Centrão e aliados de Tarcísio desconfiam de anúncio de Flávio como candidato a presidente: ‘blefe’
Dirigentes partidários do Centrão e aliados de Tarcísio de Freitas (Republicanos) receberam com ceticismo a informação de que Jair Bolsonaro (PL) escolheu o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato à Presidência em 2026.
Flávio avisou ao Partido Liberal e ao governador de São Paulo que sua pré-candidatura foi aceita pelo seu pai. A informação foi antecipada pelo site Metrópoles e confirmada pelo Estadão.

Tarcísio está no Rio de Janeiro, onde participa ao lado de outros governadores do encontro realizado pelo Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud). Ele participou de uma coletiva à imprensa no início da tarde, mas o assunto não foi abordado. O governador ainda não se manifestou sobre o tema.
O próprio Flávio foi às redes sociais comunicar a decisão, que teria sido tomada durante visita dele a Bolsonaro na última terça-feira, 2. O ex-presidente está preso na Superintendência da Polícia Federal desde 25 de novembro, onde cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe.
O anúncio pegou aliados de Tarcísio de surpresa. Três pessoas próximas ao governador avaliam que se trata de um “blefe” ou “balão de ensaio” para pressioná-lo a aceitar condições defendidas pela família, como um vice com sobrenome Bolsonaro ou a filiação ao PL.
Os dois movimentos são rechaçados pelo governador. A leitura é que um vice da família traria rejeição para a chapa e aumentaria o risco de derrota para Lula (PT), além de reforçar a narrativa do PT de que Tarcísio é marionete de Bolsonaro. Já a filiação ao PL, como mostrou o Estadão, não está no radar de Tarcísio, que prefere permanecer no Republicanos. O partido presidido por Marcos Pereira já começou a investir na estrutura da campanha para 2026.
É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação.
Eu não posso, e não vou, me conformar ao ver o nosso país caminhar por um tempo de… pic.twitter.com/vBvHS7M0hJ
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) December 5, 2025
Outros dois aliados próximos de Tarcísio, um do PSD e outro do PL, avaliam que o movimento de Bolsonaro é, na verdade, um teste; como se o ex-presidente quisesse medir até onde a candidatura de Flávio pode ir antes de bater o martelo e mandar Tarcísio para o “sacrifício”.
Para essas duas fontes com acesso direto ao governador, é uma jogada de “ganha-ganha”. Se Flávio mostrar fôlego, Tarcísio não precisa abrir mão de uma reeleição confortável em São Paulo para entrar em uma disputa nacional arriscada contra Lula. Se Flávio não decolar, e ficar restrito ao bolsonarismo, a exposição em torno de seu nome pode virar ativo na disputa ao Senado pelo Rio e, ao mesmo tempo, servir de moeda de troca mais adiante, quando o cenário eleitoral estiver mais claro.
Nessa leitura, o movimento de Bolsonaro é bem-visto pelo entorno do governador porque tira Tarcísio do foco e reforça seu discurso de candidato à reeleição. Desde que ele ganhou força como possível sucessor de Bolsonaro, virou alvo frequente do PT. Ao mesmo tempo, a opção por Flávio neste momento não fecha as portas para um entendimento futuro entre os partidos de centro e centro-direita que volte a colocar Tarcísio no tabuleiro presidencial.
Seja qual for a motivação de Bolsonaro ao anunciar Flávio, todas essas fontes ouvidas reservadamente concordam em um ponto: o senador é considerado um candidato mais fraco para enfrentar Lula e, se de fato concorrer, aumentará as chances de reeleição do petista. Dirigentes de partidos de centro-direita ainda avaliam que Flávio teria dificuldade de agregar o centro em uma possível candidatura, o que não aconteceria com Tarcísio.
Na semana passada, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, criticou Tarcísio e disse que o governador “exagero um pouco” nos gestos em direção ao bolsonarismo e que não poderia se apresentar como um candidato bolsonarista. Kassab e a família Bolsonaro têm uma relação conturbada, embora tenham firmado uma trégua nos últimos meses.
Horas após o anúncio de Flávio, o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, publicou uma mensagem nas redes sociais na qual indica não ter gostado da indicação de Bolsonaro.
“Os últimos acontecimentos apenas reforçam o que sempre defendemos: em 2026, não será a polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério, responsável e voltado para os reais interesses do povo brasileiro”, escreveu ele no X. Também há dúvidas sobre o apoio do PP, que tem federação com União Brasil, e do Republicanos.
