1 de dezembro de 2025
Politica

Refit: anotações na janela sobre deputado e nomes do PCC são do ‘setor de diligências’ do grupo

Maior devedor de ICMS de São Paulo e um dos maiores do País, o Grupo Refit informou nesta segunda, 1, que apontamentos escritos na vidraça de uma janela de seu escritório na Cinelândia, no Rio, foram lançados ali pelo ‘setor de diligências’ da refinaria ‘responsável por mapear, de forma preventiva, o histórico de distribuidores e redes de postos de combustíveis do mercado’. Usada como uma espécie de lousa, a janela abrigava nomes como o do deputado federal Dal Barreto (União-BA), além da Rede Dal, uma empresa ligada ao parlamentar. Além de referências a ‘Beto Louco’ e ‘Primo’, supostos integrantes do PCC, segundo o Ministério Público.

A descoberta da vidraça ocorreu na quinta, 27, durante a Operação Poço de Lobato, investigação da Promotoria de São Paulo que mira a Refit e seu controlador, o empresário Ricardo Magro. As informações sobre os nomes anotados na janela da refinaria foram divulgadas com exclusividade pelo jornalista Otávio Guedes, da Globo News, e confirmadas pelo Estadão.

Na janela, tópico 'pendências' elenca termos como 'profile dos parlamentares', 'dashboard do crime' e 'mapeamento do judicário' (imagens obtidas pelo Blog do Otávio Guedes)
Na janela, tópico ‘pendências’ elenca termos como ‘profile dos parlamentares’, ‘dashboard do crime’ e ‘mapeamento do judicário’ (imagens obtidas pelo Blog do Otávio Guedes)

Outros nomes que aparecem na ‘lousa’ da Refit são os de ‘Beto Louco’ e ‘Primo’, apontados como supostos integrantes do PCC e alvos de uma outra emblemática Operação, batizada Carbono Oculto.

Deflagrada em agosto, a Carbono Oculto – missão da Promotoria e da Polícia Federal em São Paulo – atingiu a Avenida Faria Lima onde tentáculos do crime organizado teriam instalado suas bases na economia formal do País por meio de investidores, corretoras e fundos.

‘Beto Louco’ e ‘Primo’ são os empresários Roberto Augusto Leme da Silva e Mohamad Hussein Mourad. A defesa nega que eles tenham ligação com o PCC, mas o Estadão apurou que ambos acenam com a possibilidade de fecharem um acordo de delação premiada.

O nome do parlamentar aparece ao lado de uma referência à Operação Overclean, investigação da Polícia Federal conduzida pelo ministro Kássio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, que alcançou Barreto e um esquema de fraudes em licitações, desvios de emendas parlamentares e lavagem de dinheiro.

Lousa abrigava nomes como o do deputado federal Dal Barreto (União-BA), além da Rede Dal, uma empresa ligada ao parlamentar
Lousa abrigava nomes como o do deputado federal Dal Barreto (União-BA), além da Rede Dal, uma empresa ligada ao parlamentar

Durante a sexta fase da Overclean, agentes da PF apreenderam o celular de Barreto e cumpriram mandados em uma mansão e em um posto de combustíveis ligados ao parlamentar, ambos em Amargosa (BA), sua base eleitoral.

Nesta segunda, 1, a refinaria divulgou nota em que afirma que os dizeres em caneta permanente na janela de vidro é uma ‘prática realizada frequentemente com o intuito de evitar que a Refit estabeleça relações comerciais com empresas envolvidas com facções criminosas e com práticas ilícitas, como adulteração de combustíveis’.

Em nota, o deputado afirmou que as anotações da Refit não guardam ‘qualquer relação com sua atuação parlamentar e empresarial.

“Não possuo qualquer vínculo com a empresa, nunca mantive diálogo ou tratativa com seus representantes e não conheço o seu proprietário. Como a própria Polícia Federal suspeita e está apurando, a imagem com os nomes escritos na janela deve significar uma questão de estudo de concorrência, afinal de contas, além de político eu sou também um empresário no ramo de combustíveis”, completou o deputado. (leia a íntegra da manifestação abaixo)

Anotações listavam distribuidoras, transportadoras, refinarias e autoridades
Anotações listavam distribuidoras, transportadoras, refinarias e autoridades

Mapeamento

As imagens das janelas, obtidas pelo Blog do Octávio Guedes, listam distribuidoras, transportadoras, refinarias e autoridades.

Em um quadro, o tópico ‘pendências’ elenca termos como ‘profile dos parlamentares’, ‘dashboard do crime’, ‘mapeamento do judicário’, ‘mapeamento das procuradorias estaduais’ e ‘mapeamento dos ministérios’.

