Tarcísio não precisa de Bolsonaro e deveria ouvir os generais
Não há nada que tenha feito mais mal à estabilidade e à segurança do País do que a complacência com criminosos. Na Itália, a máfia que matou o juiz Giovanni Falcone. No Brasil, foram policiais que mataram a juíza Patrícia Acioli e o delator Antonio Vinícius Gritzbach. A violência policial e a ligação desta com facções e milícias têm como uma de suas causas a impunidade.
Estudou-se muito as consequências políticas da Lei de Anistia e pouco as policiais. Quem era o delegado envolvido com tortura e achaques no sequestro do banqueiro Beltran Martinez se não um ex-integrante da equipe de Sérgio Fleury? Ou os PMs que saíram do DOI-Codi e passaram a matar na Rota e o capitão bicheiro no Rio? A impunidade no nível operacional gerou mais crime, levando baderna onde havia desordem. E permitiu ao crime se organizar e a policiais roubar e matar. Se isso é terrível na Segurança, pior nas Forças Armadas. Aqui estão em jogo as liberdades. Não é por outra razão que aspirar à tirania é o pior dos crimes em uma República. Se nenhum país se pacificou com punições injustas e amplas – como querem os defensores de Cuba e de El Salvador -, tampouco o fez com impunidade de ocasião.
Ao defender a ideia de que a anistia aos golpistas de 2022 é a forma de pacificar o País, o governador Tarcísio de Freitas conta uma lorota disfarçada de esperteza. Dizem que ele quer garantir os votos de Bolsonaro em 2026 ou 2030. E convencer pessoas que jamais votarão no PT – e são muitas que têm razões de sobra para isso – de que o objetivo é a paz. Para ter o voto dessas pessoas, Tarcísio não precisa de Bolsonaro. Mas devia ouvir os generais.
Eles dizem que as anistias aos PMs grevistas nos últimos 30 anos só engendraram motins futuros e que, se os militares golpistas forem anistiados – entre eles Bolsonaro -, o País vai contratar a próxima baderna nos quartéis.
Os efeitos da impunidade no Brasil serão piores do que a de Trump? Quando Lula foi preso por 580 dias, Lulinha não ameaçou usar a força contra a Justiça. Bolsonaro nem foi para o xilindró e Flávio já fez essa ameaça. É isso a pacificação? Do que será capaz se o pai voltar ao poder?
Por fim, entre os tenentes rebeldes dos anos 1920 anistiados em 1930 estava Eduardo Gomes. Austero, ele entregava parte do salário de brigadeiro aos pobres de Petrópolis. Jamais pediu dinheiro – ou Pix – aos que acreditavam em seus ideais.
Quando estava no poder, Bolsonaro decidiu que ministros militares podiam acumular salários acima do teto. Multiplicaram-se sinecuras. A diferença entre anistias passadas e a que Tarcísio quer dar ao chefe é que as pretéritas se dirigiam a idealistas. Agora se quer perdoar o dinheiro na caixa de vinho.