4 de dezembro de 2025
Politica

Vacina não tem partido, nem cor e não é de governo

Você sabe quais as revoluções que prolongaram a vida humana? Vacina e água tratada. Isso mesmo: vacina e água tratada são as grandes responsáveis por aumentar o tempo médio de vida da humanidade. É fato histórico cientificamente comprovado, não é narrativa ideológica. É por isso que, como médica infectologista com 30 anos de trabalho no serviço público, tenho feito uma reiterada campanha em defesa da vacinação, combatendo as informações falsas e o negacionismo que têm feito pais, mães e outros responsáveis deixarem de vacinar seus filhos menores de idade e seus idosos, o que significa cometer um verdadeiro e estarrecedor abandono de incapaz.

Reafirmo sempre falando em voz alta, porque hoje os ouvidos têm paredes: vacina é produto de estudos e pesquisas seríssimos, trabalho árduo de cientistas e especialistas, no Brasil e no mundo todo, para prevenir doenças graves e mortes. O Brasil é referência mundial em vacinação, e o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) oferece vacinas para todas as idades, garantindo que estejamos protegidos ao máximo.

Não é uma questão individual, é uma questão de saúde coletiva. Quando você se vacina, protege a si mesmo e a quem está ao seu redor. Trata-se, portanto, de um ato de amor e empatia, de defender a vida, de proteger a saúde, de prevenir doenças e suas sequelas graves e permanentes, de evitar a morte.

Segundo um estudo publicado na revista médica britânica The Lancet, nos últimos cerca de 50 anos, a vacinação contra 14 doenças (difteria, Haemophilus influenzae tipo B, hepatite B, encefalite japonesa, sarampo, meningite A, coqueluche, doença pneumocócica invasiva, poliomielite, rotavírus, rubéola, tétano, tuberculose e febre amarela) contribuiu para reduzir as mortes infantis em 40% no mundo. Só a vacinação contra o sarampo eliminou em 60% a mortalidade infantil global.

Entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), não faz muito tempo, alertou que 67 milhões de crianças não receberam entre 2020 e 2022 todas as vacinas de que necessitavam, o que contribuiu para um aumento de 84% dos casos globais de sarampo entre 2022 e 2023.

O governo do presidente Lula tem feito um esforço concentrado suprapartidário, via ministério da Saúde e ancorado na ciência, para restabelecer a confiança da população nas vacinas, bem como para reforçar as campanhas de imunização em todo o território nacional. O governo anterior, abertamente negacionista, sabotou uma política pública considerada exitosa pelo mundo: a vacinação da população como um todo no Brasil.

Meu apelo OLHO NO OLHO é para você, pai, mãe, responsável: VACINE SEUS FILHOS! Não podemos deixar nossas crianças e idosos morrerem. Como médica infectologista que já viu muita coisa triste, peço a vocês: não acreditem nas mentiras propagadas contra a vacinação. Aliás, estamos em plena campanha de vacinação contra a gripe, que está disponível para todas as idades e sem restrições. Não deixe de se proteger! Vá ao posto de saúde mais próximo, leve seu cartão de vacina, verifique se está tudo em dia e cuide da sua saúde. Vacinas, sim! Vacinas sempre!

Sarampo e meningite

Com a queda dos índices de imunização, o Brasil perdeu, em 2019, o certificado de eliminação do sarampo. Segundo o ministério da Saúde, essa doença grave pode deixar sequelas por toda a vida ou até matar. A vacina é a maneira mais efetiva de evitar que isso aconteça.

O sarampo, durante muitos anos, foi uma das principais causas de mortalidade na infância, principalmente nos menores de um ano de idade. A doença comportava-se de forma endêmica no Brasil, ocorrendo epidemias a cada dois ou três anos.

