Como em um país conservador, Lula segue desaprovado e favorito?
Na maioria das sondagens de opinião, quando é perguntado sobre valores, o brasileiro tende a se posicionar à direita do espectro político e social. É contra o aborto, contra a liberação do uso de drogas, a favor da diminuição da maioridade penal, entre outros temas divisivos. É também antiliberal, no sentido ainda de confiar no Estado como indutor da economia e mesmo controlador de suas vidas.
Temos também uma conjuntura em que os índices de desaprovação do presidente da República são levemente superiores aos de aprovação. Mesmo assim, hoje, Luiz Inácio Lula da Silva é favorito para ser reeleito presidente da República em 2026, de acordo com todas as sondagens, públicas e as internas dos partidos.

A explicação para tal prodígio possui muitas camadas. Mas tem a ver também com um hábito comum da política brasileira, em que caciques políticos preferem perder as eleições a permitir escapar o controle do grupo político. Ao lançar o senador Flávio para a presidência, com poucas chances de vitória por causa da ojeriza que o centro tem ao sobrenome, a família Bolsonaro pensa em seu próprio futuro, e não o do Brasil. Não quer passar a liderança da direita para ninguém.
Preferido dos mercados e de parte do setor produtivo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não conseguiu solucionar a quadratura do círculo de ser um candidato com aval de Bolsonaro e não ser bolsonarista. Para também conquistar aquele eleitor que vai votar no que menos rejeita. O jogo segue aberto, mas a equação do governador segue sem ser solucionada. Ao contrário, é bombardeado dia sim e dia sim também pelas falanges bolsonaristas comandadas pelos filhos mais novos de Jair Bolsonaro, Carlos e Eduardo.
O que poderíamos chamar de centro democrático parece ter aberto mão até mesmo de concorrer. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, sepultou suas chances ao migrar para o PSD. O PSDB afundou-se numa miríade de questões que envolvem disputas internas, a razia da Lava-jato e o fenômeno mundial da decadência dos partidos com posições moderadas. Os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e Ratinho Jr, do Paraná, seguem como franco-atiradores.
Não podemos dizer que o governo Lula seja um fracasso. Os índices como emprego e renda são os melhores da série histórica, entre alguns dados razoáveis em que não há como negar. Finalmente nos recuperamos da crise gestada no governo Dilma Rousseff. Mas também não é um grande sucesso. O crescimento do PIB parece ter se exaurido e o aumento do déficit pode colocar todas as conquistas em risco subitamente.
Num momento mundial de crescimento da direita, haveria uma janela de oportunidade no Brasil para seus representantes. Mas o seguimento entrou no labirinto, até agora, das rusgas internas. Entre à extrema-direita, a briga se transformou em baixaria explícita, com troca de acusações e ofensas, confiram esse submundo nas redes. Soma-se a isso decisões equivocadas como se fiar em ações do volúvel presidente americano, Donald Trump, que pode ficar no final dessa história como um amigo de conveniência de Lula. Neste momento, os autodenominados conservadores estão sem discurso e sem propostas. Hoje, o governo observa de camarote os desatinos do campo adversário.
