‘Enterro’ de candidatura de Tarcísio após pesquisa é exagero, mas tempo joga contra o governador
O cenário de desânimo entre aliados de Tarcísio de Freitas e a reação amarga do mercado após o resultado da pesquisa Genial/Quaest que mostrou Flávio Bolsonaro melhor posicionado que o governador na disputa ao Palácio do Planalto em 2026 é compreensível. Contudo, a análise mais fria dos dados mostra que eles nem de longe justificariam o repetino clima de “enterro”. Entre outras coisas, por não haver nada de muito surpreendente neles. O grande desafio de Tarcísio continua sendo o fato de seu tempo para decidir ser bem mais curto do que os 10 meses que separam a pesquisa da ida do eleitor às urnas.
O principal ponto da pesquisa, sobre a “força” de Tarcísio ou de Flávio para enfrentar Lula, não pode ser medido apenas pelo resultado em primeiro turno. E mesmo o resultado semelhante nos dois no segundo turno, com uma desvantagem de 10 pontos em relação ao petista, precisa ser visto com ressalvas, já que o desconhecimento de Tarcísio é mais do que o dobro de Flávio nesse momento.

Houve também quem se assustasse com o fato de Tarcísio de Freitas aparecer pior no cenário de primeiro turno que inclui Flávio do que Ratinho Júnior (PSD), por exemplo. Mas considerando que Tarcísio é o que é graças a Bolsonaro e Ratinho tem um eleitorado um pouco mais diverso, seria natural que houvesse vantagem ao paranaense no cenário com um filho do presidente concorrendo. Também é por essa razão, entre outras, que Tarcísio nunca disputaria uma eleição contra um familiar de Bolsonaro.
Também a rejeição de Tarcísio, crescente na pesquisa, em relação aos levantamentos anteriores, precisa ser olhada com lupa. O aumento se deu à direita, o que indica que a pressão por Flávio, somada à reação do Centrão para manter Tarcísio na jogada, empurrou o governador para uma imagem mais ao centro. Com isso, a rejeição a Tarcísio saltou 19 pontos entre bolsonaristas e 23 pontos entre direitistas não bolsonaristas. Quando se olha os independentes, houve queda de três pontos. Entre esquerdistas, redução de seis pontos e, entre lulistas, aumento de 5 pontos, dentro da margem de erro quando se divide o eleitorado nessas fatias. Se o crescimento da rejeição a Tarcísio se deu à direita, o eventual apoio de Bolsonaro poderia corrigir o problema nesse espectro, tornando-o mais competitivo que Flávio.
Os grandes problemas de Tarcísio, contudo, são o fato de o bolsonarismo não ser movido por números frios, como se viu com a reação aos resultados do levantamento, e, principalmente, o tempo que o governador tem para decidir sobre uma saída do cargo para concorrer.
Os dez meses até a eleição ou os oito até a definição das candidaturas são bastante tempo para que as fragilidades de Flávio sejam expostas. Os pouco mais de três meses até o fim do prazo de desincompatibilização, ainda mais considerando o esvaziamento político de janeiro, talvez não sejam. Sobretudo quando se sabe que seria necessário que o governador se apresentasse mais ao País de agora em diante para compensar o desconhecimento.
Amarrado à lealdade a Bolsonaro que o impede que viaje o Brasil a torto e a direito em pré-campanha, leva muito mais tempo para que o cidadão conheça de fato Tarcísio. E o reflexo disso gera uma desmobilização de aliados que é fatal para uma candidatura presidencial e para o esforço de convencer a família Bolsonaro a abrir mão do osso.