A Refit afirma que ‘monitora o percurso de todo combustível produzido em sua refinaria, desde o momento de transferência dos tanques de armazenamento até o destino final, nas bombas de combustível’. Segundo a empresa, ‘isso impede o abastecimento de postos que integram a lista restritiva interna da companhia’. (leia a íntegra da manifestação abaixo)

‘Beto Louco’

Em uma das janelas, a lista intitulada “M.E.” chamou a atenção dos investigadores. Entre as dez alcunhas anotadas, dois nomes se destacavam. O primeiro e o sétimo, escritos em caneta azul, faziam referência a Mohamad Hussein Mourad, o ‘Primo’, e a ‘Beto Louco.

Esmeraldas e milhões em espécie

Durante as diligências na última quinta, 27, mais de R$ 2 milhões em espécie e pedras preciosas foram apreendidos.

Esmeraldas apreendias na Operação Poço de Lobato
Esmeraldas apreendias na Operação Poço de Lobato

Sobre as buscas, a Refit afirmou que ‘não tem qualquer vínculo com os mais de R$ 2 milhões em espécie, nem são de sua propriedade as pedras preciosas divulgadas durante a Operação Poço de Lobato’.

“Os valores em dinheiro e os sacos de esmeralda apresentados pelas autoridades não foram encontrados em nenhum dos endereços vinculados à companhia.”

A investigação aponta que o Grupo Refit, comandado pelo empresário Ricardo Magro, montou um esquema complexo de sonegação e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.

As fraudes alcançariam toda a cadeia comercial, da importação à distribuição, segundo as autoridades, e teriam causado um prejuízo de mais de R$ 26 bilhões aos cofres públicos.

Empresas de fachada teriam sido criadas em nome de laranjas para burlar o recolhimento de impostos. O dinheiro obtido era remetido a fundos de investimento e depois a offshores no exterior.

O Ministério Público de São Paulo vai analisar o material apreendido para reconstituir toda a rede de pessoas físicas e jurídicas envolvidas nas fraudes. Mais de 100 empresas já estão sob suspeita no inquérito.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO FEDERAL DAL BARRETO

Informo à população que meu nome ter aparecido em uma anotação na janela do escritório da refinaria de petróleo Refit, situada no Rio de Janeiro, não guarda qualquer relação com minha atuação parlamentar e empresarial.

Não possuo qualquer vínculo com a empresa, nunca mantive diálogo ou tratativa com seus representantes e não conheço o seu proprietário. Como a própria Polícia Federal suspeita e está apurando, a imagem com os nomes escritos na janela deve significar uma questão de estudo de concorrência, afinal de contas, além de político eu sou também um empresário no ramo de combustíveis.

Dessa forma, mais uma vez, venho a público reafirmar meu compromisso com a transparência e dizer que coloco-me à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos necessários. Confio no trabalho das instituições e sigo dedicado integralmente à minha missão como deputado federal.

COM A PALAVRA, O GRUPO REFIT

A Refit esclarece que não tem qualquer vínculo com os mais de R$ 2 milhões em espécie, nem são de sua propriedade as pedras preciosas divulgadas durante a Operação Poço de Lobato. Os valores em dinheiro e os sacos de esmeralda apresentados pelas autoridades não foram encontrados em nenhum dos endereços vinculados à companhia.

Com relação às anotações encontradas em uma janela de vidro em um dos escritórios no Rio de Janeiro, trata-se de um trabalho do setor de diligência da refinaria, dedicado a mapear, de forma preventiva, o histórico de distribuidores e redes de postos de combustíveis do mercado. Essa prática é realizada frequentemente com o intuito de evitar que a Refit estabeleça relações comerciais com empresas envolvidas com facções criminosas e com práticas ilícitas, como adulteração de combustíveis.

A Refit monitora o percurso de todo combustível produzido em sua refinaria, desde o momento de transferência dos tanques de armazenamento até o destino final, nas bombas de combustível. Isso impede o abastecimento de postos que integram a lista restritiva interna da companhia.

É justamente a partir desse monitoramento contínuo que a Refit frequentemente tem apresentado, nos últimos anos, denúncias aos reguladores, órgãos de fiscalização e polícia sobre práticas ilícitas no mercado de combustíveis.

Tanto é assim que as próprias autoridades responsáveis pela Operação Poço de Lobato afirmaram, durante a coletiva de imprensa, que não encontraram qualquer indício de ligação da Refit com facções criminosas.

A companhia reforça que sempre atuou dentro da legalidade e mantém total disposição para colaborar com as autoridades em todas as etapas das investigações.

 

 

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