19 de dezembro de 2025
Politica

A milésima segunda noite

Certo dia,

Odisseu não partirá;

Romeu não conhecerá Julieta;

Raskólnikov não cometerá crime algum;

Riobaldo não amará Diadorim.

Algum dia,

Jesus não morrerá na cruz;

Gabriel não visitará Maomé;

Buda não iluminará;

Shiva nada terá a destruir.

Nesse dia,

Chapéuzinho não irá pela floresta;

Pinóquio não contará mentiras;

Cinderela não esquecerá o sapatinho;

A princesa não beijará o sapo.

Um dia,

Não haverá pedra no meio do caminho.

Não existirá caminho, nem pedra.

Essas serão pré-estórias da pré-história da pré-estória…

E tudo terá sido um grande sim.

Dia a dia

Quando acordo, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando escovo os dentes, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando tomo café, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando abro a porta, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando me desloco, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando respiro, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando trabalho, repito atos mecânicose compulsivos.

Quando almoço, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando retorno ao trabalho, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando vou ao banheiro, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando olho o relógio, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando paro de trabalhar, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando volto para casa, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando me banho, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando cozinho a janta, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando ligo a televisão, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando lavo a roupa, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando me deito, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando penso, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando amo, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando choro, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando adormeço, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando sonho, repito atos mecânicos e compulsivos.

Quando repito atos mecânicos e compulsivos, ofereço à vida um sorriso.

Indefinições

Nostalgia é melancolia envelhecida;

Melancolia é tristeza em suspiros;

Tristeza é ilusão de verdade;

Verdade é inexistência de mentira.

Não creia em minhas palavras,

Sou um verdadeiro mitômano.

Minha consciência é artífice da trapaça;

Invento o mundo compulsivamente.

Minha franqueza é enganosa,

Não minto porque gosto:

Minto porque sou humano

Composto de parcos aforismos.

Verso é rio que corre;

Estrofe é vento que sopra;

Lágrima é oceano ínfimo;

Compor é sentir silêncios.

Poesia é mentira verdadeira;

Palavra que se perde;

Truísmo que se falseia;

Vida que sangra

Das veredas de cada um.

 

 

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