O lixo tem solução?
Impressionante constatar o quão irresponsáveis somos em relação ao vício de consumir demais, desperdiçar demais, descartar demais e não saber qual o destino conferir ao nosso lixo. Todas as cidades brasileiras são sujas. O brasileiro se acostumou com a imundície. Colabora com ela. Joga nas ruas, despreocupadamente, aquilo de que já se serviu. É muito resíduo sólido que, em nações realmente civilizadas, vale dinheiro. Aqui, custa dinheiro.
Sim, é o povo que paga pela coleta e pela acumulação de lixo em lixões ou em aterros sanitários. Estes crescem de forma assustadora. Ocupam espaços que deveriam ser destinados a bosques, jardins, parques, lagos, florestas. Coisa bonita e saudável, enfim. Mas que formam camadas e camadas, altas elevações e montanhas daquilo que produzimos de melhor: o lixo.
Fala-se em logística reversa, em economia circular, em reciclagem. Tudo esbarra numa cultura primitiva e egoísta. É mais do que urgente adotar as soluções mais modernas e civilizadas: transformar resíduo sólido em energia, como se faz na Suécia e na China, por exemplo. Implementar modelos de negócio circular e estratégias urbanas planejadas. Adotar estratégias eficientes de manejo do lixo. Levar a sério a infraestrutura de reciclagem e de aproveitamento dos recursos desperdiçados.
Usar o resíduo orgânico para fabricar fertilizante, fazer compostagem ou produzir biometano. Reduzir o uso e o desperdício de plástico. Criar alternativas biodegradáveis. Incentivar a Academia e a Indústria a se dedicarem à descoberta de produtos sustentáveis e não tóxicos. Reciclar o lixo eletrônico. Dar destinação correta ao lixo hospitalar.
Principalmente, adotar uma política responsável de estímulo às boas práticas e de desincentivo às más condutas. Que devem ser sancionadas. Financeiramente, porque só assim é que se cria uma consciência ecológica resiliente. A economia circular já existe, mas só no discurso. A logística reversa encontra dificuldades na operacionalidade, porque todos sabem que a impunidade predomina.
Um projeto consequente de educação cidadã levaria em consideração o custo para uma nação com tantos problemas na desigualdade. Uma república infelizmente campeã na violência e na exclusão, que destina seus recursos finitos para corrigir deficiências comportamentais. O Erário tem de aplicar com seriedade a preciosa verba resultante da tributação. É lamentável que tais verbas sejam utilizadas para corrigir péssimas práticas. Só uma educação formal e informal de qualidade para reduzir as deficiências do estágio civilizatório infelizmente inferior, em que nos encontramos.
É preciso coragem para sancionar as más condutas de quem produz lixo de forma insensata, senão adoidada. Dinheiro que tem de ser dirigido para a otimização de políticas públicas efetivamente sustentáveis.
Uma campanha nacional deveria estimular a produção de soluções, com incentivo à juventude estudantil, em todos os níveis, e enfrentar os grandes problemas brasileiros. Dos quais a exagerada produção de lixo não é o menor.
Não pode ficar de fora – ao contrário, é imprescindível sua participação – o setor privado. É uma força imensa para acelerar a transição energética. O empresariado que conseguiu sobreviver à sanha tributária de muitos governos perdulários, que fazem a máquina estatal crescer insensatamente, reúne as condições ideais para promover soluções que acelerem a transição verde.
O futuro precisa ser desfossilizado, ou não haverá futuro. Importante lembrar que investir na transição verde faz com que a economia cresça, rumo à construção de uma sociedade realmente sustentável e resiliente. Muita coisa já se faz. Mas é preciso ganhar escala. No dia em que governantes globais tiverem recobrado o juízo, talvez as políticas públicas deixem de ser retóricas e se concretizem.
O bom é que isso é perfeitamente possível. Se Suécia e China conseguiram mudar seus paradigmas em tão pouco tempo, por que o Brasil não poderá fazê-lo? É só ter força de vontade. É muito tosca a escusa de que somos uma nação jovem. Meio milênio já é tempo suficiente para criar vergonha e deixar um amanhã mais digno para os que ainda não nasceram.
