Dosimetria que reduz penas por tentativa de golpe chega em momento de fraqueza do STF
A votação na Câmara que reduziu a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro e cúmplices condenados por tentativa de golpe de Estado, além do pessoal do 8/1, ocorreu em um momento no qual o Supremo Tribunal Federal estava na berlinda.
No mesmo período em que os deputados tornavam algo menos penosa a vida do ex-capitão, integrantes do STF e familiares foram bombardeados com revelações embaraçosas sobre suas relações indevidas com entes privados, em especial o pessoal do Banco Master, liquidado em novembro sob suspeita e comprovações de fraudes bilionárias.

O maior responsável pelas penas de quase 30 anos para Bolsonaro, então herói até para a imprensa internacional, o ministro Alexandre de Moraes, agora terá de lidar com a mácula de sua esposa ter assinado um contrato que lhe renderia até R$ 129 milhões do Banco Master.
A remuneração mensal de R$ 3,6 milhões é maior do que ganham os principais craques do futebol brasileiro, conforme memes que circulavam ontem na internet.
Se não fosse a proximidade com alguém que pode definir os destinos da instituição bancária tal negócio vultuoso seria realizado?
Outro integrante do STF, Dias Toffoli, foi pego em pleno voo festivo para a final da Libertadores junto com advogado do mesmo banco. Alguns dias antes, por decisão liminar, o decano Gilmar Mendes tornou a possibilidade de um impeachment de ministro do Supremo mais remota. Tinha em mente a tempestade que viria? Ontem, inclusive, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) mencionou a possibilidade de prisão de ministro do STF e a frase nem causou comoção.
Nesse contexto de desmoralização, com o caldo de chantagem de bolsonaristas ao colocar a candidatura de Flávio Bolsonaro como o bode no meio da sala, ficou um pouco mais difícil defender a posição dos ministros do Supremo e as pena duras dos acusados de golpe.
Com um telhado de vidro desses à vista, o relator do projeto de dosimetria, Paulinho da Força (SD-SP), invocou até o conceito de virtude de Aristóteles, que estaria sempre no centro, nunca nos extremos. Valeria ponderar, entretanto, que o filósofo grego considerava que a virtude não estava em atitudes pontuais, mas em postura que se leva e se acumula durante toda a vida.
