Lula ou Alcolumbre, um deles será humilhado no caso Messias
Ao contrário de certas versões apaziguadoras sobre a nossa história, nem sempre a disputa política no Brasil é marcada por acordos e conchavos. Muitas vezes, desentendimentos avançam para uma luta política fratricida que deixa vítimas pelo caminho. Em alguns casos, mais extremos, quem perde a peleja costuma se vingar. A disputa entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula Silva, e o do Congresso, Davi Alcolumbre, no imbróglio envolvendo o advogado-geral da União, Jorge Messias, na vaga do Supremo Tribunal Federal, aparenta ser um desses exemplos.
A história atingiu tal paroxismo que, em algum momento breve, alguém vai perder feio. Mesmo que cheguem a algum entendimento público, sobrará para um dos licitantes o gosto amargo da derrota. Se, eventualmente, Lula desistir de indicar Messias em nome de uma conciliação mais ampla, ele será o derrotado. Caso Alcolumbre ceda e aceite Messias, ficará inevitavelmente desmoralizado. Se o Senado não aprovar Messias, rompe-se uma tradição centenária. Se aprovar, humilha o próprio chefe.

Temos, portanto, uma crise que se acompanha com pipoca na mão, caso não ligássemos para os destinos do País (não é o caso). Infelizmente, essa história é apenas um sintoma de certa desmoralização da liturgia de sugerir nomes para o Supremo – em tese, um processo conjunto entre a Presidência e o Senado. Na cabeça de Lula, o importante é colocar alguém que lhe seja fiel. Questões como notório saber jurídico ou demandas de minorias estão em terceiro ou quarto plano. Talvez o mesmo pensamento esteja na cabeça de Alcolumbre.
Na atual conjuntura, o poder visível do governo para prejudicar o Senado está mais em ativar um bombardeio nas redes sociais, nos moldes de “Congresso inimigo do povo” e, quem sabe, conquistar a opinião pública. Há também um poder “invisível” que podemos ver os reflexos em algum momento. O Parlamento tem armas mais concretas nessa batalha – como pautas-bombas, e impedir o avanço de qualquer agenda legislativa do governo. O irônico é que, até a indicação de Messias, o Palácio do Planalto considerava que o foco de resistência à sua gestão estava na Câmara, e não no Senado.
Alcolumbre era tido como um parceiro confiável. Mas agora o presidente do Senado se sente traído. “Ajudou tanto” para não ter recompensas e se tornou o inimigo da vez. Por meio de uma nota, se mostrou indignado com insinuações de que exige, como moeda de troca para atender o governo, a direção de bancos estatais e autarquias. Lula considera que o STF é algo sensível demais até para ceder ao principal esteio de governabilidade no Legislativo. Enfim, se você não liga para os destinos do País, pode colocar o milho de pipoca no forno e acompanhar o desfecho desta história, no curto, médio e longo prazo.
