8 de dezembro de 2025
Politica

Clama aos céus!

Todos os problemas brasileiros podem se resumir a um só: a falta de educação de qualidade. Uma sociedade educada não suportaria descalabros, corrupção, usurpação da coisa pública para interesses escusos e tantas outras máculas que fazem os bons mergulharem em desalento.

Todos sabem que a escola não conseguiu motivar o educando a aprender. Métodos arcaicos, alunos enfileirados, transmissão de informações acessíveis e disponíveis no mundo digital, em aulas prelecionais aborrecidas, chatíssimas e desatualizadas.

Como se a culpa fosse da internet, proíbe-se o uso de celular em sala de aula. Aplauso geral! Mas não é o que o mundo civilizado está fazendo. A Estônia, por exemplo, modelo de sociedade tecnológica, já foi bem mais pobre do que o Brasil. Como diz Ronaldo Lemos, a Estônia enriqueceu e o Brasil empacou.

A Estônia já criou mais de dez unicórnios. Tem governo digital e acesso a todos os serviços públicos pelo celular. É o primeiro país no ranking Pisa da Europa e o quarto no planeta.

O país percebeu, em 1996, que a internet seria essencial na vida de qualquer pessoa. O Ministério colocou computadores e internet em todas as escolas já em 1997. E a razão deveria nos inspirar: “a missão da escola, na Estônia, é preparar os estudantes para a vida (não para se tornarem enciclopédias inúteis). Tanto é que faz parte do currículo escolar aprender a cozinhar, trabalhar madeira, usar ferramentas, fazer tarefas domésticas, etc.”, diz Ronaldo Lemos.

Hoje, a Estônia incorporou a IA em todas as escolas. Professores e alunos têm acesso irrestrito ao ChatGPT. O país fez um acordo com a OpenAI, que forneceu licenças plenas para todas as escolas estonianas. Nós ainda engatinhamos. A boa notícia é que a Cátedra IA Responsável, criada no âmbito do IEA – Instituto de Estudos Avançados da USP, contará com o prestígio do Google, o que já é um passo em direção ao resgate de décadas (ou séculos?…) perdidos.

Não precisaríamos ir à Estônia para aprender lições que modificariam – para melhor – o futuro brasileiro. Na Venezuela, um centro educativo chamado Kajuyalí School ensina o aluno a aprender com a natureza. É um modelo educativo pioneiro, que faz com que o aprendizado acadêmico se faça mediante vivência direta com a natureza.

Em diversos ciclos, as crianças adquirem conhecimentos básicos: ciência, matemática e linguagem a partir de visitas a zonas rurais. Basicamente, a escola opera sob enfoque experiencial em que o campo, a mata, o rio ou a montanha não são cenários decorativos, mas entorno pedagógico.

Cada fenômeno natural como a água, o solo, as marés, se converte em eixo articulador de múltiplas questões matemáticas, históricas, biológicas, físicas ou econômicas. Os estudantes aprendem ciência não só resolvendo equações, mas verificando como o ambiente se comporta e qual o significado da entropia em sua transformação. Em regra, para exterminá-lo ou piorá-lo.

O conceito pedagógico implica que 25% do tempo dos alunos fora das aulas e explorando o entorno. É uma visão flexível, aberta e ousada de escola. De que adianta fazer a criança decorar aquilo que, aparentemente, não serve para nada, por que desvinculado da vida e dos problemas concretos que ela irá enfrentar como adulto?

A natureza é um livro aberto. Por exemplo, a água reclama conhecimentos de biologia, pois essencial à vida. Precisa de história, com abordagem das expedições marítimas, de física, para explicar os princípios do fluxo, de economia, mediante análise do impacto da água nos cultivos. Precisa de química, para estudar suas propriedades, matemática, para medir volume e precipitações. É o líquido mais precioso, que corre o risco de vir a faltar, diante de nossa insensatez frente a esse recurso finito e que está sendo conspurcado mediante deliberada poluição, resultante de múltiplos fatores. Todos eles, resultantes da insensibilidade do bicho-homem. A natureza é um livro aberto. Precisa ser interpretada para se transformar em conhecimento útil.

Essa fórmula é benfazeja porque inclui a assimilação do conceito de sustentabilidade. É uma forma de viver que vai sendo naturalmente incutida na consciência dessa geração que sofrerá os efeitos de nossa incúria. É assim que se forma nova consciência da cidadania que será agente do futuro ecológico e social do Brasil. Por que não encarar a obsolescência da escola tradicional e assumir, com audácia e coragem, novos modelos?

 

 

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