3 de julho de 2025
Politica

Tribunal de Santa Catarina escala ‘juízes sem rosto’ para enfrentar facções do crime organizado

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina criou a Vara Estadual de Organizações Criminosas que vai concentrar todas as ações contra facções do crime. Ante a violência extremada adotada por quadrilhas dedicadas ao tráfico e a outros delitos, a Corte escalou um efetivo de ‘juízes sem rosto’. Eles vão trabalhar sob rigoroso anonimato.

Toda decisão judicial e todo trabalho de secretaria serão anônimos na unidade do crime organizado ‘para a segurança e tranquilidade dos magistrados e dos servidores’, informou o Tribunal.

Para blindar os juízes que vão atuar na Vara do crime organizado foi criado um sistema no Teams, desenvolvido pela Microsoft, pelo qual haverá distorção facial e do som da voz do magistrado ao presidir uma audiência, para que não seja possível identificar se é homem ou mulher e as características pessoais.

Além de impedir a identificação de juízes e juízas pela imagem e pelo som, a nova tecnologia desenvolvida fará o reconhecimento facial de testemunhas. A inteligência artificial do novo sistema ainda poderá degravar as audiências, com transcrição literal em texto do conteúdo em áudio ou vídeo.

A vara será composta de cinco magistrados e magistradas, além de 35 servidores e servidoras. Já nasce com um acervo de 2.087 processos, dos quais 1.841 em andamento e 246 suspensos. Os julgamentos serão colegiados e anônimos.

Vara Estadual de Organizações Criminosas que vai concentrar no Tribunal de Justiça de Santa Catarina todas as ações contra facções do crime organizado.
Vara Estadual de Organizações Criminosas que vai concentrar no Tribunal de Justiça de Santa Catarina todas as ações contra facções do crime organizado.

A unidade funcionará na comarca da Capital porque a região da Grande Florianópolis conta o maior percentual de processos relacionados às organizações criminosas do Estado, na ordem de 30,1%.

“Os julgamentos dos processos de organizações criminosas precisam ter um tratamento diferenciado dos demais crimes e de uma estrutura adequada também para o seu processamento”, avalia o presidente em exercício do Tribunal, desembargador Cid Goulart.

‘SONHO DE JUSTIÇA’

O desembargador reputa o avanço das facções como ‘um assunto muito grave, muito importante, debatido em todo o mundo’. “Com a participação de todos os órgãos de segurança e da sociedade em geral, estamos concretizando o que eu entendo ser um verdadeiro sonho de Justiça, onde os magistrados e servidores terão segurança, tranquilidade e, sobretudo, saúde mental.”

A Vara Estadual de Organizações Criminosas terá competência sobre todo o território catarinense. Ela julgará as ações que envolvem os crimes praticados pelas organizações criminosas, mas há três exceções – processos de competência do Tribunal do Júri, de violência doméstica e do Juizado Especial Criminal.

De acordo com o mapa divulgado pela Corregedoria, a região do Vale do Itajaí concentra o segundo maior percentual de processos sobre organizações criminosas, 22,08%. A região da Serra, com 7,8%, reúne o menor percentual.

“As organizações criminosas não respeitam limites físicos e, mesmo tendo seus líderes trancados a sete chaves em penitenciárias de segurança máxima, continuam comandando atividades criminosas”, alerta a procuradora-geral de Justiça de Santa Catarina, Vanessa Cavallazzi.

A chefe do Ministério Público avalia que ‘as antigas estruturas não tinham condições adequadas de fazer frente’ ao crime organizado. “Teremos o combate de forma intensiva e adequada.”

 

 

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