19 de dezembro de 2025
Politica

‘Enterro’ de candidatura de Tarcísio após pesquisa é exagero, mas tempo joga contra o governador

O cenário de desânimo entre aliados de Tarcísio de Freitas e a reação amarga do mercado após o resultado da pesquisa Genial/Quaest que mostrou Flávio Bolsonaro melhor posicionado que o governador na disputa ao Palácio do Planalto em 2026 é compreensível. Contudo, a análise mais fria dos dados mostra que eles nem de longe justificariam o repetino clima de “enterro”. Entre outras coisas, por não haver nada de muito surpreendente neles. O grande desafio de Tarcísio continua sendo o fato de seu tempo para decidir ser bem mais curto do que os 10 meses que separam a pesquisa da ida do eleitor às urnas.

O principal ponto da pesquisa, sobre a “força” de Tarcísio ou de Flávio para enfrentar Lula, não pode ser medido apenas pelo resultado em primeiro turno. E mesmo o resultado semelhante nos dois no segundo turno, com uma desvantagem de 10 pontos em relação ao petista, precisa ser visto com ressalvas, já que o desconhecimento de Tarcísio é mais do que o dobro de Flávio nesse momento.

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, comentou mudanças no PL Antifacção
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, comentou mudanças no PL Antifacção

Houve também quem se assustasse com o fato de Tarcísio de Freitas aparecer pior no cenário de primeiro turno que inclui Flávio do que Ratinho Júnior (PSD), por exemplo. Mas considerando que Tarcísio é o que é graças a Bolsonaro e Ratinho tem um eleitorado um pouco mais diverso, seria natural que houvesse vantagem ao paranaense no cenário com um filho do presidente concorrendo. Também é por essa razão, entre outras, que Tarcísio nunca disputaria uma eleição contra um familiar de Bolsonaro.

Também a rejeição de Tarcísio, crescente na pesquisa, em relação aos levantamentos anteriores, precisa ser olhada com lupa. O aumento se deu à direita, o que indica que a pressão por Flávio, somada à reação do Centrão para manter Tarcísio na jogada, empurrou o governador para uma imagem mais ao centro. Com isso, a rejeição a Tarcísio saltou 19 pontos entre bolsonaristas e 23 pontos entre direitistas não bolsonaristas. Quando se olha os independentes, houve queda de três pontos. Entre esquerdistas, redução de seis pontos e, entre lulistas, aumento de 5 pontos, dentro da margem de erro quando se divide o eleitorado nessas fatias. Se o crescimento da rejeição a Tarcísio se deu à direita, o eventual apoio de Bolsonaro poderia corrigir o problema nesse espectro, tornando-o mais competitivo que Flávio.

Os grandes problemas de Tarcísio, contudo, são o fato de o bolsonarismo não ser movido por números frios, como se viu com a reação aos resultados do levantamento, e, principalmente, o tempo que o governador tem para decidir sobre uma saída do cargo para concorrer.

Os dez meses até a eleição ou os oito até a definição das candidaturas são bastante tempo para que as fragilidades de Flávio sejam expostas. Os pouco mais de três meses até o fim do prazo de desincompatibilização, ainda mais considerando o esvaziamento político de janeiro, talvez não sejam. Sobretudo quando se sabe que seria necessário que o governador se apresentasse mais ao País de agora em diante para compensar o desconhecimento.

Amarrado à lealdade a Bolsonaro que o impede que viaje o Brasil a torto e a direito em pré-campanha, leva muito mais tempo para que o cidadão conheça de fato Tarcísio. E o reflexo disso gera uma desmobilização de aliados que é fatal para uma candidatura presidencial e para o esforço de convencer a família Bolsonaro a abrir mão do osso.

 

 

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