7 de julho de 2025
Politica

Humberto: PT não perdeu o Centrão, que pode ter nome avaliado para vice de Lula

Presidente do Partido dos Trabalhadores por um mandato tampão, o senador Humberto Costa (PE) está prestes a deixar o comando da sigla, que passa por eleição interna neste domingo, 6. Com voz mansa e considerado de perfil conciliador, ele nega que a legenda caminhe para a radicalização à esquerda, mas endossa a estratégia do discurso de “nós contra eles”, com o argumento de que o debate é sobre justiça tributária, e admite: quem vai ditar o tom (mais inflamado ou pacificador) será o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar do desgaste e das derrotas consecutivas no Congresso, Humberto avalia que o governo Lula não perdeu o apoio dos partidos do Centro, diz que o PT buscará alianças com essa corrente política e não descarta compor a chapa presidencial com um representante do Centrão como vice.

“Alguns desses partidos do Centrão têm uma parcela significativa que apoia o presidente Lula e uma parcela que é a oposição ao seu governo. Então, nós só poderemos emitir uma opinião a depender dos nomes que forem postos e dos partidos que pleiteassem”, afirma em entrevista à Coluna do Estadão.

Hoje, esses partidos estão com um pé dentro e outro fora do governo. Entretanto, pularão para dentro do barco governista novamente se Lula melhorar sua popularidade. Humberto demonstra ciência desse fator.

“Será um ponto importante para diversos segmentos, inclusive para elementos do centro… Se o governo estiver bem, teremos condições de ter entendimentos com legendas como o MDB, PDT, com outros partidos que não estiveram no 1º conosco em 2022. Vamos buscar a esquerda, centro-esquerda, o centro e até mesmo alguns partidos com características de centro-direita”, aponta.

A mágica para reverter a desaprovação do governo, na avaliação de Humberto, está na pauta que dialoga com a maior camada da população. “Por exemplo, o debate sobre a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, a ampliação da tarifa social da energia elétrica, o vale gás”.

Nesta entrevista, o senador pernambucano também fala sobre a retomada do diálogo com o Congresso Nacional, as pautas prioritárias do PT, e a estratégia para disputar os cargos legislativos em 2026.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista

Senador Humberto Costa (PT-PE)
Senador Humberto Costa (PT-PE)

Qual vai ser o maior desafio do novo presidente do PT?

Assumir a ponta de lança do enfrentamento à extrema direita aqui no Congresso Nacional, fora dele, na sociedade civil e, ao mesmo tempo, também liderar um movimento político importante em torno das principais bandeiras que nós definimos em relação ao Congresso e ao Brasil neste momento. Por exemplo, o debate sobre a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, a ampliação da tarifa social da energia elétrica, o vale gás. Então, nós pretendemos estar à frente dessa discussão e, assim, contribuirmos para que, no ano que vem, o presidente Lula possa estar numa condição política positiva para vencer as eleições mais uma vez.

Que tom o PT tem de adotar na mobilização da militância para garantir esse ambiente favorável a Lula? O governo enfrenta uma grande crise de popularidade.

O partido deve atuar em todos os espaços que lhe cabem. Dentro do Congresso Nacional, o PT deve liderar um processo de entendimento para que essas matérias sejam votadas, o mais rapidamente possível, dentro de um clima de consenso em termos do seu conteúdo. Na sociedade, o partido deve mobilizar sua base social, seus militantes, seus simpatizantes, para que também possam fazer pressão demandando a aprovação dessas matérias. Temos, neste momento, organizado por movimentos sociais, o chamado plebiscito nacional, que envolve temas como a taxação dos super ricos, a redução da jornada de trabalho, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Naturalmente o PT, como partido que tem diálogo franco com outros partidos políticos do nosso campo, articular outras forças com esses objetivos.

O discurso do partido tem de ser mais inflamado ou mais pacificador?

O discurso tem que ser o de cumprimento dos nossos compromissos assumidos durante a campanha eleitoral. Quando o presidente disse, lá atrás, que ele iria colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda, ele estava falando de justiça tributária. Não podem as pessoas mais humildes, mais necessitadas não terem acesso às políticas públicas, não terem a condição de crescer, de prosperar no Brasil. Essas pessoas pagam imposto numa proporção bastante elevada, enquanto que outros privilegiados não fazem essa contribuição para o orçamento da União ou para o próprio País. E no momento em que se discute a necessidade de preservação do equilíbrio fiscal, se querer que os mais pobres paguem essa conta. Todos têm que pagar essa conta, dos mais humildes aos mais ricos, entre os Poderes do Executivo, passando pelo Legislativo, chegando ao Judiciário.

Embora o senhor adote um tom mais ameno na voz, o discurso fica muito claro: é o ‘nós contra eles’, o ‘pobres versus ricos’ reeditados. É essa bandeira trazida pelo presidente Lula que o novo presidente do PT vai ter que endossar?

