17 de dezembro de 2025
Politica

A irracionalidade do bolsonarismo

Há quem não consiga sequer lidar com um “soluço” — e, ainda assim, se arvora em “médico” da vida pública, prescrevendo ódio, desinformação e teorias conspiratórias, como se tais distorções da realidade pudessem resolver os problemas do Brasil.

É curioso observar como certos seguidores, em vez da confrontação direta, objetiva e racional dos fatos e da realidade institucional do país, preferem habitar uma “bolha impermeável” à prova, ao documento e à evidência.

Quando a lealdade a um líder vira dogma, qualquer dado contrário passa a ser “invenção”; qualquer decisão das instituições, “perseguição”; qualquer crítica, “traição”. Aí não é política: é culto à narrativa.

Não basta a incapacidade de resolver o pequeno — o soluço —; há, também, uma inaptidão mais grave, porque moral e cívica, para enfrentar o essencial: a erosão da razão pública e o declínio do senso de realidade que se manifesta em segmentos que, por devoção personalista, abdicaram do juízo crítico.

O que se nota, com inquietante nitidez, é a substituição do fato pela crença, da prova pela suspeita, do argumento pela injúria. Instala-se, então, esse fenômeno patológico do debate: a recusa obstinada da evidência, a hostilidade ao contraditório e a construção de um “universo paralelo” no qual a realidade — quando inconveniente — é denunciada como fraude, e a instituição — quando cumpre o dever — é acusada de conspiração.

Nada disso tem a ver com legítima divergência política. Divergir é próprio da democracia; negar a realidade, não. A adesão incondicional a um líder — ainda mais quando já reduzido, por suas próprias escolhas, à condição de réu condenado e encarcerado em razão de gravíssimos crimes por ele perpetrados contra a ordem constitucional e o regime democrático — converte a cidadania em seita, e a opinião em culto, gerando uma disfunção cognitiva coletiva que se alimenta da desinformação, da paranoia e do ressentimento.

Eis o ponto decisivo: uma República não se sustenta sobre mitologias salvacionistas, nem sobre fidelidades cegas; sustenta-se sobre a primazia da Constituição, sobre a integridade das instituições democráticas e sobre a responsabilidade moral de aceitar que a verdade dos fatos não se dobra à vontade de ninguém. Onde a mentira se torna método e a irracionalidade se converte em identidade, o que se corrompe, no limite, é a própria ideia de democracia.

Quando a lealdade a um líder vira dogma, qualquer dado contrário passa a ser “invenção”; qualquer decisão das instituições, “perseguição”; qualquer crítica, “traição”. Aí não é política: é culto à narrativa.

E esse “universo paralelo” cobra um preço alto: destrói a capacidade de discernir, envenena a convivência, rompe laços familiares, degrada o debate público e normaliza a agressividade como linguagem. Democracia exige razão, responsabilidade e compromisso com a verdade — e nada disso sobrevive onde a paixão cega substitui o pensamento.”

 

 

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