17 de dezembro de 2025
Politica

Juiz que Moro chamou de ‘ladrão aloprado’ se diz coagido e pede inquérito à PF

Chamado de “ladrão aloprado” pelo senador Sergio Moro (União Brasil-PR), o juiz afastado Eduardo Appio – investigado por suspeita de furtar champanhes em supermercados de Blumenau – pediu em carta ao diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a abertura de inquérito para apurar possível crime de coação no curso do processo, alegando que as declarações de Moro interferem em investigações sobre supostos abusos do ex-juiz e da força-tarefa da Lava Jato.

Para Moro, a representação de Appio “carece de qualquer lógica e base legal”. O senador disse ainda que “não tem culpa se o Juiz Appio resolveu furtar champanhes”.

Eduardo Appio afirma que Moro é um 'difamador contumaz', enquanto o senador o acusa de ser um 'ladrão aloprado'
Eduardo Appio afirma que Moro é um ‘difamador contumaz’, enquanto o senador o acusa de ser um ‘ladrão aloprado’

Appio – que sucedeu Moro nos processos da Lava Jato após o senador deixar a magistratura em 2018 para assumir o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro – afirma ser “testemunha-chave em três inquéritos sigilosos que tramitam no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli”. Segundo Appio, as declarações de Moro têm “natureza difamante” e configuram tentativa de coação nos procedimentos que investigam possíveis infrações do ex-juiz enquanto artífice da Lava Jato.

“Continuarei sendo testemunha no Supremo Tribunal Federal custe o que custar, independente das pressões de Moro e sua turma”, disse Appio à reportagem.

“As redes sociais de Sergio Moro, bem como sua influência junto a eleitores e redes de comunicação social nacional, visam o arquivamento ou absolvição do Senador Sergio Moro e seus cúmplices (inclusive Deltan Dallagnol)”, destacou Appio na carta à PF.

Ex-procurador da República, Deltan Dallagnol também se manifestou sobre a publicação de Moro no X, na qual o senador, além de chamar Appio de “ladrão”, afirmou que o juiz teria sido “escolhido pelo sistema” para “prejudicar a Lava Jato”.

“O juiz LUL22 está sendo acusado de roubar garrafas de champagne, com direito a imagens das câmeras de vigilância… se for tudo confirmado, com quem será que ele aprendeu a roubar?”, disparou Dallagnol no X, endossando as declarações de Moro.

O termo “LUL2022” faz referência ao código usado por Appio como sigla de acesso aos sistemas da Justiça Federal, adotado por ele como um protesto isolado contra a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.

As postagens de Moro e Dallagnol se baseiam no Processo Administrativo Disciplinar (PAD) conduzido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, que afastou Appio por tempo indeterminado das funções pelos supostos furtos. Appio estava na titularidade da 18.ª Vara Federal de Curitiba antes de ser afastado.

O processo disciplinar contra Appio foi aberto com base em um boletim de ocorrência da Polícia Civil de Santa Catarina que atribui a Appio o furto de garrafas de champanhe Moët Chandon em um supermercado de Blumenau.

Appio nega as acusações de furto e afirma que Moro “colocou um alvo nas suas costas em Curitiba, onde todos andam armados”.

‘Agressão digital’

“Após 31 anos de serviço publico honesto e imaculado, agora sofro, na condição de testemunha chave, agressão digital orquestrada com a finalidade de me coagir e interferir nos tramites dos inquéritos sigilosos (um dos quais teve recente busca e apreensão da sempre diligente PF na 13 vara federal de Curitiba – Vara da Lava Jato)”, anota Appio na carta, à qual o Estadão teve acesso.

Nas investidas de Moro contra Appio, o senador afirmou no X que ‘estranhamente, ainda correm inquéritos no STF instaurados a partir de suas fantasias caluniosas’.

Moro, assim como a carta de Appio, se referem às apurações sob a guarda do ministro do Supremo, Dias Toffoli, que autorizou no dia 3 de dezembro buscas na 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, berço da Lava Jato.

Toffoli determinou que o diretor da Secretaria da 13.ª Vara concedesse acesso à equipe policial aos processos mencionados nas acusações do empresário e ex-deputado Tony Garcia. Ele afirma que Moro o coagiu a produzir gravações ilegais contra autoridades.

Garcia afirma ter atuado como infiltrado de Moro desde o caso Banestado, no fim de 2004, até a Lava Jato, encerrada em 2021, após 80 fases ostensivas.

Sobre a atuação de Moro na 13.ª Vara Criminal Federal de Curtiba, Appio afirmou no documento que “todas as investigações contra Sérgio Moro e seus cúmplices somente tiveram início após a posse do ora requerente (Eduardo Appio) na 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba (em fevereiro de 2023). Desvios bilionários de fundos públicos da União e acordos de leniência fraudulentos tiveram seus sigilos retirados e comunicados os fatos a PGR, STF e CNJ (maio de 2023).”

‘Baixo calão’

Na carta endereçada à direção-geral da PF, Appio também afirmou que o senador utiliza o “mesmo modus operandi” empregado no caso envolvendo Moro e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Ferreira Mendes.

Em outubro, a Primeira Turma do STF formou maioria para manter como réu o senador por insinuar que o ministro Gilmar venderia decisões judiciais.

Appio afirmou no documento destinado à PF que “durante a sessão de julgamento do réu Sergio Moro no Supremo Tribunal Federal, os Excelentíssimos Senhores Ministros votantes insistiram na importância de reprimir este tipo de acusações e conceitos de baixo calão contra juízes e ministros”.

O processo em questão foi aberto com base em um vídeo que repercutiu nas redes sociais em abril de 2023. Na gravação, Sergio Moro afirma: “Não, isso é fiança, instituto… pra comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes”.

O senador se desculpou pela declaração. A defesa afirma que foi uma “brincadeira infeliz” e que não foi Moro quem editou e espalhou o vídeo nas redes.

 

 

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