Lula, Alcolumbre e o custo político de uma coalizão mal construída e mal gerida
A reação dura do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ao anúncio de que Jorge Messias — advogado-geral da União e aliado de confiança do presidente Lula — seria o indicado ao Supremo Tribunal Federal provocou críticas ao senador. Mas é preciso separar preferências pessoais de regras institucionais. Se cabe ao presidente da República indicar ministros ao STF, cabe igualmente ao Senado sabatiná-los e decidir soberanamente sobre sua aprovação. Trata-se de um jogo institucional, não moral.
E, nesse jogo, não há vilões nem heróis. Há apenas estratégias racionais de atores que têm preferências políticas distintas, típica configuração de um presidencialismo multipartidário no qual o partido do presidente está longe de deter maioria legislativa. Quando isso ocorre, a capacidade de governar depende inteiramente das características da coalizão construída pelo Presidente — e de sua manutenção e gestão ao longo do tempo.

É exatamente aqui que se encontra o nó da crise atual entre Lula (executivo) e Alcolumbre (legislativo). O presidente fez escolhas que fragilizam sua própria base: montou uma coalizão numerosa, ideologicamente heterogênea, sem agenda comum clara, distribuiu cargos e recursos de modo pouco proporcional ao peso dos aliados e formou um governo que se afasta do ponto mediano das preferências do Congresso. Em suma, criou uma coalizão com altos custos e baixa capacidade de coordenação. Agora paga o preço.
A esse quadro se soma o fator crucial do calendário eleitoral. Com a aproximação de 2026, é improvável que líderes do Congresso — incluindo os presidentes da Câmara e do Senado — estejam no mesmo palanque que Lula. Se o futuro aponta para competição, não para cooperação, por que entregar vitórias políticas ao governo sem uma contrapartida robusta? O incentivo dominante passa a ser maximizar o valor de barganha enquanto o tempo favorece o Legislativo e impor custos ao Executivo.
Por isso, não seria surpreendente se o Senado rejeitasse Messias ou, caso o aprove, o fizesse apenas mediante concessões expressivas do governo. Trata-se menos de retaliação e mais de uma dinâmica estrutural: quando o Executivo monta uma coalizão desalinhada com o Legislativo, distribui recompensas de forma insuficiente e desproporcional e se aproxima de uma eleição potencialmente muito disputada, sua capacidade de coordenação se esvai. E o Legislativo, racionalmente, assume o protagonismo.
O conflito atual, portanto, não é um desvio institucional ou de chantagem dos líderes do legislativo com o executivo. É o resultado direto das escolhas políticas do próprio presidente, que aumentaram o custo de governar. A indicação ao STF tornou-se apenas o palco mais visível desse desequilíbrio.
