2 de dezembro de 2025
Politica

Coaf vê triplicar alertas de movimentações financeiras suspeitas com bets e apostadores

BRASÍLIA – O volume de movimentações financeiras suspeitas envolvendo bets e apostadores reportadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mais que triplicou de 2024 para 2025. As comunicações saltaram de 40 mil no ano passado para 140 mil até agosto deste ano.

Os números, obtidos pelo Estadão, foram levantados pelo órgão de inteligência do governo brasileiro em um estudo elaborado internamente para mapear atividades de apostas em virtude do protagonismo recente do setor.

O ano de 2025 é o primeiro de funcionamento efetivo do mercado regulado de bets, mas milhares de sites de apostas clandestinos seguem operando ilegalmente. As informações recebidas pelo Coaf envolvem todos os tipos de plataformas.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que a entrada em vigor do novo mercado de apostas causou “impacto significativo” nos setores de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD) das instituições, que estão adaptando processos de monitoramento (leia mais abaixo).

Já as empresas de apostas dizem tratar com prioridade a prevenção aos crimes, com formações internas e externas, e manter relação institucional com o Coaf e com a Febraban para aprimorar o setor. Também ressaltam que as bets ilegais explicam parte da alta nas suspeitas de crimes comunicados (leia mais abaixo).

Movimentações financeiras suspeitas envolvendo bets reportadas ao Coaf saltaram de 40 mil em 2024 para 140 mil até agosto deste ano
Movimentações financeiras suspeitas envolvendo bets reportadas ao Coaf saltaram de 40 mil em 2024 para 140 mil até agosto deste ano

A análise do órgão de inteligência foi feita com base em palavras-chave e expressões contidas no universo de comunicações enviadas diariamente por empresas e instituições obrigadas por lei a fazer os reportes, principalmente os bancos.

Os informes apontam indícios de movimentações atípicas, incompatibilidade entre entradas e saídas de valores, lavagem de dinheiro, transações com “laranjas” e dúvidas sobre a origem dos recursos.

Há, por exemplo, comunicações de empresas não registradas como bets que registraram alto volume de transações em datas e horários próximos a grandes eventos esportivos, como partidas de futebol. E de pessoas suspeitas de lavagem de dinheiro que fizeram repasses para bets legais ou ilegais.

O Coaf envia espontaneamente as informações que detém a órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Mas os dados armazenados pelo órgão também são utilizados para levantamentos sobre pessoas e empresas alvos de inquéritos feitos a pedido de investigadores, sob medida.

Com a alta das comunicações, a avaliação de investigadores consultados pela reportagem é a de que o Estado está ampliando o universo de dados com os quais poderá trabalhar em investigações.

O órgão não se manifestou sobre o assunto. A avaliação de técnicos com trânsito no Coaf é a de que o fato de as comunicações terem mais que triplicado de um ano a outro é positivo porque elas têm o poder de ampliar a gama de informações que podem subsidiar investigações.

O próximo passo é qualificar as comunicações enviadas. Operadores do setores de apostas e financeiro dizem que, com a novidade do segmento, ao menos uma parte da alta nos comunicados está atrelada a um ímpeto de pecar pelo excesso, e não pela omissão.

A Febraban ressaltou que as áreas de prevenção à lavagem de dinheiro dos bancos precisaram incorporar novos processos por causa do início do funcionamento do novo mercado de apostas. Houve um “impacto significativo”, que aumentou a demanda por controles e análises.

“Como postura de reforço ao compromisso do setor com a integridade e a prevenção a ilícitos financeiros, a Febraban e os bancos adotaram medidas, proibindo a abertura de contas laranja, frias e vinculadas a bets ilegais, bem como determinando o encerramento imediato dessas contas quando identificadas”, frisou.

A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), uma das principais representantes de empresas de apostas regulares, destacou que por se tratar de um segmento recém regulado há um processo de aprendizagem dos bancos e das próprias empresas sobre o que precisa ser levado ao Coaf e como. Inicialmente há uma alta quantitativa das comunicações, que ao longo do tempo deverão se tornar mais qualitativas.

“Essa curva de amadurecimento vai fazer com que tenhamos menos comunicações, mas comunicações com mais qualidade. Acho natural que, nesse momento, por conta da obrigação legal, pecar por excesso”, disse o diretor jurídico da ANJL, Pietro Cardia Lorenzoni.

Ele também reclamou do universo de bets clandestinas, que avalia estar em alta. “É um segmento que não segue as exigências legais e não tem os mesmos controles. E se há um mercado ilegal me parece que pode haver também um crescimento de operações de lavagem de dinheiro por meio dele”, comentou.

 

 

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