15 de agosto de 2025
Politica

Ala majoritária do PT busca manter hegemonia, mas enfrenta crises em Estados

Os filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) vão às urnas neste domingo, 6, para escolher a nova direção da sigla. A eleição interna definirá os presidentes do partido nos âmbitos municipal, estadual e nacional, além da composição dos diretórios em todo o País. Os dirigentes eleitos terão a missão de conduzir o PT durante a campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano que vem.

Nos Estados, integrantes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual Lula é ligado, projetam a eleição de 18 a 20 presidentes estaduais. Essas estimativas refletem a hegemonia histórica da CNB, considerada a principal força interna da legenda.

Próximos dirigentes do PT terão a missão de conduzir a sigla durante a campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026
Próximos dirigentes do PT terão a missão de conduzir a sigla durante a campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026

Criado em 2001, o Processo de Eleição Direta (PED) é o símbolo máximo da democracia interna do PT. Porém, a disputa deste ano tem sido marcada por tensão, com denúncias de filiações em massa, acusações de golpe e até judicialização. E não é a primeira vez que isso ocorre. Em 2017, o PT anulou o PED em 30 cidades paulistas por suspeitas de fraudes, incluindo a contagem de votos de filiados já falecidos.

No PED de 2025, um dos cenários mais conturbados ocorre em Minas Gerais, onde a CNB lançou a deputada estadual Leninha como candidata à presidência do diretório estadual. No entanto, lideranças da própria tendência declararam apoio à deputada federal Dandara Tonantzin, ligada à corrente Resistência Socialista.

Os conflitos dentro da CNB mineira não são recentes. Nas eleições municipais de 2024, diferentes alas da tendência apoiaram candidatos distintos à prefeitura de Belo Horizonte. Essa divisão se agravou nesta semana, quando o Diretório Nacional do PT decidiu anular a candidatura de Dandara. Como o órgão é a instância máxima de deliberação da sigla, não há possibilidade de recurso.

O argumento para a anulação foi o pagamento fora do prazo de uma dívida de mais de R$ 130 mil que Dandara mantinha com o partido. O regulamento do PED exigia que pendências financeiras fossem quitadas até 29 de maio.

Segundo a deputada, ela tentou efetuar o pagamento dentro do prazo, mas a operação foi estornada pelo banco, a obrigando a refazer a transação dias depois.

A decisão provocou forte reação entre aliados de Dandara, como o deputado federal Reginaldo Lopes e o atual presidente do PT de Minas, Cristiano Silveira. Desde então, o grupo tem sustentado o discurso de que uma eleição sem a participação de Dandara representaria um “golpe” orquestrado pelo grupo da secretária nacional do PT Gleide Andrade, uma das principais fiadoras políticas de Leninha.

Nas redes sociais, Lopes chegou a comparar a exclusão de Dandara do PED à ausência de Lula nas eleições presidenciais de 2018. Antes da decisão do Diretório Nacional, a deputada contou com manifestações de apoio do ex-ministro José Dirceu e de Edinho Silva, candidato da CNB à presidência nacional do PT.

Nos bastidores, aliados discutem a possibilidade de acionar a Justiça para tentar, por meio de uma liminar, garantir a participação de Dandara na disputa.

“Querem seguir impossibilitando a nossa candidatura, mas não vamos deixar que acabem com nossos sonhos”, escreveu Dandara no Instagram. “Não podemos permitir que a disputa entre nós seja maior do que a luta contra a elite dominante. Os de cima seguem unidos, articulados, sedentos por manter seus privilégios. E nós?”, completou.

Responsável pela tesouraria nacional do PT, Gleide Andrade afirma que, no PED de 2025, quase 440 candidaturas à presidência do partido em diferentes instâncias foram anuladas por pendências financeiras com a sigla. Entre elas, três nomes que disputavam a presidência dos diretórios estaduais.

“O partido tem regras claras. Todo filiado que ocupa cargo eletivo ou de confiança precisa estar em dia com suas contribuições”, disse a secretária nacional do PT ao Estadão. “Não é justo dizer que houve manobra política. É uma violência dizer que isso (a anulação da candidatura de Dandara) foi uma ação do meu grupo político.”

