20 de dezembro de 2025
Politica

Flávio leva carta de Eduardo ao pai na prisão e Michelle pede perdão por crise; leia bastidor

BRASÍLIA — O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou a correligionários nesta terça-feira, 9, que sua pré-candidatura à Presidência da República nasceu a partir da entrega de uma carta de Eduardo Bolsonaro ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está preso na Polícia Federal.

Flávio disse a deputados federais e senadores da sigla, numa reunião a portas fechadas no Partido Liberal na terça-feira, 9, que Bolsonaro o escolheu como sucessor ao ser indagado sobre o assunto na correspondência que o próprio senador entregou ao pai na prisão. Os relatos foram feitos ao Estadão por pessoas presentes no encontro.

O senador Flávio Bolsonaro em visita ao seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, em 9 de dezembro de 2025
O senador Flávio Bolsonaro em visita ao seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, em 9 de dezembro de 2025

O senador se encontrou com Eduardo nos Estados Unidos, em outubro, e em El Salvador, em novembro. Mas ele não deixou claro no encontro do PL se as cartas lhe foram entregues nesses momentos.

Flávio se encontrou com o pai algumas vezes desde então, mas afirmou ter levado a correspondência em 2 de novembro, data em que teria sido ungido o herdeiro político, junto de fotos dos netos Geórgia e Jair Henrique, filhos de Eduardo e Heloísa.

A agenda foi realizada em Brasília e reuniu as bancadas do PL na Câmara e no Senado, além de convidados como os governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e de Santa Catarinha, Jorginho Mello. O objetivo do encontro foi oficializar a pré-candidatura à Presidência para seus aliados mais próximos, uma vez que o anúncio havia sido feito pela imprensa e pelas redes sociais.

O estado de ânimo de Flávio foi descrito por correligionários como “excessivamente otimista” em relação à sua capacidade de derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) num eventual confronto em 2026. Ele tem chamado o adversário de “projeto falido” que será derrotado nas urnas.

Parlamentares se queixaram, em tom de brincadeira, de terem sido informados sobre a pré-candidatura de Flávio pela imprensa. No palco, o senador pediu desculpas e afirmou que não teria como ser de outro modo, e pediu uma oração aos presentes para “afastar o mal” deles e de suas famílias.

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O “santinho” entregue por Flávio Bolsonaro a aliados em tom de campanha eleitoral

As lideranças do PL pediram apoio da bancada à votação do projeto de lei da Dosimetria, que anistia envolvidos no 8 de Janeiro, reduz penas e pode beneficiar Bolsonaro. Apesar de o texto relatado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP) estar longe da anistia “ampla, geral e irrestrita” desejada pelos bolsonaristas, o discurso foi de que ele é melhor do que nada.

Flávio afirmou que a proposta “não é o que a gente gostaria”, mas que o PL precisava aceitá-la, “porque só assim os presos poderão passar o Natal em casa”. O discurso insere um tom mais humanitário na pauta do que a defesa do “tudo ou nada” visando livrar Bolsonaro da cadeia.

A presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro chamou a atenção dos parlamentares, uma vez que ela tinha publicado uma nota no dia anterior cancelando a presença num evento do PL Mulher no próximo sábado, 13, por questões de saúde.

Integrantes do partido relataram dúvidas e um tom de ironia sobre o real estado de saúde de Michelle, pois nenhum diagnóstico ou boletim médico foi compartilhado com o partido. Para alguns membros, trata-se de um subterfúgio para que a ex-primeira-dama possa evitar exposição pública e responder a questionamentos sobre Flávio num momento em que foi deixada de lado na articulação para lançá-lo a presidenciável.

Michelle pediu perdão ao deputado federal André Fernandes, presidente do PL no Ceará, por tê-lo criticado publicamente pela aliança com Ciro Gomes no Estado para derrotar o PT. Ela afirmou que todos andam com “os nervos à flor da pele” e que acredita que Fernandes e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) são candidatos potenciais à Presidência da República um dia.

A exposição que Michelle conferiu ao episódio, ocorrido durante um evento em Fortaleza, disparou uma crise na direita. Três de seus enteados (Flávio, Eduardo e o vereador Carlos) saíram em defesa de Fernandes, escancararam um racha na família Bolsonaro e isolaram a madrasta.

O partido convocou uma reunião às pressas para colocar panos quentes na situação e suspender as articulações com Ciro até que uma solução fosse encontrada.

Na reunião, Michelle também se dirigiu a Flávio ao dizer que o enteado “é o escolhido e vamos trabalhar por ele”. A pré-candidatura do senador havia pegado a ex-primeira-dama de surpresa, e pessoas próximas a ela relataram ao Estadão, no dia do anúncio, ceticismo com o plano, pelo fato de Bolsonaro não ter avisado a esposa da decisão.

Na parte da manhã, Flávio se reuniu com os dirigentes estaduais do PL, também para formalizar a empreitada eleitoral. Ele distribuiu “santinhos” autografados aos participantes, em tom de campanha eleitoral, e reforçou que a candidatura “não é nenhum balão de ensaio”.

O descrédito sobre a convicção da iniciativa de Flávio foi levantado no domingo, quando o próprio senador afirmou ter um “preço” para retirar a candidatura, sugerindo se tratar de um blefe. Após a repercussão negativa do comentário, ele passou a afirmar que o projeto é irreversível, e que só desistiria dele se o pai pudesse concorrer no lugar dele ao Palácio do Planalto.

 

 

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