Dirceu vai comandar programa do PT com desafio de mudar cara do partido e apontar para o pós-Lula
A três meses de completar 46 anos, o PT voltará ao divã para fazer uma radiografia do seu projeto de poder. Em abril, o partido promoverá um congresso nacional, o oitavo de sua trajetória, com o objetivo de definir a tática eleitoral da campanha de 2026 e rever o seu programa para a próxima década, abrindo caminho para o pós-Lula.
Quem conduzirá a discussão sobre a plataforma partidária é o ex-ministro José Dirceu, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu comandou o PT por sete anos e foi chefe da Casa Civil no primeiro mandato de Lula. Deve-se a ele a aproximação dos petistas com partidos de centro no espectro político.
Em 2005, no entanto, após o escândalo do mensalão, Dirceu retornou à planície e teve o mandato de deputado federal cassado. Foi preso três vezes. As condenações que pesavam contra o ex-ministro na Lava Jato foram anuladas no ano passado e em 2026 ele concorrerá novamente a uma cadeira na Câmara.
Preocupado com sua própria sucessão, porém, Lula quer que seu ex-braço direito se dedique à construção da nova cara do PT. Até agora, ele não preparou um herdeiro. Nas fileiras petistas, é comum ouvir que o presidente “não deixa a grama crescer à sua volta”.
O coordenador-geral da campanha de Lula ao quarto mandato será o presidente do PT, Edinho Silva. Engana-se, contudo, quem acha que a estratégia do partido para os próximos anos será conduzida rumo ao centro no espectro político.
Apesar das alianças cada vez mais pragmáticas feitas nas últimas eleições e da defesa da austeridade fiscal, na prática o partido sempre deu as cartas na chamada “frente ampla” e iniciará o ano eleitoral abrindo o cofre para atrair apoio.
Aos 80 anos, Lula sabe que, se for reeleito, terá o último mandato à frente do Palácio do Planalto. E quem será o seu sucessor? O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o chefe da Casa Civil, Rui Costa, o titular da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (PSOL), o prefeito do Recife, João Campos (PSB), ou aparecerá outro nome? Mais: como o partido pretende enfrentar o crescimento da extrema direita no País, mesmo sem Jair Bolsonaro na disputa?
Aos que propõem o enterro da bandeira socialista para o PT iniciar um novo ciclo, Dirceu avisa que isso não ocorrerá.
“O PT é um partido de esquerda e socialista, não de centro. Precisamos nos renovar, ler o mundo atual, as mudanças no trabalho, a questão climática e a realidade geopolítica”, disse o ex-ministro à Coluna. “Mas não podemos perder a nossa natureza. Vamos mudar sem mudar de lado.”
Escolhido como secretário-executivo do 8.º Congresso do PT, o deputado Jilmar Tatto (SP) admite a pressão interna pela guinada à esquerda, acentuada após o anunciado divórcio do Centrão com o Planalto. “É claro que o PT não pode ser à direita do governo”, avalia Tatto, vice-presidente do partido e autor da proposta de “tarifa zero”, hoje sob análise da Fazenda.
O estatuto petista também deve ser atualizado no encontro, que vai de 23 a 26 de abril de 2026. A maioria das tarefas do congresso ficou com a corrente petista Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula, Edinho e Dirceu, mas a secretaria responsável pela renovação do estatuto está com Valter Pomar, diretor da Fundação Perseu Abramo e dirigente da tendência Articulação de Esquerda.
Propostas para a construção do programa de governo de Lula serão coordenadas pelo deputado estadual Cristiano Silveira, de Minas Gerais, e o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), com nove integrantes, terá à frente o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Após a reclamação feminina, já que “elas” não foram contempladas na distribuição de tarefas para o 8.° Congresso do PT, a cúpula petista decidiu criar uma secretaria específica para discutir a tática eleitoral. Mas ainda não escolheu a mulher que irá ocupar o cargo.