Este mês, o Brasil teve uma boa notícia: esforços do ministério da Saúde mantêm o Brasil livre do sarampo, com reconhecimento certificado da OPAS/OMS. O bloqueio vacinal e a vigilância ativa de casos importados se destacam na avaliação da comissão que monitora a circulação do vírus nas Américas, num cenário de alerta no qual as Américas perderam o status de região livre do vírus.

A Fiocruz também alertou sobre risco representado pela queda da cobertura vacinal contra a meningite, além de mostrar, recentemente, que apenas 11% das crianças de até 5 anos haviam tomado vacina contra a Covid e que outras coberturas vacinais infantis estavam abaixo da meta.

Exemplo mundial

Em 1973, foi criado no Brasil o Programa Nacional de Imunizações (PNI), com os objetivos principais de organizar, implementar e avaliar as ações de imunização em todo o país. O Estado brasileiro promoveu a vigilância epidemiológica intensiva para casos suspeitos nas comunidades, capacitação de pessoal, campanhas de divulgação, entre outras ações. Os resultados foram extremamente positivos, a começar pela redução drástica da mortalidade infantil.

O PNI é referência de saúde no mundo todo – tanto que houve conversas da OMS com a Fiocruz e o Instituto Butantan para acelerar a produção de vacinas no Brasil, como a da dengue. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), vale lembrar, é um dos maiores compradores de vacinas do mundo. Por meio do PNI, o governo federal disponibiliza gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) 48 imunobiológicos: 31 vacinas, 13 soros e 4 imunoglobulinas. Essas vacinas incluem tanto as presentes no Calendário Nacional de Vacinação quanto as indicadas para grupos em condições clínicas especiais.

O calendário nacional de vacinação contempla, na rotina dos serviços, 20 vacinas que protegem o indivíduo em todos os ciclos de vida, desde o nascimento. Entre as doenças imunopreveníveis por essas vacinas estão poliomielite, sarampo, rubéola, tétano, coqueluche e outras doenças graves e muitas vezes fatais.

O PNI é responsável por coordenar as campanhas anuais de vacinação. Essas campanhas têm como objetivo alcançar altas coberturas vacinais, garantindo a proteção individual e coletiva contra diversas doenças. Assim, o ministério da Saúde atua em conjunto com estados, municípios e o Distrito Federal para garantir o acesso equitativo às vacinas em todo o país.

Poliomielite/paralisia infantil

Vacinas essenciais como a BCG, a tríplice bacteriana e as contra a hepatite B e a poliomielite tinham até recentemente taxas de cobertura menores que médias mundiais. Quem não viveu a época da poliomielite não tem ideia do sofrimento das vítimas, e esse fantasma voltou.

O último caso de poliomielite paralítica, causada pelo poliovírus selvagem, ocorreu em 1989, na Paraíba. A doença é considerada oficialmente eliminada do território nacional desde 1994, quando foi emitido o certificado da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS).

Apesar disso, conforme divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde 2015 o Brasil não havia atingido a meta de vacinar 95% do público-alvo, patamar necessário para que a população seja considerada protegida. A cobertura vacinal já vinha diminuído progressivamente desde 2015, estando atualmente em patamar bem abaixo do desejado, levando o Brasil a ser classificado pela Opas, em 2022, como de risco alto para retorno da poliomielite. Em 2021, a cobertura vacinal da poliomielite (VIP) em crianças menores que um ano de idade no Brasil foi de apenas 69,9%.

Vacina é de graça

Conforme o Ministério da Saúde, a vacinação é reconhecida como uma das mais eficazes estratégias para preservar a saúde da população e fortalecer uma sociedade saudável e resistente. Além de prevenir doenças graves, a imunização contribui para reduzir a disseminação desses agentes infecciosos na comunidade, protegendo aqueles que não podem ser vacinados por motivos de saúde.

Vacina não tem partido, nem cor, e não é de governo, mas do Estado, que tem a obrigação de mostrar que a vacinação salva vidas. Como militante e defensora da saúde pública, reitero também necessidade de promover canais de informação de interesse público para combater o negacionismo e as notícias falsas que circulam na internet.

