Baiano de coração: Jimmy Cliff morou em Salvador, colaborou com Olodum e torcia para o Bahia
A distância em km não impediu o jamaicano Jimmy Cliff, ícone do reggae, que faleceu nesta segunda-feira (24), de se conectar com Salvador.
Aproximadamente 5.480km separam Kingston, capital da Jamaica, da capital baiana, mas a sensação de pertencimento do artista com a 1ª capital do Brasil foi tanta, que Salvador se tornou casa para o astro.
Considerado um dos pioneiros do reggae e responsável por levar o gênero ao cenário internacional, o artista, que recebeu dois Grammy com os álbuns Cliff Hanger (1985) e Rebirth (2012), criou uma ponte entre a Jamaica e a Bahia.
Foto: Arquivo Pessoal
A primeira passagem de Jimmy pela Bahia aconteceu no final dos anos 70 e já de cara, o artista se encantou pelo estado, voltando na década de 80, quando escolheu Gilberto Gil para abrir todos os shows que realizou no país, e em Salvador, o jamaicano se apresentou para um público de 60 mil pessoas.
Nos anos 90, Jimmy Cliff se debruçou sobre a música baiana e estreitou relações com o Olodum. O artista se apresentou no Festival de Música e Arte Olodum (Femadum), gravou partes do álbum ‘Breakout’, de 1992, na Bahia.
Por meio das redes sociais, o grupo se pronunciou sobre a morte do artista.
“Jimmy Cliff deixou um legado de diálogo entre povos, defesa da paz, valorização das raízes e afirmação cultural. Sua trajetória também marcou a Bahia e especialmente o Olodum, já que tivemos o privilégio de gravar com ele duas músicas, Reggae Odoya e Woman No Cry, nos anos 90. Expressamos nossa solidariedade à família, aos amigos e aos admiradores deste grande mestre. Sua arte seguirá inspirando gerações.”
Ver essa foto no Instagram
Uma publicação compartilhada por OLODUM (@olodum_oficial)
Além do grupo percussivo, o artista gravou com Araketu e fez questão de levar a música de Lazzo Matumbi para o mundo ao participar do álbum ‘Kindala’, de Margareth Menezes cantando ‘Me Abraça e Me Beija’. A artista também compartilhou um depoimento na web sobre Jimmy.
“Tive a oportunidade de conviver com Jimmy quando ele veio morar na Bahia. Na época estava gravando meu disco “Kindala”, e compartilhamos momentos musicais inesquecíveis. Com ele gravei “Me Abraça e Me Beija”, composição de Gileno Felix e do querido Lazzo Matumbi. Na Bahia, ficou, casou e teve uma filha, Nabiyah Be, com quem convivi e tenho muito carinho. Uma referência na música, com um legado imenso sobre valorização das nossas raízes e afirmação cultural. A vida segue o seu caminho e as memórias que tenho com ele seguirão em mim. Para sempre, Jimmy Cliff!.”
Ver essa foto no Instagram
Uma publicação compartilhada por Margareth Menezes (@margarethmenezes)
Margareth, inclusive, foi a pessoa responsável por apresentar Jimmy a artista visual brasileira Sônia Gomes, com quem ele teve Nabiyah. A história foi contada por ela em um podcast.
“A Margareth Menezes apresentou meus pais e eles se conheceram em uma cerimônia de ayahuasca na praia, em Salvador. Sou fruto dessa união sagrada. Minha mãe, engravida do meu pai, decide não criar uma filha negra em São Paulo e migra para Salvador… [Jimmy] morou conosco até os meus 9, 11 anos por aí.”
Outra grande ligação do artista com a Bahia se dá através do futebol. Além do show na Fonte Nova, o artista assistiu a uma rodada dupla no estádio em 1991, e viu o Bahia enfrentar o Atlético Paranaense e o Vitória jogar contra o Sport.
Ver essa foto no Instagram
Uma publicação compartilhada por Esporte Clube Bahia (@ecbahia)
Na época, o artista não acompanhava o espote e foi levado para um amigo, mas pouco tempo depois, surgiu vestindo com orgulho a camisa do Bahia. Nas redes sociais, o Esquadrão compartilhou uma homenagem para o cantor.
“Com grande pesar, o Esquadrão lamenta o falecimento do jamaicano-tricolor @jimmycliff, um dos maiores reggaemans da história, que abraçou nosso clube após inúmeras vindas a Salvador. Pai da cantora baiana @nabiyahbe, homenageada pelo Bahêa na campanha #BahiaDasArtes em agosto. Descanse em paz, mestre.”
Jimmy também foi homenageado pela banda Ara Ketu, com quem gravou a música ‘Samba Reggae’.
Ver essa foto no Instagram
Uma publicação compartilhada por Ara Ketu (@araketu)
“Hoje homenageamos Jimmy Cliff, um gigante que marcou para sempre a música baiana. Em 1992, sua passagem pela Bahia e a gravação de “Samba Reggae” deram ao Ara Ketu sua primeira projeção internacional — um gesto generoso que ecoa até hoje em cada batida da nossa música. Recebemos com tristeza sua partida, mas seu legado vive em cada tambor, em cada voz, em cada ponte que une Jamaica e Bahia.”
O cantor faleceu aos 81 anos. De acordo com a esposa do artista, Latifa, o cantor sofreu uma convulsão seguida de pneumonia. Jimmy deixa outros dois filhos com Latifa, Aken e Lilty, além de Nabiyah Be.