Além de Gleide, a candidatura de Leninha conta com o apoio dos deputados federais mineiros Ana Pimentel, Paulo Guedes, Rogério Correia, Padre João, Odair Cunha e Leonardo Monteiro, além da maioria da bancada do partido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Disputa na Bahia para na Justiça

Entre as principais disputas estaduais, a CNB só não deve sair vitoriosa na Bahia. No Estado, o favorito é Tássio Brito, da tendência Esquerda Popular Socialista (EPS). O candidato oficial do campo majoritário é Jonas Paulo. Apesar de não integrar a CNB, Brito conta com o apoio de setores dessa corrente. Seu principal padrinho político é o ex-governador da Bahia e atual senador Jaques Wagner.

As eleições internas no Estado também têm sido marcadas pela judicialização. Em Itabuna, a petista Nina Germano, candidata ao Diretório Municipal da sigla, entrou com uma ação contra o partido após ter sua candidatura anulada por inadimplência. Na quinta-feira, 3, a Justiça da Bahia concedeu uma decisão favorável à candidata, determinando a manutenção de seu nome na disputa e impondo multa diária de R$ 15 mil em caso de descumprimento.

Em Feira de Santana, outro candidato à presidência municipal também acionou a Justiça pelo mesmo motivo, buscando garantir sua participação no PED.

No Rio de Janeiro, o favorito na disputa é Diego Zeidan, que conta com o apoio do vice-presidente nacional do PT e prefeito de Maricá, Washington Quaquá. No entanto, seu grupo político enfrenta acusações de promover filiações em massa no Estado.

“Não fortalece o PT, não ajuda na luta contra o neofascismo, não contribui para a reeleição de Lula em 2026 filiar bolsonaristas apenas para votar no PED”, escreveu o secretário de Formação Política PT-RJ, Olavo Brandão Carneiro, em uma publicação crítica ao grupo de Zeidan. “No Rio de Janeiro, mais de 80 mil pessoas foram filiadas nos últimos meses, totalizando 340 mil supostos petistas no Estado. Nos atos, não temos 10% disso”, completou.

Críticos de Quaquá acusam o suposto movimento de filiações em massa de ter como objetivo garantir uma posição de vantagem no Diretório Nacional e viabilizar uma candidatura competitiva à presidência nacional do PT. Quaquá chegou a se apresentar como pré-candidato, mas desistiu da disputa. O prefeito de Maricá nega qualquer irregularidade.

No Paraná, o deputado federal Zeca Dirceu, filho de José Dirceu, é candidato à presidência do diretório estadual. Integrante da CNB, Zeca enfrentará o atual presidente estadual da sigla, o deputado estadual Arilson Chiorato, que também pertence à CNB e tem o apoio da ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

Em entrevistas e declarações públicas, tanto Zeca quanto Chiorato negam que haja uma divisão da CNB no Estado. “Não existe oposição à Gleisi ou ao grupo político dela, somos da mesma tendência”, afirmou Zeca em entrevista ao jornal Gazeta do Povo.

Em São Paulo, o candidato da CNB é o atual presidente do diretório estadual, o deputado federal Kiko Celeguim. Embora conte com o apoio da cúpula da corrente majoritária, Celeguim enfrenta resistência entre parte dos vereadores e deputados estaduais do PT. Seu principal adversário é o deputado estadual Antonio Donato, da corrente Novo Rumo.

O que é o PED?

O PED foi criado em 2001. Desde então, foi realizado sete vezes, com exceção de 2003 e 2023, quando foi adiado por decisão do Diretório Nacional. Entre 2001 e 2013, o modelo adotado previa eleições diretas para as presidências do partido. Já em 2017 e 2019, foi adotado um sistema híbrido. Com isso, o PED de 2025 será o primeiro com eleições totalmente diretas em 12 anos.

A votação vai ocorrer no domingo, 6 de julho, por meio de cédulas de papel. Cada filiado poderá votar em chapas para os diretórios zonais, municipais, estaduais e nacionais, além de escolher os presidentes municipal, estadual e nacional – totalizando sete votos. A apuração deve ser concluída até a noite de segunda-feira, dia 7.

O partido chegou a negociar o uso de urnas eletrônicas neste ano, mas não houve acordo com a Justiça Eleitoral. Diante disso, o PT optou por manter o voto impresso. Segundo o PT, mais de 2,9 milhões de filiados estão aptos a votar.

 

 

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