Viaduto em homenagem a pai de Bolsonaro foi nomeado com placa antes de aprovação de projeto na Alesp
Um viaduto sobre a Rodovia Anchieta foi nomeado em homenagem ao pai do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sem a aprovação do projeto de lei autorizando a denominação.
Localizado no Rodoanel, o Viaduto Protético Geraldo Bolsonaro já conta com placa de identificação desde, ao menos, agosto de 2024, segundo imagens do Google Street View, embora o projeto autorizando a homenagem só tenha sido aprovado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) na quarta-feira, 10 de dezembro.
Mesmo aprovado na Alesp, o projeto ainda não virou lei, e aguarda sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A homenagem foi proposta pelo deputado estadual Paulo Mansur (PL). Questionado, o parlamentar afirmou que não pediu a instalação da placa. “Isso já aconteceu com diversos homenageados”, disse Mansur sobre a nomeação do local antes da autorização por lei. “Não é responsabilidade minha. É da concessionária”, completou o deputado.
O viaduto está em um trecho sob concessão da SPMAR, que foi procurada, mas não respondeu. O Estadão também contatou a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável por fiscalizar rodovias concedidas, mas não houve retorno. Em nota, a Alesp informou que a proposta tramitou “conforme determina o Regimento Interno”.
Nas redes sociais, Paulo Mansur comemorou o aval à proposta em uma comissão da Alesp como se o projeto estivesse aprovado em definitivo. No dia 5 de novembro, a homenagem foi aprovada pela Comissão de Transportes. Dali, ainda seguiria para a Comissão de Constituição, Justiça e Redação, onde receberia redação final. “A gente não votou só um viaduto. A gente votou um reconhecimento de uma história”, justificou o deputado.
Paulo Mansur é autor de projetos de lei para batizar trechos de rodovias em homenagens a Angelo e Elza Bolsonaro, avós paternos do ex-presidente. Também foi o deputado quem propôs a entrega do Colar de Honra ao Mérito da Alesp ao deputado federal Mario Frias (PL-SP) e ao vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL). A solenidade ocorreu no dia 5 de dezembro.
Quem foi Geraldo Bolsonaro, pai de Jair Bolsonaro?
Filho de imigrantes italianos, Percy Geraldo Bolsonaro nasceu em 25 de dezembro de 1927 em Campinas, no interior de São Paulo. Era dentista prático, ou seja, exercia a profissão mesmo sem formação na área.
Torcedor do Palmeiras, deu ao segundo filho o nome de Jair em homenagem ao lendário meia Jair Rosa Pinto. Morreu em agosto de 1995, aos 67 anos, vítima de um câncer de pulmão. Antes do viaduto sobre a Anchieta, deu nome a uma escola em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Em um discurso na tribuna da Câmara em 2014, o então deputado federal Jair Bolsonaro declarou, sem apresentar provas, que o pai foi encarcerado pelo governo de João Goulart. O episódio também é citado no livro Mito ou Verdade, uma biografia do ex-presidente escrita por Flávio Bolsonaro.
“Em Ribeira, havia dois ‘partidos políticos’: os ‘pé liso’ – pessoas mais abastadas por usarem sapatos — e os ‘pé rachado’ — pessoas mais humildes, que andavam descalças, representando os pobres”, escreveu Flávio. “Certa vez, o ‘pé rachado’ Geraldo acabou sendo vítima de perseguição política, e a represália foi trancafiá-lo numa cela na delegacia local, por exercício ilegal da profissão.” O livro não fornece mais detalhes sobre o caso, como a data da detenção.
Por outro lado, existem documentos comprovando que a ditadura militar fichou o pai de Bolsonaro e monitorou suas atividades políticas. Geraldo era filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), grupo de oposição ao regime, e assumiu funções de dirigente do partido em Eldorado, no interior paulista, além de ter concorrido a cargos eletivos pela sigla.
Em 1976, a unidade de Santos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) pediu ao Serviço Nacional de Informações (SNI) um dossiê sobre candidatos das eleições municipais daquele ano. Geraldo é citado como postulante a prefeito de Eldorado, mas o protético, na verdade, concorria ao cargo de vereador. Ele não foi eleito.

A ficha revela um antecedente na Justiça: um processo pelo crime de “exercício ilegal da medicina, odontologia ou farmácia”, do qual acabou absolvido.
Os documentos do Dops sobre Geraldo Bolsonaro estão disponíveis para consulta pública no Arquivo Público do Estado de São Paulo, enquanto o registro do SNI foi digitalizado pelo Arquivo Nacional.
