Confissão de Bolsonaro é imagem final melancólica a constranger aliados que alegaram prisão injusta
As imagens mostram um fim de carreira político melancólico de um ex-presidente da República. Nelas, Jair Bolsonaro confessa ter usado um ferro de solda para queimar o case da tornozeleira eletrônica, uma das medidas cautelares para tentar impedir a fuga que outros aliados conseguiram. Sem titubear, o ex-presidente diz ter começado a danificar o equipamento no final da tarde. O vídeo foi gravado na madrugada, quando uma agenda Secretaria de Administração Penitenciária do DF foi verificar o alerta de rompimento do equipamento, mas veio a público na tarde deste sábado. Antes, aliados, inclusive governadores de direita, já tinham vindo a público defendê-lo do que chamavam de “uma prisão injusta”. Sobrou o constrangimento.
Pesou o fato de que a narrativa inicial se deu sob o argumento explicitado na decisão de Moraes de que a vigília convocada por Flávio Bolsonaro motivou a prisão. Os detalhes sobre a tentativa de destruir a tornozeleira pegou todos no contrapé.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, por exemplo, condenou o fato da decisão de “tirar um homem de 70 anos de sua casa, desconsiderando seu grave estado de saúde”. As imagens mostram que Bolsonaro é quem mais queria sair de casa, ficando livre do monitoramento.

Ratinho Jr., do Paraná, reclamou de “insensibilidade do Judicário” Romeu Zema, de Minas Gerais, disse que “afastaram Jair Bolsonaro do convívio da família, de forma arbitrária e vergonhosa para nossa história”. Seguiram na linha Jorginho Mello e Cláudio Castro, este pedindo “um mínimo de deferência” para aquele que manejava o ferro de solda.
Até os mais astutos, como Gilberto Kassab ou Arthur Lira caíram na arapuca. Kassab registrou “incompreensão por medida jurícia tão severa e injusta”. Lira disse que a decisão “Não se justifica”.
Aliados descobriram, da pior forma, que novamente foram usados pela família Bolsonaro. Certamente os que estavam próximos do ex-presidente sabiam o que ele fez. Ninguém contou. Pediu solidariedade sustentando a narrativa de que tudo não passava de perseguição para impedir a manifestação dos aliados diante do condomínio, o que acabou sendo incentivado pela falta de clareza da decisão de Moraes. Agora, surpreendidos, vão ter que arcar com o desgaste do apoio, involuntário ou não, a mais um ilícito do ex-presidente.
