Num país imaginário, um banqueiro sem lastro colocou toda a sociedade no bolso
Como a história é absurda demais para ser verdadeira, é preciso contar como ficção. Um jovem empresário, com um passado nos negócios não muito edificante, adquire um banco falido de uma nação vizinha de sua terra natal – a região dos minérios. Como a instituição estava quebrada, não custou nada, fora boas conversas com quem mandava e desmandava. O rapaz mostrou seus planos mirabolantes, em que todos sairiam vencedores, e apertaram-se as mãos.
Então, a partir de empréstimos fictícios, promessas irrealizáveis e patrimônio inventado, ele consegue bilhões de reais de correntistas incautos. Além, claro, dos contratos com o setor público em suas diversas esferas. Compra o mais bonito prédio das nações dos negócios.
A partir de sua recém-criada montanha de dinheiro inexistente, o empreendedor coloca sob sua esfera de influência gente do Executivo, do Legislativo, do Judiciário (com direito a jantar em Nova Iorque, o império mais poderoso do planeta distante), lobistas, parte da mídia, até mesmo uma igreja. Sua conversa magnética encantava. Havia um enorme buraco que ameaçava tragar a sede daquele banco, mas pouca gente ligava.
Ninguém escapava daquele sedutor. Eram dirigentes políticos, ministros e ex-ministros, parlamentares, influencers, ex-presidente da República, ex-ministro do Supremo, governador de estado. Tudo multipartidário e poli-ideológico. Nada disso era escondido. Tudo público em uma série de confraternizações nas quais se exibia poder e influência. Há muitas fotos, vídeos e imagens desses acontecimentos fantásticos, divulgadas pelos próprios participantes. Jatinhos, motos, paisagens paradisíacas compunham o cenário.
Até mesmo gente que veio do reino da antipolítica, tidos como os mais rebeldes e irascíveis, foi tomada por essa grande empolgação com o querido banqueiro. Num ambiente quimérico, as elites dessas nações viviam numa espécie de bolha de encontros, jantares, discussões – boa parte no exterior – em que todo mundo fingia que o que estava em jogo não tinha nada a ver com a oportunidade de fazer algum negócio e ser dono de parte daquele patrimônio formidável. O buraco só crescia e começava a surgir um leve odor fétido.
Todo mundo parecia saber que tudo aquilo se tratava de uma fissura na qual poderiam cair a qualquer momento. A pestilência crescia. Mas quiseram ajudar. Uma nação até se oferece para, com o dinheiro do imposto dos camponeses, tapar aquele buraco. Mas, na corte, tudo continuava da mesma maneira. Festas nababescas, camarotes de carnaval milionários, tudo bancado pelo dono do dinheiro invisível.
Nesse meio tempo, o jovem empresário já é rei na terra dos negócios, onde comprou o banco, na capital do império, e mesmo em sua terra, onde já se tornou proprietário do mais querido time de futebol. Estava prestes a se tornar ídolo não só dos mais prósperos, mas também das massas. Porém, o buraco crescia de maneira exponencial, assim como o odor.
Finalmente algo não tão inesperado aconteceu. O buraco passou a tragar rapidamente quem estava por perto. Podia tragar nações inteiras. O ar torna-se irrespirável. Após um tempo de discussões e hesitações, as forças punitivas do Estado aparecem. Fecham o banco, aprisionam o jovem banqueiro. “Ah, nós nunca gostamos dele, nunca foi da nossa turma”, disseram em uníssono.
Aqueles que se fingiram iludidos foram atrás de outros proprietários de fortunas fabulosas – participar de seus eventos, suas festas, seus debates – e ignoraram as novas fissuras que surgiam com suas emanações típicas. E, no final das contas, os campesinos tiveram que tampar aquele antigo buraco.
