10 de dezembro de 2025
Politica

Centrão usa a dosimetria para agradar Bolsonaro e tentar reabrir o debate para 2026

A votação da dosimetria abriu um novo capítulo na disputa política e mostra que a direita percebeu que precisava sair do beco em que havia entrado. A pauta única da libertação de Jair Bolsonaro não vinha mobilizando o eleitorado como esperavam. Isso acabou por fragmentar o campo conservador, se tornando um obstáculo para a construção de uma agenda forte e competitiva para 2026.

A dosimetria, ao agradar Flávio Bolsonaro, funciona como gesto à base, mas, sobretudo, como tentativa de virar a página de uma discussão que não ganharia eleição, por travar qualquer debate mais amplo sobre o futuro do País, necessário para atrair os eleitores moderados.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que está preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que está preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília

A verdade é que a condenação de Jair Bolsonaro pode dividir opiniões e estar envolvida em polêmicas, mas ela seguiu o rito legal de um sistema ao qual todo o cidadão brasileiro está submetido e que julga milhares de pessoas, diariamente. Não são poucos ao que discordam das decisões dos magistrados, em diferentes casos e esferas do Judiciário. Ainda assim, até que as regras mudem, essa é a moldura institucional existente e é dentro dela que o País opera.

Por isso, a insistência em transformar a reversão da prisão do ex-presidente no eixo da eleição provocou resistência. Afinal, não há como reduzir uma disputa dessa magnitude ao objetivo de resolver impasses pessoais, em um sistema em que tantos se sentem injustiçados.

O Centrão percebeu que focar na pauta exclusiva da libertação de Jair Bolsonaro era insistir em uma derrota anunciada. Mesmo com sua formação heterogênea e nem sempre alinhada à ética pública, o bloco identificou que o eleitorado decisivo está fora das bolhas ideológicas e quer falar de temas que toquem a vida real. Ao fazer seus cálculos, concluiu que seria impossível construir maioria eleitoral tendo apenas a prisão do ex-presidente como agenda.

A dosimetria então cumpre dupla função. De um lado, entrega algo simbólico e substancial à família Bolsonaro. De outro, constrói uma oportunidade de reabrir o debate para 2026, ampliando o cardápio de temas e, obviamente, de nomes. É uma tentativa concreta olhar para a frente e reorganizar a disputa, sem imposições unilaterais.

Com essa abertura, o Centrão recupera espaço para atuar e passa a ter condições reais de influenciar a escolha do candidato. A pressão inicial de Flávio perde peso, afinal o preço pedido pelo filho do ex-presidente, para recuar, vem sendo pago em grande parte. O movimento ainda não define quem será o nome de 2026, mas devolve ao bloco a capacidade de conduzir a conversa e de construir uma alternativa que não seja imposta por um partido isolado.

 

 

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