Lula e o PT acham que Congresso bom é Congresso que faz exatamente o que o governo quer
É sempre a mesma gritaria, a cada vez que o Congresso Nacional aprova alguma coisa que o regime não quer, ou se recusa a fazer o que ele quer que seja feito. “Não dá para governar com um Congresso desses”, proclamam Lula, o PT, os intelectuais orgânicos e as facções da mídia que consideram o presente governo, de um jeito ou de outro, um “avanço civilizatório” para o Brasil.
Como a ideologia que só considera bandido bom o bandido que está morto, essa gente toda, no fundo, acha mesmo que Congresso bom é Congresso que faz exatamente o que o governo Lula quer. Não aprovou o aumento do IOF tal como o governo queria? Então é o pior, ou um dos piores, parlamentos que este país já teve – atrasado, reacionário, safado, pró-rico, anti-pobre. Fecha logo essa droga, então.

Não se iluda: é esse o sujeito oculto da frase-guia do regime. Se as decisões dos deputados e senadores não podem nunca contrariar o sistema Lula-STF, o que adianta então manter o Congresso aberto? Manda a AGU fazer as leis, ou algo assim, o STF aprova tudo e o Tesouro economiza os R$ 14 ou R$ 15 bilhões que gasta por ano com o legislativo nacional – mais de R$ 1 bi por mês.
O Congresso é ruim? Pode ser, mas onde está escrito que ele tem a obrigação de ser bom? E teria de ser bom de acordo com o critério de quem – da Executiva Nacional do PT? O país tem o Congresso que o eleitorado brasileiro quer que tenha, ou aceita ter. Isso que está aí é o espelho do povo e da sua vontade, nem mais e nem menos. Não gostam desse povo? É pena. Não dá para trocar pelo da Dinamarca.
O aumento do IOF foi massacrado por uma votação de 383 a 98 na Câmara dos Deputados. Se isso não é uma manifestação da vontade mais óbvia da maioria da população, o que poderia ser? O governo, indignado, falou de decisão em favor dos “ricos” – o que é falso, pois todo o imposto bate no pobre. Mas não ocorreu a ninguém que a surra no placar pudesse refletir, quem sabe, o que o povo quer.
O governo já foi correndo para a saia do STF, na esperança, mais uma vez, de anular no tapetão um projeto aprovado de forma lícita na Câmara – um novo atestado de óbito para a democracia à beira do coma que está aí. Não é uma questão técnica. Ninguém ali está interessado na qualidade das decisões parlamentares – o que eles não admitem é um Congresso independente.
O STF acaba de impor a censura nas redes socais; como o Congresso não “fazia a lei”, os ministros “tiveram” de fazer. É falso. Havia a lei – mas o STF não gostava dela e aprovou uma a seu gosto. Pode não gostar agora da decisão sobre o IOF. Nesse caso, os votos dos 383 deputados que disseram “não” já estão no lixo.