Antes de ação da PF, Previdência fez reunião fora da agenda para pressionar por mudanças no INSS
BRASÍLIA – O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, e o agora ex-número dois da pasta, Adroaldo Portal, preso nesta quinta-feira, 18, fizeram uma reunião fora da agenda, na noite de segunda-feira, 15, com superintendentes regionais do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), sem a presença do presidente da autarquia.
O encontro foi registrado na agenda oficial do ministério depois que a reportagem pediu esclarecimentos sobre a omissão. Oficialmente, a reunião serviu para tratar de “aprimoramento do atendimento aos beneficiários, com foco em melhorias nos sistemas utilizados nas agências da Previdência Social”.

O Estadão apurou com participantes da reunião, porém, que ela foi convocada pouco antes e teve como pano de fundo pressionar os superintendentes por apoio à mudança na presidência do INSS, hoje exercida pelo procurador federal Gilberto Waller Junior.
O plano de Wolney é emplacar Léa Bressy Amorim à frente do INSS. Servidora de carreira, ela é a substituta de Waller e responde também pela diretoria de Tecnologia da Informação do órgão. Amorim também esteve na reunião com Wolney e Adroaldo.
Na manhã de segunda-feira, 15, Wolney Queiroz fez um discurso para servidores do ministério e do INSS. Disse que quem faz as determinações e ordens deve ter “visão ideológica, política, alinhada com o centro de governo” e que “nós fazemos parte de um governo de esquerda”.
Ao definir o que é ser de esquerda, o ministro citou uma frase atribuída ao uruguaio Pepe Mujica. Na véspera, Léa Amorim havia publicado a mesma frase em uma foto na qual aparece com a bandeira do Partido dos Trabalhadores.
A mensagem foi interpretada como mais um recado contra a permanência de Waller no INSS, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) depois da primeira fase da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, contra o esquema de descontos associativos e suspeita de corrupção na autarquia.
Em novembro, Gilberto Waller pediu a Wolney Queiroz a demissão de Léa Amorim alegando que ela tinha “notória proximidade” com Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS preso por suspeita de envolvimento no esquema dos descontos associativos e de recebimento de propina. A diretora do INSS chegou a assinar um comunicado criticando a “espetacularização” da prisão de Stefanutto.
Ao ser perguntado sobre o motivo de a agenda não ter sido registrada, o Ministério da Previdência informou que “as agendas do ministro serão disponibilizadas até sexta-feira, como ocorre habitualmente”.
