Crise de Lula e Alcolumbre dá novo fôlego para Câmara tentar pena menor a Bolsonaro
Os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitam a crise do governo com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para dar fôlego ao projeto que reduz o tempo de pena dos condenados pelos atos golpistas. A medida tem apoio na Câmara, mas os deputados temiam votar, arcar com o ônus da pauta polêmica e ver a matéria empacada com os senadores. Agora acham que pode andar, com a insatisfação de Alcolumbre com a escolha do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), demonstrou estar disposto a encampar o projeto da dosimetria. O relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), também está otimista. A ideia é votar a proposta no plenário na semana que vem se Alcolumbre for convencido a dar apoio ao texto para mandar recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Se for para votação nos próximos dias, a discussão do projeto deve coincidir com a decretação pelo STF da prisão de Bolsonaro em regime fechado, após o fim dos recursos à condenação. O ex-presidente foi sentenciado a 27 anos e 3 meses de detenção. Com a aprovação da dosimetria, que fundiria em um só os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, essa pena poderia ser reduzida em ao menos 7 anos.
Foram várias tentativas de votar a dosimetria no Congresso. Em setembro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), chegou a entrar em campo, em Brasília, para pressionar os deputados e senadores a favor a proposta. O próprio Lula, como revelou a Coluna do Estadão, passou a defender que o governo apoiasse a proposta, desde que não houvesse anistia completa a Bolsonaro. A polêmica da PEC da Blindagem, contudo, fez Alcolumbre recuar e evitar apoio a qualquer iniciativa da oposição.
Agora, com o senador mandando sinais ao governo de que ficou contrariado com o anúncio de Messias para o STF, em vez do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), os bolsonaristas veem uma oportunidade de, pela primeira vez, ter Alcolumbre como aliado.

