24 de novembro de 2025
Politica

‘Não apoiaremos candidatura da família Bolsonaro nem Lula em 2026’, diz Aécio Neves

O deputado federal Aécio Neves (MG) voltará à presidência nacional do PSDB na próxima quinta-feira, 27, após ser eleito, em chapa única, pelo diretório nacional do partido. Ele substituirá Marconi Perillo, que passará a dirigir o Instituto Teotônio Vilela.

A sigla foi praticamente dizimada nos últimos anos, numa sequência de intrigas internas e perdas de seus quadros mais expressivos. Não tem, por exemplo, mais nenhum governador. Nas eleições gerais de 2022 nem sequer teve candidato presidencial, fato classificado por Aécio como “grande equívoco”. Agora, ele diz que o ambiente está pacificado e o projeto eleitoral, claro: eleger 30 deputados federais, superar as cláusulas de desempenho e chegar forte a 2030.

“Vamos fazer o PSDB ganhar musculatura para voltar a falar grosso na política. Estou animado para colocar o PSDB no mapa político brasileiro, numa avenida de centro. Muitos acharam que íamos acabar. Mas ainda vão ter que nos aturar”, afirmou em entrevista à Coluna do Estadão.

O partido não terá candidato ao Planalto e tem dois vetos definidos. ‘Não apoiaremos candidatura da família Bolsonaro nem Lula em 2026’, ressaltou. Para ele, o importante é preparar o PSDB para depois das próximas eleições.

Nesta entrevista exclusiva, ele também fala dos danos que a polarização radicalizada tem causado para o País, reforça a oposição ao PT e do cenário político em Minas Gerais.

Confira os principais trechos da entrevista

PSDB pacificado

O partido está absolutamente pacificado, e eu fui convocado por todos para assumir a presidência. Já está tudo ajustado, não tem nem outra chapa. O nosso desafio é recolocar o PSDB no protagonismo da política nacional, o que é muito necessário. A questão de quinta-feira é uma formalidade.

Polarização política

Essa polarização radicalizada sequestrou uma das maiores virtudes que o Brasil tinha, que era a capacidade de diálogo entre as partes, como o PSDB fez a vida inteira. Tenho dito que vamos radicalizar no centro. Somos oposição ao PT, a essa paralisia do governo. E, ao mesmo tempo que nós somos oposição ao que o PT pensa de gestão pública, de política externa, de apreço real à democracia, nós não nos identificamos com a pauta bolsonarista. Nós queremos voltar a dar ao Brasil a oportunidade de votar sim, porque hoje, pelo menos metade do brasileiro vota não. Vota não ao que o lulismo representa, então escolhe o bolsonarismo. Tem horror ao bolsonarismo, escolhe o lulismo. Mas eles não são nenhuma coisa nem outra. O Brasil real, o Brasil que elegeu o Fernando Henrique, que apoiou todas aquelas reformas, o Brasil que quase me elegeu em 2014, não está representado por nenhum desses campos. O PSDB, com todos os seus problemas, tem umaum ativo político importante: Nós não sucumbimos, não nos curvamos nem às benesses e aos favores do governo do Bolsonaro e muito menos do governo do Lula.

Encolhimento do PSDB

Perdemos musculatura. Vamos dizer que nós fizemos uma lipoaspiração e voltaremos mais vigorosos e fortes do que antes. Nós vamos apresentar ao Brasil um projeto diferente desse representado pelos extremos. Eu diria que somos uma ilha programática num oceano de pragmatismo que tomou conta dos partidos políticos, que se fortalecem, ganham musculatura atrás de fundo eleitoral e de cargos públicos para ganhar mais fundo eleitoral e mais cargo público para, no final, apoiar quem ganhar as eleições.

