4 de dezembro de 2025
Politica

A sucessão de Bolsonaro e os caminhos da oposição em 2026

À medida que 2026 se aproxima, cresce a expectativa sobre quem Jair Bolsonaro escolherá como seu herdeiro político. A decisão será tomada sob fortíssima pressão: o ex-presidente está preso, com comunicação restrita, preocupado com potenciais deserções e enfrentando divisões dentro da própria família. Esse contexto torna o processo muito imprevisível e mantém aberta a possibilidade de que, apesar do favoritismo de Tarcísio de Freitas, Bolsonaro acabe optando por um nome de sua própria família – com Flávio e Michelle sendo as principais alternativas.

Tarcísio continua sendo a opção mais racional. Ele é competitivo eleitoralmente e também conta com amplo apoio institucional na centro-direita. Aos 50 anos, consegue representar uma transição geracional e, por estar fora do núcleo familiar, absorve menos rejeição associada ao ex-presidente, embora ainda tenha acesso à maior parte de sua base. E sua baixa taxa de conhecimento nacional pode ser convertida em vantagem: permite que ele seja moldado positivamente durante a campanha, dialogando com eleitores que buscam mudança sem necessariamente desejar a volta do bolsonarismo em sua forma original.

Tarcísio e Flávio ao lado de Bolsonaro, enquanto ex-presidente ainda estava em prisão domiciliar
Tarcísio e Flávio ao lado de Bolsonaro, enquanto ex-presidente ainda estava em prisão domiciliar

Mas Tarcísio também carrega vulnerabilidades. Ele já sinalizou apoio a uma agenda de ajuste fiscal, e isso abre espaço para Lula apresentar suas propostas como ameaça direta a ganhos salariais, programas sociais e investimentos públicos. A campanha de Lula vai provocar Tarcísio, todos os dias, a responder se a regra do salário mínimo pode mudar. Uma campanha centrada na distribuição de renda tende a pressioná-lo mais do que pressionaria um candidato de direita com discurso econômico mais difuso ou populista.

Se Bolsonaro escolher alguém da própria família, Michelle aparece hoje tão competitiva quanto Tarcísio, e é mais forte do que Flávio. Por ser mulher e evangélica, ela combina atributos que podem ampliar o alcance eleitoral. Isso dá a Michelle a possibilidade de reposicionar a imagem do bolsonarismo e tentar reduzir rejeições históricas, especialmente entre mulheres conservadoras e parte do eleitorado religioso. Ainda assim, sua inexperiência política pesa. Michelle nunca teve atuação executiva nacional, nem apresentou uma visão programática minimamente detalhada, sobretudo na área fiscal. O próprio Bolsonaro sinalizou muitas vezes a seus aliados que não confiava em Michelle para uma candidatura à Presidência. Ainda assim, Michelle se coloca como alternativa dada a escassez de opções.

Flávio, por sua vez, é hoje o menos competitivo entre os nomes de oposição. Carrega a rejeição do pai sem oferecer diferenciação suficiente para compensá-la. As polêmicas de corrupção que o cercam reduzem sua capacidade de atrair eleitores moderados. Contra Flávio, as vantagens estruturais de Lula, como incumbente, ficariam ainda mais evidentes, tornando mais difícil qualquer surpresa eleitoral.

A escolha do candidato importa não apenas pelo perfil individual de cada um, mas também porque influencia o comportamento das alianças partidárias. Se Tarcísio for o indicado, a tendência é de maior coesão do campo de centro-direita já no primeiro turno. Isso reduziria incertezas e facilitaria a transferência de votos dentro do campo oposicionista. O cenário muda um pouco caso Bolsonaro escolha Michelle ou Flávio. Partidos de centro, como o PSD, sentirão menos obrigação de se alinhar automaticamente à direita e poderão lançar nomes próprios. Nomes como Ratinho Jr. poderiam crescer com o discurso de voto útil contra o PT em um primeiro turno dividido.

Há quem interprete essa possível fragmentação como uma desvantagem para a oposição, mas essa leitura parece apressada. No primeiro turno, a presença de mais candidatos apenas amplia as opções para o eleitor antipetista, sem necessariamente alterar o equilíbrio final. A vaga no segundo turno ainda tenderia a ser ocupada pelo nome com maior associação a Bolsonaro, e esse candidato continuaria apto a unificar a oposição contra Lula na fase decisiva da eleição.

O ponto central, portanto, é menos a fragmentação e mais a natureza da escolha de Bolsonaro; a campanha terá dinâmicas distintas a depender de quem represente a centro-direita. Em todos os cenários, porém, provavelmente será uma disputa voto a voto entre governo e oposição.

 

 

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