Nesse contexto, é fundamental promover e ampliar as políticas de vacinação contra todas as doenças para as quais a ciência já desenvolveu imunizantes. E mais: é importante que a vacina esteja presente em todos os cantos do país, acessíveis ao maior número de pessoas, de todas as idades, sempre de acordo com as melhores práticas científicas. Não podemos retroceder nesse progresso civilizatório que revolucionou a saúde pública brasileira e mundial.

É esse o sentido do nosso trabalho legislativo: a defesa da vida, investir no direito de nosso povo a um futuro saudável e seguro. Não podemos permitir o reaparecimento de algumas doenças preveníveis em território nacional, e que já haviam sido extintas

Vacinação nas escolas

Aprovamos no Congresso em 2024, e já virou lei, o Programa Nacional de Vacinação em Escolas Públicas. Muitos pais e mães trabalham fora de casa o dia todo e não conseguem nem ter tempo de levar um filho ao posto de saúde. Equipes de saúde locais irão às escolas públicas para vacinar alunos matriculados nos ensinos infantil e fundamental, oferecendo as vacinas previstas para cada idade.

Defendi o projeto porque a imunização dentro da escola constitui grande avanço na proteção das nossas infância e juventude. Lamentavelmente, grupos anticiência e antivacinas têm se levantado contra isso, usando argumentos falaciosos, disseminando mentiras a respeito de riscos que não existem. As vacinas salvam vidas e a desinformação pode matar.

Quem se pôs contra a aprovação do projeto promoveu desinformação para desencorajar a sociedade a se vacinar. Tão grave quanto impedir que uma vacina faça parte do programa nacional de vacinação é a insegurança que se quer levar para a população de que as vacinas não são essenciais. Se não fossem essenciais, não haveria milhares de cientistas no mundo procurando-as. E friso que o ato de vacinação não é individual: é uma responsabilidade coletiva, de compromisso com a vida do próximo.

Por isso mesmo, como uma brasileira formada em medicina e frontalmente contrária às teses antivacina, critiquei debatedores que foram ao Senado espalhar notícias falsas e nocivas à saúde pública. Eles atacaram a obrigatoriedade das vacinas e a recomendação, no Programa Nacional de Imunização, de vacina para crianças de até quatro anos contra a Covid-19. É absurdo! É desserviço gravíssimo realizar sessão no Congresso Nacional para pôr em dúvida a segurança das vacinas. Há crianças morrendo de Covid!

Recado aos pais

Pais, mães e demais responsáveis, levem seus filhos e idosos aos postos de vacinação, não cometam abandono de incapaz! Deixar de proteger com vacina uma criança ou um idoso é abandonar quem não é capaz nem tem condições de se proteger e se defender sozinho. Não podemos permitir a volta de doenças que, graças à imunização, graças à ciência, foram erradicadas.

O negacionismo científico é, sim, uma ameaça concreta à vida, uma antessala para a morte. Não podemos deixar pessoas inocentes morrerem por mortes evitáveis. Vacinar significa menos morte de crianças.

Tenha sempre em mãos o cartão de vacina do seu filho e da sua filha e procure o posto médico mais próximo da sua casa para atualizar a proteção. Vamos, juntos, fortalecer essa corrente do cuidado.

PARE E PENSE: poliomielite, difteria e muitas outras doenças foram combatidas com vacinas. A mortalidade infantil não pode voltar a assombrar nosso país, nossas famílias!

Sou aliada do ministério da Saúde e do Zé Gotinha. Nosso trabalho no Congresso passa por lutar em defesa da vida e contra o negacionismo que ataca a ciência. Está mais do que provado: as vacinas estão entre as invenções mais poderosas da História, prevenindo doenças antes temidas, como reiterou a direção geral da OMS. Vacina salva vidas: a sua e a de quem está ao seu redor.

 

 

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