New York Times: Brasil desafiou Trump e venceu
“É uma pena.”
Foi uma resposta reveladora do presidente Donald Trump no sábado, 22, quando soube pelos repórteres que o seu antigo aliado próximo, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, tinha acabado de ser preso.
Ele tinha alguma opinião?
“Não”, respondeu Trump. “Acho apenas que é uma pena.”

Que diferença fazem alguns meses. Em julho, Trump enviou uma carta irada ao atual presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, exigindo que as autoridades retirassem as acusações de que Bolsonaro teria tentado um golpe.
Trump impôs tarifas de 50% sobre as importações brasileiras e sanções a um ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro para tentar manter Bolsonaro — um político de direita por vezes chamado de Trump dos Trópicos — fora da prisão.
Cinco meses depois, Trump praticamente admitiu a derrota.
Bolsonaro, de 70 anos, está numa cela de prisão, preste a iniciar cumprimento de uma sentença de 27 anos. E Trump — após um encontro amigável com Lula — acabou de remover as tarifas mais significativas contra o Brasil.
O resultado destaca o contraste impressionante nos destinos de Trump e Bolsonaro depois de cada um ter tentado agarrar-se ao poder após perder uma eleição.
É também um exemplo gritante dos limites da capacidade de Trump de dobrar governos estrangeiros à sua vontade e da sua disposição em abandonar aliados e tomar o partido de um rival quando considera que isso lhe é vantajoso.
A sua intervenção no Brasil foi uma tentativa extraordinária de influenciar o caso legal mais importante de um aliado em décadas, usando algumas das ferramentas mais fortes ao seu dispor. Mas as instituições brasileiras essencialmente o ignoraram. A aparente capitulação de Trump mostra que os seus esforços foram basicamente em vão.
Pode-se mesmo argumentar que tiveram o efeito oposto. As tarifas brasileiras aumentaram os preços nos Estados Unidos da carne bovina, café e outros produtos, no momento em que a Casa Branca enfrenta crescente pressão para aliviar os preços para os americanos. Lula — um líder da esquerda latino-americana — saiu da contenda com Washington ainda mais forte politicamente do que quando entrou.
Muitos analistas dizem acreditar que o Supremo Tribunal brasileiro deu a Bolsonaro uma pena mais longa devido à intervenção de Trump. E o filho de Bolsonaro, Eduardo — um dos membros mais proeminentes do Congresso no Brasil e potencial sucessor político do seu pai — está agora a enfrentar as suas próprias acusações criminais pelos seus esforços para fazer lobby na Casa Branca sobre o caso.
Quando Trump interveio, Bolsonaro era visto como um grande vencedor. Agora está claro que ninguém envolvido perdeu mais.
Bolsonaro foi inesperadamente preso no sábado, depois de as autoridades terem recebido um alerta de que ele tinha violado a tornozeleira eletrónica que usava em prisão domiciliária. (Ele ainda está a esgotar os recursos.) Bolsonaro disse à polícia que tinha tentado queimar o dispositivo com um ferro de soldar. Mais tarde, culpou a sua medicação por o fazer alucinar.
Alexandre de Moraes, o ministro do Supremo Tribunal Federal que supervisiona o caso, ordenou a prisão de Bolsonaro por considerá-lo um risco de fuga, observando que Bolsonaro vivia perto da Embaixada dos EUA, onde poderia ter procurado asilo. (O The New York Times revelou que Bolsonaro dormiu na Embaixada Húngara no ano passado numa aparente tentativa de asilo.)
Após a condenação de Bolsonaro, as autoridades dos EUA prometeram represálias. Mas isso nunca aconteceu.
Em vez disso, Trump começou um relacionamento com o adversário de Bolsonaro, o presidente Lula.
No seu discurso nas Nações Unidas em setembro, Trump falou de improviso sobre as observações preparadas que criticavam a acusação de Bolsonaro, dizendo que ele e Lula tiveram uma “grande química” quando se encontraram momentos antes.
Um mês depois, Trump e Lula sentaram-se para conversações. Antes da reunião, um repórter perguntou a Trump sobre Bolsonaro. “Sempre pensei que ele fosse honesto, mas…”, respondeu Trump, deixando a frase no ar. “Ele passou por muita coisa.”
Após a reunião, Trump mencionou apenas Lula: “Ele é um tipo muito vigoroso, na verdade. Fiquei muito impressionado”, disse. Em seguida, desejou um feliz aniversário ao presidente brasileiro, que completou 80 anos no dia do encontro. Lula procura um quarto mandato no próximo ano.
Na quinta-feira, Trump assinou uma ordem executiva removendo as tarifas mais significativas que impôs para proteger Bolsonaro, incluindo as sobre a carne bovina e o café brasileiros, citando progressos nas negociações com Lula. Os preços da carne bovina e do café subiram acentuadamente nos Estados Unidos.
Como parte das negociações, os analistas esperam que Washington procure maior acesso aos stocks brasileiros de minerais críticos, incluindo metais de terras raras. A administração Trump fez disso parte dos acordos com outros países latino-americanos.
Ainda assim, Washington não levantou as sanções contra o Ministro Moraes, o juiz que é relator do processo de Bolsonaro. As táticas agressivas do juiz para processar o ex-presidente e seus aliados — incluindo ordenar que as redes sociais banissem pessoas com pouca margem para recurso — levantaram preocupações sobre se elas representavam a sua própria ameaça democrática.
No domingo, Lula foi questionado sobre a reação de Trump à prisão de Bolsonaro. Lula desvalorizou-a: “Trump precisa de entender que somos um País soberano.”
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