Fraude no INSS: empresário preso pela PF movimentou R$ 34 milhões e Coaf vê indício de lavagem
O empresário Adelino Rodrigues Junior, preso pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 18, e apontado pela investigação como figura “fundamental” no suposto esquema criminoso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), movimentou R$ 34 milhões em dois anos, com indícios de lavagem de dinheiro. O montante incluiu a compra e venda de um Porsche em cinco meses. Os dados, obtidos pela Coluna do Estadão, foram enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à CPI do INSS.
Procurada, a defesa de Adelino afirmou que não teve acesso ao relatório do Coaf e que os valores apontados estão “superdimensionados, ao que tudo indica”. Os advogados acrescentaram que Adelino está “integralmente à disposição das autoridades” desde o começo das investigações contra fraudes no INSS. Leia o comunicado ao fim da reportagem.
A decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a prisão de Adelino nesta quinta-feira, afirma que ele auxiliava diretamente o empresário Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, apontado pela PF como personagem central do suposto esquema criminoso. Na operação, também foi alvo de busca e apreensão o senador Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder do governo Lula no Senado. O secretário-executivo do INSS, Adroaldo Portal, passou a cumprir prisão domiciliar.
Os alertas do Coaf após analisar as contas do empresário
Segundo o relatório do órgão de combate à lavagem de dinheiro enviado à CPI do INSS, Adelino fez diversas transações suspeitas. O Coaf fez os seguintes alertas sobre as movimentações financeiras de Adelino, que somaram R$ 34 milhões nos últimos dois anos:
- Movimentação incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira;
- Recebimento de créditos com o imediato débito dos valores;
- Movimentação de quantia significativa por meio de conta até então pouco movimentada, ou de conta que acolha depósito inusitado;
- Operações que configurem artifício para burla da identificação de origem, destino, responsáveis ou destinatários finais;
- Transferências de dinheiro em espécie atípicas em relação à atividade econômica ou capacidade financeira;
- Movimentação de recursos de alto valor, de forma contumaz, em benefício de terceiros.
O Coaf identificou “possível atuação (de Adelino) como intermediário na circulação de valores de terceiros, prática comumente associada à ocultação da origem de recursos e à tipologia de lavagem de dinheiro por interposição de pessoa”.
Durante apenas cinco meses, entre outubro de 2024 e março de 2025, Adelino comprou um Porsche por R$ 680 mil e vendeu o carro de luxo por R$ 500 mil. O Coaf chamou a atenção para a rapidez da operação.
Ao longo de outubro do ano passado, Adelino movimentou R$ 6,6 milhões em uma conta bancária. Foi o maior fluxo de dinheiro em menor tempo citado pelo Coaf à CPI do INSS.
Adelino tinha ‘atuação estruturada’ para ocultar dinheiro ilegal da fraude do INSS, diz decisão do STF
A operação da PF que prendeu Adelino nesta quinta-feira foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do STF. O magistrado atendeu a pedidos da corporação e da Procuradoria-Geral da República ao decretar a prisão preventiva do empresário.
De acordo com a decisão, Adelino ajudava diretamente o empresário Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, personagem central da fraude, segundo as investigações.
“Adelino desempenhava função fundamental: a operacionalização do fluxo financeiro interno do esquema, auxiliando diretamente Antonio (Careca do INSS) em negócios que envolviam empresas fictícias, repasses dissimulados, contratos simulados e ajustes contábeis elaborados para afastar o rastro da origem criminosa dos recursos”, afirmou a decisão do ministro, acrescentando que Adelino aparece na investigação como “integrante relevante do núcleo administrativo” ligado ao Careca do INSS.
“Não se trata de personagem periférico, mas de indivíduo com atuação estruturada em atividades destinadas à ocultação, movimentação e reintegração de valores ilícitos”, continuou André Mendonça na decisão.
Ainda segundo o documento, o empresário Adelino Rodrigues participava de decisões estratégica nas empresas do Careca do INSS, principalmente na “manutenção da fachada empresarial necessária ao ciclo contínuo de lavagem”.
Mensagens mostram foto de cofre com R$ 500 mil
No celular de Adelino, a PF encontrou uma foto de um cofre com R$ 500 mil, enviada por ele ao empresário Domingos Sávio de Castro, também preso nesta quinta-feira. Segundo a corporação, Adelino obteve um cofre em dezembro de 2023, por orientação de Domingos Sávio, e, no mês seguinte, enviou a foto para comprovar a alta quantia de dinheiro guardado.
Leia o comunicado da defesa de Adelino Rodrigues Junior
“A defesa técnica de Domingos Sávio de Castro, Rubens Oliveira Costa e Adelino Rodrigues Junior informa que, desde o início das apurações relacionadas à “Operação Sem Desconto”, tem adotado postura colaborativa, transparente e responsável, colocando seus constituintes integralmente à disposição das autoridades competentes.
Nesse sentido, foram protocoladas diversas manifestações perante o Supremo Tribunal Federal, reafirmando o compromisso da defesa com o esclarecimento dos fatos e com o regular andamento das investigações.
No que se refere especificamente ao Sr. Adelino Rodrigues Junior, a defesa esclarece que ainda não teve acesso aos relatórios do COAF nem aos documentos que deram origem aos apontamentos ali constantes. Em razão disso, não é possível, neste momento, tecer considerações técnicas acerca dos valores mencionados, os quais, ao que tudo indica, encontram-se superdimensionados.
Quanto ao Sr. Domingos Sávio de Castro, a defesa destaca que ele atuava como sócio de duas empresas de call center e prestava serviços a diversas outras empresas e associações, não tendo participado de qualquer negociação com o INSS.
Ressalte-se, ainda, que, até o presente momento, a defesa não obteve acesso integral aos autos do procedimento, motivo pelo qual desconhece os fundamentos que embasaram a decretação das prisões preventivas. O acesso completo somente será possível após a liberação formal dos autos pelo Supremo Tribunal Federal.
Por fim, a defesa reafirma sua confiança nas instituições, no devido processo legal e na apuração técnica, imparcial e responsável dos fatos, permanecendo à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos no momento oportuno, assim que tiver pleno conhecimento do conteúdo dos autos.
Barroso & Coelho Advocacia”