Projeto para 2026

Não é o nosso projeto, por enquanto, ter uma candidatura presidencial. Nosso projeto é fazermos 30 deputados, voltarmos a ter relevância em estados onde perdemos muita força. Vamos fazer o PSDB ganhar musculatura para voltar a falar grosso. Muitos acharam que íamos acabar. Ainda vão ter que nos aturar. Temos pesquisa mostrando que o PSDB ainda está vivo na memória de muita gente. É uma retomada, é uma reconstrução que tem que ser feita passo a passo, mas com muita determinação. Só por isso eu estou assumindo a presidência do partido. Para fazer com que ele supere as cláusulas de desempenho e para apresentar um projeto para o Brasil pós-2026.

A política brasileira é muito personalizada, para não dizer personalista. Historicamente, ela é construída em cima de nomes, não de partidos. Desde Getúlio Vargas, aí passa Juscelino, o próprio Fernando Henrique. O Lula talvez seja hoje o mais bem acabado modelo dessa coisa personalizada. E tem o Bolsonaro, por outro lado. Essa é a realidade.

A partir de 2026, independente do resultado, mesmo que Lula ganhe a eleição, já não é um agente para o futuro. Não é um protagonista para a construção futura. Então, a ausência dessas figuras que polarizaram a política brasileira na última década, no ativismo, já reabre, já alarga essa avenida do Centro. Nós temos que fazer com que o PSDB esteja pronto para ocupar o seu espaço nessa avenida.

Chance de eventual aliança com Lula

Não existe essa possibilidade por uma questão conceitual nossa, cultural. Nós temos uma divergência extremamente profunda com o PT, que conduziu a política brasileira, essa polarização, durante muito tempo. Só que ela não era uma polarização burra, era uma polarização que permitiu diálogo, que nos permitia conversar sobre vários temas. Mas o nosso DNA, a nossa base, a nossa origem era a oposição ao PT. O que não significa que ela seja bolsonarista, porque o Brasil, infelizmente, começou de uns anos para cá a enxergar quem não é.

Possibilidade de aliança em chapa presidencial encabeçada pela família Bolsonaro

Não há. Aí pode até ser que o PSDB, quem sabe, nem que seja para marcar a posição, coloque nome na disputa. Mas pode ser que venha uma candidatura de centro, mais próxima ao centro, que nós vamos ter que discutir internamente. Sendo muito claro, nós estaremos na oposição ao PT, mas não significa que estaremos aliados ao bolsonarismo. Da mesma forma que nós não estaremos com a candidatura do PT, com o Lula, nós não estaremos também com uma candidatura familiar (de Bolsonaro).

Indefinição de sucessor de Bolsonaro

Esse atraso na construção de um caminho ao centro é muito ruim e nos atrasa também. É muito difícil. Quanto mais demora, mais dificuldades essa candidatura vai ter de ter êxito.

O PSDB agora vai ter uma agenda para o Brasil. Nós vamos definir nossos quatro, cinco temas fundamentais e vamos martelá-los, Brasil afora. Eles vão estar na campanha dos nossos deputados. E acho que nós voltamos ao jogo a partir de 26. Pelo menos é o que eu vou me dedicar a fazer, tá bom?

PT e a defesa da democracia

Esse discurso democrático do PT, se a gente for passear na história, não é bem assim. Esse apreço é muito circunstancial também. Veja as alianças externas deles, veja os posicionamentos políticos que tiveram lá atrás, quando votamos a Constituição, na eleição de Tancredo Neves. Então eu vejo com muita reserva esse discurso muito democrático do PT. Democratas somos nós. Nós vamos defender o nosso legado.

Disputa ao governo de Minas Gerais

Ainda não sei. Eu não tenho uma disposição enorme de voltar a disputar o governo de Minas. Eu estou hoje focado nessa coisa nacional. O quadro de Minas está muito confuso, muito pobre, né? Eu não disputarei eleição para deputado. Já passei minhas bases todas para frente. Eu estou avaliando o quadro. Já foi governador duas vezes, ainda teve o governo Anastasia. Nós estamos tentando construir uma candidatura mais ao centro lá. Vamos ver o que a gente consegue.

O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG)
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG)

 

 

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