17 de novembro de 2025
Politica

Em todo o mundo, o centro não empolga, mas define as eleições

Com o exemplo deste momento no Chile, com o segundo turno definido entre Jeannette Jara, do Partido Comunista Chileno, e José Antonio Kast, do Partido Republicano, o fenômeno da polarização se repete como um dado da conjuntura mundial. No sentido de grupos políticos com pautas consideradas mais radicais terem a preferência dos eleitores e conseguirem uma vaga para o segundo turno. Ocorreu também na Argentina. Pode ocorrer na França. Mesmo em países parlamentaristas, os “extremos” mostram as suas garras.

Os candidatos de centro costumam ficar pelo caminho. No Brasil, temos este acontecimento no mínimo desde 2018, quando o então ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi atropelado pelo fenômeno Jair Bolsonaro, com discurso estridente, sem estrutura partidária ou tempo de televisão. Em 2002, Simone Tebet, representando o “centro democrático”, obteve apenas 4,2% dos votos.

José Antonio Kast e Jeannette Jara vão disputar o segundo turno no Chile
José Antonio Kast e Jeannette Jara vão disputar o segundo turno no Chile

Mas há um paradoxo aí. Os candidatos de centro não conseguem maioria. Não empolgam o eleitor. Mas são os seus eleitores que decidem quem terá a vitória. Ocorreu no Brasil, na Argentina de Javier Milei e ocorrerá novamente no Chile.

É a contradição aparente da minoria decisiva. O centro, até mesmo por definição, tende mais às sutilezas, às negociações com quem pensa diferente, às composições. Em um mundo de comunicação horizontal possibilitada pelas redes sociais, não há espaço para meios-termos. Tudo precisa ser agora preto no branco.

Do ponto de vista do público, a política deixa de ser a arte do possível após exaustivas conversas em que todos os lados precisam ceder. Torna-se uma disputa de frases curtas, que caibam em pequenas postagens ou vídeos eloquentes. Para se transformarem em agressões mútuas, basta um passo. Talvez os historiadores, no futuro, definam os dias atuais como a era das ofensas.

Problemas complexos exigem agora soluções simples, que possam ser explicadas em poucas frases. Do ponto de vista eleitoral ou de conquista de seguidores, não importa tanto sua viabilidade, mas que a ideia tenha como consequências votos ou popularidade. Estamos em tempos de necessidade contínua de estímulos e de eterna catarse.

Cada pessoa do mundo é hoje um potencial estúdio de televisão, um potencial colunista de jornal. Nesse sentido, se quisermos ser otimistas, é um exercício de democracia em que todos têm voz – e não mais uma elite com acesso aos tradicionais veículos de mídia. É possível dar publicidade imediata às falhas e omissões de um Estado que não consegue resolver problemas que irritam a população.

Mas se quisermos ser pessimistas, tudo isso tem servido, por outro lado, para soltarmos nossos monstros a qualquer momento. Tornou-se muito mais fácil ofender. Com as redes sociais, temos mais acesso ao que as pessoas pensavam apenas de maneira reservada. Agora, há uma transparência agressiva que até ofusca o entendimento. Quem xinga não quer saber de argumento.

Nesse sentido, políticos que construíram a carreira em bastidores, em acordos, e mesmo diálogo, perdem a força – assim como os eleitores que apreciam esse tipo de moderação (que para os radicais é apenas mais uma forma de corrupção). O consolo, negativo, é que a minoria sem força para eleger seu candidato tem o poder de vetar o que o desagrada mais. Irá exercê-lo no Chile, no Brasil e em qualquer parte do mundo.

 

 

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