30 de dezembro de 2025
Politica

Dá para evitar a catástrofe?

Mal encerrada a COP30 e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulga a sétima edição do relatório Panorama Ambiental Global. Os responsáveis a consideram a mais abrangente das avaliações já realizadas. É o resultado dos estudos de 287 pesquisadores de 82 países. É um potente documento, que sintetiza a desconfortável situação da saúde da Terra. Para Ying Wang, uma das coordenadoras do texto, a mensagem é muito simples: “o tempo está acabando, mas as soluções existem”.

Não é novidade que a sociedade humana acelerou a rota para o colapso total dos sistemas naturais, sejam terrestres, aquáticos, marinhos e atmosféricos. Caminhamos para o fim, aparentemente sem a consciência de que dependemos de tais sistemas para a nossa sobrevivência e para a presumível e desejável viabilidade de novas gerações assumirem o nosso lugar.

Continuamos a emitir os gases venenosos do efeito estufa. Simultaneamente, perseveramos no desmatamento, na equivocada e cruel ocupação do solo, fabricando desertos, sacrificando a biodiversidade. Não nos preocupamos com a acidificação dos oceanos, convivemos com a caça e pesca predatória. Degradamos e conspurcamos tudo. É a combinação cataclísmica de uma série de malfeitos que nos aproximam de um melancólico final de convívio neste maltratado planeta.

A mensagem dos cientistas, que durante décadas nos alertaram, não chegou à consciência dos governantes. Menos ainda, na mente do comum dos homens. O gravíssimo problema não é meramente ambiental. É gravíssima crise econômica, social e existencial. Já são sentidas nefastas repercussões na saúde, na segurança alimentar, hídrica, energética e climática de bilhões de seres humanos.

A poluição do ar ceifa a vida de mais de oito milhões de pessoas por ano. A maior parte dos usuários do mais egoísta meio de transporte, o automóvel, continua a se servir de gasolina, embora o Brasil possua, há mais de meio século, a solução do etanol.

A humanidade não respeita os compromissos assumidos. Por exemplo, o Acordo de Paris, firmado há dez anos. O negacionismo, qual enfermidade letal, ainda sem vacina, recrudesce e faz proliferar declarações surreais. Ainda se associa a ecologia à pauta da esquerda, sem lembrar que não haverá sobreviventes ao final deste ecocídio premeditado ou ao menos consentido, na cumplicidade de quem nada faz para reverter o quadro dantesco que se avizinha a passos largos.

A extinção das espécies é uma realidade. Quase metade da área terrestre já se encontra degradada, o que se constatou em 2022. Alguém acredita que houve interrupção ou queda no processo de extermínio da biodiversidade?

Só no período entre 2015 e 2019, mais de cem milhões de hectares, (dimensão que equivale à Etiópia ou à Colômbia) de terras férteis e produtivas foram dizimadas.

Uma sociedade privada de consciência produz resíduos sólidos superiores a dois bilhões de toneladas a cada ano. Para exemplificar, só a cidade de São Paulo é responsável por mais de quinze mil toneladas diárias de desperdício. Apenas 3% desse montante chega à reciclagem, pois a população ignora, não se importa ou não quer separar nas singelas duas frações: produto orgânico de um lado, resíduos secos do outro. E continua o insensato consumismo, desperdício e descarte excessivo. O globo está se transformando numa esfera de imundícies.

Vive-se o mundo fictício dos discursos e das propostas não levadas a sério. Pois os ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável têm prazo de validade até 2030 – daqui a pouquinho! – e quantos deles foram de fato atacados e atendidos?

Há quem acredite ser possível o milagre da salvação da vida. Isso se houver seriedade e urgência, dois atributos que faltam à maior parte da espécie que se considera racional. Talvez os detentores do estupendo capital que fez praticamente desaparecer o vetusto conceito de soberania, sejam mais sensíveis à mensagem de que uma atuação firme, em favor da Terra, geraria um retorno para a economia global de vinte trilhões de dólares a cada ano, a partir de 2050. Algo que chegaria a cem trilhões de dólares por ano, a partir de 2070.

Terão juízo esses “donos do mundo”? Considerariam a hipótese de estarem vivos nesses dois marcos: 2050 e 2070? Importar-se-iam com seus filhos e netos, que, para atingir tais datas, precisam de uma ação coordenada e concentrada que deveria ter começado há tempos?

Quem pode confiar numa súbita conversão dos empedernidos dendroclastas, que ainda se consideram os “donos” da natureza? É torcer e esperar por esse fato insólito, inaudito, mas imprescindível, que é a comoção dos humanos. Sem isso, adeus aventura sobre o planeta Terra.

 

 

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