Vereadora propõe ‘caça’ a imigrantes; ‘Ei, indivíduo, o que você tá fazendo aqui no nosso município’
A vereadora de Porto Velho Sofia Andrade (PL) defende ações da prefeitura para coibir o uso de crianças em semáforos, inclusive, com a “caça” de imigrantes que adotam essa prática. Dona de um espetinho na capital rondoniense, a vereadora propõe uma alternativa à presença de moradores em situação de rua com o envio dessas pessoas para fora da cidade e o condicionamento de que façam cursos profissionalizantes para manter benefícios de políticas públicas. A iniciativa inclui imigrantes venezuelanos.
“Ei, indivíduo, o que você tá fazendo aqui no nosso município? Você tá aqui roubando, matando, fazendo não sei o quê? Tá aqui sua passagem, bota no ônibus e manda pra ponte que caiu, de onde quer que ele tenha saído”, disse a parlamentar à rádio Rede Antena Hits, de Porto Velho, no início de novembro.
Em entrevista ao Estadão, Sofia afirmou que a repercussão negativa da iniciativa se deu por conta da ‘deturpação’ de sua fala. Ela destaca que a saída de imigrantes não ocorrerá compulsoriamente. Seu objetivo, afirma, é ‘garantir a segurança’ de Porto Velho e ‘proteger as crianças que são exploradas como pedintes’. Sofia relembra, ainda, que ações do tipo com menores de idade afrontam a Constituição Federal.

A vereadora disse que a proposta enviada ao Executivo prevê articulação entre a Assistência Social, Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal. Segundo ela, a prática envolve também imigrantes venezuelanos.
Ela apresentou um projeto de lei à Câmara de Porto Velho prevendo que pessoas identificadas explorando crianças deverão ser ‘advertidas e encaminhadas a programas de orientação’.
O texto também prevê comunicação ao Conselho Tutelar e outras autoridades, além da aplicação de sanções previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Seringa
A parlamentar citou aumento de furtos e ameaças atribuídas a pessoas em situação de rua e relatou episódios informados por comerciantes. Entre eles, o caso de um homem que teria entrado em uma loja de Porto Velho portando uma seringa, supostamente infectada com o vírus da Aids, e ameaçado funcionárias. A situação teria sido a gota d’água para a vereadora.
Sofia informou que há mais de 600 pessoas cadastradas pela Assistência Social e que programas já existentes oferecem acolhimento e cursos profissionalizantes.
Ela defende que benefícios sociais sejam condicionados à participação nessas atividades e que a prefeitura avalie empregar parte desse público em funções municipais.
A parlamentar também articula a criação de um programa para custear o retorno de quem deseja voltar à cidade de origem. Afirmou que sua proposta ‘não prevê remoção forçada’ e que o retorno só ocorreria com interesse e comprovação de vínculos.
Sofia disse que o modelo será baseado em uma ação da Prefeitura de Florianópolis, que implementou uma triagem para a chegada de pessoas sem emprego e moradia à capital. A iniciativa catarinense gerou manifestações da Defensoria Pública da União, que recomendou ao Executivo não continuar com a triagem. “Viola direitos fundamentais e é um controle migratório ilegal dentro do território nacional“, sustenta a Defensoria.
Conheça Sofia
Sofia Andrade cumpre seu primeiro mandato como vereadora pelo PL. Aos 35 anos, afirma ser dona de casa, empreendedora e proprietária de um espetinho em Porto Velho.
Ganhou projeção durante a pandemia, quando participou de manifestações contra as restrições impostas ao comércio.
Em 2022, concorreu à Câmara dos Deputados e se tornou suplente da bancada do PL. Em 2024, foi eleita vereadora na capital rondoniense.
