16 de novembro de 2025
Politica

Tarcísio tem base mais diversa que Bolsonaro e atrai simpatia de eleitores de Lula, aponta pesquisa

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Apontado como o nome mais forte na linha sucessória de Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atrai um eleitorado muito parecido com o do ex-capitão. Mas há uma diferença que chama atenção e que pode fazer a diferença na disputa presidencial: Tarcísio tem uma base mais diversa que inclui, entre seus apoiadores, uma parcerla maior de eleitores que votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições de 2022.

Entre os brasileiros que dizem “gostar ou gostar muito” do governador de São Paulo, 22% afirmam ter votado em Lula no segundo turno da última eleição e 65% em Bolsonaro. Outros 11% não votaram ou anularam, e 2% não souberam responder. O dado indica, portanto, que a base de Tarcísio é formada por eleitores que fizeram escolhas diferentes em 2022.

Os números são da pesquisa “A Cara da Democracia 2025”, extraídos a partir de um cruzamento feito a pedido do Estadão. Foram realizadas 2,5 mil entrevistas presenciais entre os dias 17 e 26 de outubro. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O levantamento inclui pesquisadores de UFMG, Unicamp, UnB, Uerj e Enap, e foi financiado pelo CNPq e pela Fapemig.

O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)

“Provavelmente são aquelas pessoas de direita que têm um perfil tecnocrático, contemplado por Tarcísio, mas que abominam o modo grosseiro e o pensamento primitivo de Bolsonaro. Então, quando confrontados com a escolha entre Lula e Bolsonaro no segundo turno de 2022, sufragaram o petista”, diz João Feres Júnior, cientista político e professor titular de ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Para o o cientista político Leonardo Avritzer, coordenador da pesquisa, o fato de Tarcísio atrair entre seus apoiadores eleitores que votaram em Lula se explica também, em parte, porque a rejeição ao governador é mais baixa do que a de Bolsonaro.

O levantamento também revela que Tarcísio enfrenta menos resistência do que Bolsonaro entre quem avalia positivamente o governo Lula. Entre os que consideram a gestão federal “ótima”, 89% não gostam ou gostam pouco de Bolsonaro, enquanto 64% dizem o mesmo sobre Tarcísio.

Nesse mesmo grupo de brasileiros satisfeitos com o governo Lula, 15% têm opinião neutra sobre o governador. É uma fatia do eleitorado que, na prática, pode estar em disputa no ano que vem, já que pode tanto migrar para o grupo dos que gostam de Tarcísio quanto reforçar o bloco dos que não gostam. No caso de Bolsonaro, essa zona de neutralidade é bem menor: apenas 4% dos que avaliam o governo Lula como “ótimo” declaram não gostar nem desgostar do ex-presidente.

“Tarcísio é ainda muito desconhecido fora do Sudeste, na verdade de São Paulo. Esse é seu grande dilema, não teria força política se não fosse sua associação com Bolsonaro, mas, por outro lado, essa associação pode gerar rejeição à sua pessoa, particularmente porque o bolsonarismo vem colhendo muitas más notícias nos últimos tempos”, afirma Feres Júnior.

A pesquisa também mostra que, se por um lado Tarcísio tem alguma penetração entre quem votou em Lula, por outro ele está longe de ser unanimidade entre os eleitores de Bolsonaro no segundo turno. Um quarto desses eleitores diz não gostar ou gostar pouco do governador. “Provavelmente, são os (bolsonaristas) radicais”, diz Avritzer. A maior parte, porém, declara simpatia por Tarcísio (42%), e outros 21% afirmam ter uma visão neutra sobre ele.

Relação com a democracia e instituições

Há outras poucas diferenças entre os simpatizantes de Tarcísio e de Bolsonaro, e a confiança na apuração das urnas é uma delas. Entre os que veem o governador de forma positiva, 17% dizem confiar muito na contagem de votos, ante 11% entre os que simpatizam com Bolsonaro. Apesar dessa diferença, a desconfiança predomina nos dois grupos: 63% dos que gostam de Tarcísio e 68% dos que gostam de Bolsonaro afirmam confiar pouco ou não confiar na contagem.

Outra nuance aparece quando o assunto é o regime político. A pesquisa cruzou a opinião sobre Tarcísio e Bolsonaro com a preferência entre democracia e ditadura. Entre os entrevistados que afirmam que, em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático, 27% dizem gostar ou gostar muito de Tarcísio, enquanto 39% declaram o mesmo sobre Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.

A autodefinição ideológica também expõe diferenças. A pesquisa usou uma escala de 1 a 10 para medir a ideologia do brasileiro, em que 1 significa estar mais à esquerda e 10, mais à direita. Entre os que se colocam de 1 a 4, portanto mais à esquerda, a rejeição a Bolsonaro é bem maior: 87% dizem não gostar ou gostar pouco dele, ante 70% no caso de Tarcísio. Já entre os que se posicionam de 7 a 10, isto é, mais à direita, o ex-presidente mantém vantagem: 54% afirmam gostar ou gostar muito de Bolsonaro, enquanto 35% dizem o mesmo sobre o governador.

Quando se olha para pautas morais e de costumes, os eleitores que gostam de Tarcísio e os que gostam de Bolsonaro praticamente pensam da mesma forma. Nos dois grupos, há forte apoio à redução da maioridade penal e resistência ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, à descriminalização das drogas e à legalização do aborto, para citar alguns exemplos. Na agenda econômica, os simpatizantes de Tarcísio são numericamente mais favoráveis às privatizações no setor público (51%, contra 43% entre os que dizem gostar de Bolsonaro).

Tanto Tarcísio quanto Bolsonaro têm mais apoio entre os homens. Na renda, a maior concentração de simpatizantes está na faixa de dois a cinco salários mínimos. E os dois também avançam mais entre quem se declara insatisfeito com a democracia.

Tarcísio tem um desempenho relativamente uniforme pelo País: o porcentual de “gosta ou gosta muito” do governador fica entre 17% e 22% nas cinco regiões, com o pior resultado no Nordeste. Bolsonaro, por sua vez, é mais forte no Centro-Oeste, Sul e Norte — onde chega a 37%, 36% e 35% de avaliação positiva, respectivamente, e também tem seu menor índice no Nordeste, com 23% de eleitores simpatizando em alguma medida com ele.

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