Prisão antecipada de Bolsonaro alimenta narrativa de perseguição e liquida chance de domiciliar
A decisão do ministro Alexandre de Moraes de mandar prender preventivamente o ex-presidente Jair Bolsonaro às vésperas do fim do prazo de recurso e do consequente trânsito em julgado da decisão final coloca mais lenha na fogueira da narrativa bolsonarista de perseguição e de que o julgamento da trama golpista seguem rumos atípicos. E torna remota a chance de uma prisão domiciliar na hora de cumprir a pena.
A conveniência ou necessidade da prisão preventiva porém, longe das narrativas, só será dada se houver clareza sobre o que Moraes chamou de “ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico” de Bolsonaro às 0h08 do dia 22 de novembro de 2025. Que violação seria essa? Quando foi preso, ele estava com a tornozeleira ou tinha tirado? Há outros elementos, além deste relato genérico que está na decisão, que reforçam isso?

Por diversas vezes já abordei aqui mesmo nesta coluna que Bolsonaro dava indicativos de que tinha intenção de fugir. O caso da embaixada da Hungria exemplifica muito bem, assim como a ida para os Estados Unidos na véspera da posse de Lula, quando relatava medo de prisão, e os diversos discursos nesse sentido, dizendo que não aceitaria uma detenção. E a postura de seus aliados, como Carla Zambelli e Alexandre Ramagem, contribui bastante com o aviso de que era de fato preciso ter cuidado.
Contudo, em princípio, misturar a vigília convocada para o dia 22 à frente do condomínio de Bolsonaro com uma prisão preventiva parece excesso de cautela. Afinal, trata-se de um condomínio fechado e o ex-presidente está em uma casa cercada por agentes de segurança pública colocados lá para impedir sua fuga. Como ele conseguiria passar por eles, considerando que os manifestantes estão do lado de fora do condomínio?
Além do mais, se o objetivo fosse usar a manifestação convocada por Flávio Bolsonaro como tumulto para fugir, o lapso temporal entre uma coisa e outra parece longo demais. Se a manifestação está convocada para as 19h deste sábado, por qual motivo ele tentaria romper a tornozeleira às 0h08 do mesmo dia, dando tempo de reação às autoridades. A decisão não consegue conectar bem as duas coisas, sendo necessário esperar se o relatório da operação que cumpriu a decisão pode nos dar novos elementos.
Ironicamente, porém, a decisão de Moraes realiza, pelo menos momentaneamente, um pequeno desejo de Bolsonaro, que era não ser levado diretamente para a Papuda. Em princípio, o ex-presidente ficará detido na Polícia Federal com assistência médica em tempo integral, o que pode ser suficiente para que comprove estar ou não em condições de ir para uma cela no sistema prisional.
Mas qualquer sinal de efeito positivo para ele se encerra por aí. Primeiro, pelo fato de isso pode mudar rapidamente com a decisão sobre o transito em julgado e o cumprimento da pena. Segundo, e mais importante, pelo fato de que Moraes explicitou a convicção de que ele tentava fugir, o que afasta qualquer hipótese de que uma prisão domiciliar seja concedida em curto prazo. Se a saúde de Bolsonaro não permitir que ele fique detido, a essa altura, o destino seria um hospital, e não a casa em que queria ficar e de onde, segundo Moraes, ele pretendia fugir.
