Operação Coffee Break: Propinas foram usadas para quitar apartamento e comprar na Gucci, diz PF
A Polícia Federal acredita que o esquema de corrupção e desvio de recursos públicos da Educação investigado na Operação Coffee Break estaria em funcionamento desde, pelo menos, 2021, com ramificações por diferentes prefeituras de São Paulo. O relatório parcial do inquérito crava que agentes públicos, lobistas, doleiros e um empresário formaram uma “organização criminosa estruturada”.
As suspeitas levaram a Justiça Federal a decretar a prisão do vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César, do secretário de Educação da cidade, Fernando Gomes de Moraes, do secretário de Educação de Sumaré, José Aparecido Ribeiro Marin, do empresário André Gonçalves Mariano, e de dois doleiros que dariam suporte ao esquema.
Procurada pelo Estadão, a defesa de Mariano não se manifestou. O advogado Ralph Tórtima Filho, que representa Cafu, informou que pediu acesso às investigações para se pronunciar.

A Polícia Federal atribui ao empresário, dono de Life Tecnologia Educacional, o pagamento de propinas milionárias em troca de acesso privilegiado em Brasília e em prefeituras de São Paulo e do direcionamento de contratos na ordem R$ 111 milhões para a compra de material didático.
Em Sumaré, o principal contato de André Mariano seria José Aparecido Ribeiro Marin. O empresário transferiu, por meio da Life Educacional, R$ 549 mil para uma construtora, que confirmou que o dinheiro foi usado quitar um apartamento de alto padrão comprado pelo secretário em Campinas. Também enviou R$ 485 mil para uma conta indicada por Marin, em nome de outra pessoa, que a Polícia Federal acredita ser um laranja.

Os investigadores também suspeitam de pagamentos para o vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César, o secretário de Educação da cidade, Fernando Gomes de Moraes.
“Como restou evidente, Cafu e o secretário Fernando atuam em conjunto em prol dos interesses de Mariano, recebendo vantagens indevidas do empresário como contraprestação”, crava a PF na investigação.
Conversas de WhatsApp obtidas pela Polícia Federal mostram que Cafu compartilhou dados de contas bancárias de outras pessoas e empresas para Mariano, que fez pagamentos de R$ 2,2 milhões, em transferências fracionadas, e depois enviou comprovantes das transações.
Além disso, o empresário teria feito entregas de dinheiro em espécie ao vice-prefeito e ao secretário, de acordo com a Polícia Federal.
“No total, foram contabilizadas 26 situações em que há fortes indícios de atos de entrega de dinheiro na Prefeitura de Sumaré/SP, no período de 2021 a 2024″, detalha o inquérito.

Os investigadores cruzaram dados da agenda do empresário com suas conversas no WhatsApp e descobriram que, antes de encontros com o vice-prefeito e com o secretário, Mariano fazia retiradas de dinheiro em espécie com doleiros. Na agenda, há diversas anotações dos nomes de Cafu e Fernando ao lado da palavra “café”, que segundo a PF seria a senha das propinas.
Com a quebra de sigilos fiscais, as suspeitas de corrupção se confirmaram. Os dados financeiros demonstram que Marin, Cafu e Fernando mantém um padrão de vida incompatível com a renda declarada e pagam despesas com dinheiro vivo.
Ao analisar as finanças de Cafu, os investigadores identificaram, por exemplo, gastos de quase R$ 3 milhões em lojas de luxo, como Gucci e Burberry, em espécie, com a compra de sapatos, botas, óculos, roupas e perfumes.
Ao decretar as prisões, a juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da 1.ª Vara Federal de Campinas, considerou que, em liberdade, o grupo poderia dar continuidade do esquema. Também apontou o risco de destruição de provas e obstrução do inquérito.
“A engenhosa atividade criminosa, que já opera há anos, aliada às influências econômicas e políticas dos investigados não deixa dúvidas do risco evidenciado para a ordem pública, econômica e social, além de haver necessidade de se preservar a instrução processual e a aplicação da lei penal”, diz a decisão.
