da segurança pública nas eleições de 2026, precisa sair da inércia prática em relação ao tema e, não menos importante, adotar a tática do reenquadramento moral do seu discurso público.

O reenquadramento moral, no caso, significa desvencilhar-se da linguagem esquerdista sobre segurança pública, que costuma ser estruturada em torno de eixos como cuidado/dano social, diversidade/exclusão e justiça/desigualdade, e construir argumentos mais alinhados com os valores morais da maioria da população, sem abrir mão de princípios inegociáveis como a legalidade e a presunção de inocência.

Lula não estava errado, por exemplo, quando classificou a operação policial que matou 121 pessoas no Rio como “matança” e “desastrosa”. Mas essas críticas, feitas poucos dias após dizer, no contexto das operações dos Estados Unidos contra embarcações da venezuelanas, que os traficantes é que são vítimas dos usuários de drogas, não ajudam em nada os esforços do seu marqueteiro de fazer um reenquadramento moral em relação ao tema.

As pesquisas mostram que esse ajuste de discurso é fundamental para os planos eleitorais do presidente. Segundo recente levantamento da Genial/Quaest, a maioria absoluta dos brasileiros, até mesmo entre os eleitores de Lula, aprovou a operação no Rio. O governo não pode ser conivente com chacinas. Mas a falta de conexão com a população sobre segurança pública vai muito além disso.

 

 

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