25 de novembro de 2025
Politica

Vigílias e ministros ‘terrivelmente evangélicos’ não convertem ninguém nem mudam votos

Quando o presidente Lula indica Jorge Messias para o Supremo e o senador Flávio Bolsonaro convoca uma “vigília de oração” em apoio ao pai, a um ano das eleições, eles escancaram o quanto os líderes políticos e candidatos estão cada vez mais “terrivelmente evangélicos”, numa competição que tem pouco a ver com religião e muito com votos.

Como se sabe, Messias ganhou as bênçãos de Lula por ter apoio do PT e do Planalto e lealdade inquestionável ao atual presidente. Mas não foi à toa que Lula, sem dizer isso, deixou clara a escolha de Messias numa roda de orações com pastores no Planalto, onde o único convidado do governo foi o ungido para o STF.

Vigília convocada por Flávio Bolsonaro contou com pouco público em Brasília
Vigília convocada por Flávio Bolsonaro contou com pouco público em Brasília

Lula, porém, chegou atrasado nessa disputa que mete Deus no meio da política. Foi-se o tempo da aliança da Igreja Católica com a esquerda, enquanto Jair Bolsonaro vislumbrou bem antes o valor eleitoral dos evangélicos e leva vantagem nesse segmento, que ajudou a empurrar para a extrema direita. Ao decidir disputar a Presidência em 2018, sua primeira providência foi se batizar evangélico.

Com três requintes: o batismo foi, nada mais, nada menos, no Rio Jordão, a viagem a Israel foi a terceira ao exterior feita pelo então deputado em toda sua vida e quem o batizou foi o Pastor Everaldo, que já tinha sido anticandidato à Presidência e tempos depois foi preso por corrupção. A encenação colou e os votos se multiplicaram.

Foi uma aposta visionária e tem o reforço de Michele Bolsonaro, uma devota fiel. Os evangélicos foram decisivos para a vitória de Bolsonaro em 2018, saltaram para 27% da população em 2022 e são maciçamente bolsonaristas.

Já os católicos continuam sendo majoritários no Brasil, mas recuaram de 65% para 57% da população e têm uma diferença fundamental na complexa seara politico-eleitoral. Enquanto os evangélicos são assíduos nos cultos, nas pregações por internet, rádio e TV e formam um poderoso bloco bolsonarista, os católicos são mais difusos, anunciam-se como católicos, mas não praticam e cada um vota de um jeito. Nesse segmento, tem gosto para tudo.

Em meados de 2025, só 30% dos evangélicos aprovavam o governo Lula, contra 66% que desaprovavam – 13 pontos a mais que os católicos, que praticamente se dividem ao meio. Logo, além capturar os evangélicos, Lula precisa ficar atento para não perder os católicos.

Assim como a “vigília de oração” convocada por Flávio foi um fiasco de público, não revigorou o bolsonarismo e, ainda por cima, ajudou a empurrar Jair Bolsonaro para a prisão preventiva, a escolha de Jorge Messias para o STF pode ter sido um tiro n’água, ou no pé de Lula.

É provável que os evangélicos não estejam dando muita bola, é difícil imaginar uma dupla do petista Messias com o bolsonarista André Mendonça e, para piorar, Lula, que já não tinha a Câmara, agora também não tem o Senado.

Os votos evangélicos têm peso, mas não é com vigílias que Bolsonaro vai recuperar força política, nem com um ministro a mais no STF que Lula vai converter os votos evangélicos em lulistas. Aliás, para onde vai o eleitorado evangélico? Para a esquerda não será.

 

 

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