Não sei, eu não acredito, nem acho que vai ser. Até porque nós vínhamos conduzindo, mesmo sem maioria dentro do Congresso Nacional, um conjunto de ações que resultaram em aprovação de propostas muito importantes, por exemplo, a reforma tributária, o arcabouço fiscal, a própria PEC da transição. Foram conquistas que nós obtivemos aqui no Congresso Nacional, e tudo isso foi conseguido pelo convencimento, pelo debate político, pela construção de um consenso. Quando hoje eu vejo a militância, parlamentares, outros segmentos na defesa dessa linha, é porque nesse momento nós estamos disputando uma questão que é crucial, a votação de projetos e de propostas que possam produzir o mínimo de justiça tributária. E há lobbies, há uma força política muito grande aqui, representando esses segmentos privilegiados, e que nós temos que enfrentar.

Se o PT não puxar esse coro do ‘nós contra eles’ trazido por Lula e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, isso não desautorizaria o presidente? E qual discurso o partido teria?

Não. Eu acho que nesse momento esse enfrentamento está acontecendo, mas eu acredito que de lado a lado, de parte a parte, há interesse de que nós possamos diminuir essa fervura, chegarmos a um reencontro no debate político. Se algumas medidas podem ser interpretadas por alguns como, talvez, exageradas, o governo já deu várias demonstrações de que está sempre preparado para discutir, para negociar, e o presidente Lula sempre afirmou que quer governar para todos.

O senhor defende, então, que o novo presidente do PT faça uma calibragem nesse tom?

Não. Eu acho que quem estiver à frente do PT tem que ter uma sintonia muito fina com o governo. Eu interpreto, assim como aconteceu nesses últimos tempos, que nós temos que estar muito sintonizados com o governo. Nós somos ouvidos como partido em relação a todas essas questões que ocorrem na conjuntura, a como nós devemos nos posicionar, e eu acho que essa sintonia deve ser o tom do que o próximo presidente vai procurar encaminhar junto ao partido.

Ou seja, o tom vai ser o tom que Lula der?

É mais ou menos isso.

Existe uma leitura crescente no PT de que o partido deve ser conduzido mais à esquerda até a eleição de 2026. O senhor acha que esse novo presidente da legenda deve mesmo fazer isso?

Nós todos temos sido absolutamente fiéis ao programa do partido, ao programa do governo, e como tal, me parece que nós não devemos ter uma postura de concordar cegamente com tudo, mas temos que ter uma sintonia muito fina com o governo em termos dos seus posicionamentos. Não temos divergências importantes com o que o governo está fazendo. Algumas colocações de algumas correntes são fruto da própria diversidade que o PT tem em termos de opiniões e ideias, mas também são fruto dessa própria disputa. Muitos, para conseguir buscar mais votos internamente, fazem um discurso mais radicalizado, mais à esquerda, mas na prática, por exemplo, não há nenhuma resolução proposta dentro do nosso PED que faça questionamento sobre como o governo está conduzindo o País.

Lula resgatou seu tom mais antigo (do período de sindicalista). Existe o sentimento no PT de que vocês perderam o centro e que o jeito é o partido aglutinar a esquerda em torno de si?

Nós não temos de forma alguma a avaliação de que nós perdemos o centro. Nós achamos, inclusive, que o governo, à medida que ele tenha um crescimento da sua popularidade, uma recuperação da imagem do governo e do presidente Lula, ele é um ponto de atração importante para diversos segmentos, inclusive para elementos do centro. Então, nós não estamos abrindo mão disso. Agora, nós temos que ser fiéis ao programa que defendemos em 2022 e o PT tem procurado o tempo inteiro ter isso como referência e temos hoje uma sintonia muito fina com o governo. E, na medida em que aquilo que governo está fazendo peça sintonia com o que o PT pensa, nós vamos defender de forma bastante incisiva.

O presidente que assumir o PT agora, no seu ponto de vista, já tem que trabalhar o cenário com as duas hipóteses de fato, o presidente Lula ser candidato à reeleição ou mesmo já começar a pensar em outro candidato?

Não, nós não trabalhamos com nenhum plano B, o único plano que nós temos é o plano L, o plano Lula, a não ser que o presidente desista ou que ele não possa disputar a eleição, o nosso candidato é ele. Vamos trabalhar para que seja ele e não tenho dúvida de que ele será o nosso nome.

E em relação às alianças (para a chapa de 2026), qual é a orientação que o senhor daria ao próximo presidente do PT?

Eu acho que nós temos que continuar trabalhando com a ampliação do leque de alianças que nós tivemos em 2022, eu acho que esse deve ser, digamos, o ponto de partida para a construção dessas composições. E acredito que se o governo estiver bem, nós vamos ter condições de ter entendimentos com legendas como o MDB, de ter entendimentos com o PDT, com outros partidos que não estiveram no primeiro turno conosco em 2022. Eu acho que não muda a nossa política de alianças, nós vamos buscar a esquerda, centro-esquerda, o centro e até mesmo alguns partidos com características de centro-direita. Agora, para isso, como eu disse, é preciso que o governo esteja bem com a população e nós estamos trabalhando para isso.

Qual vai ser a mágica para conseguir resgatar essa popularidade toda?

Aquilo que eu falei. Nós temos medidas importantes que vão atingir não somente as pessoas mais pobres, mas a própria classe média. Essa proposta da isenção do imposto de renda até R$ 5 mil atinge uma parcela significativa da população com a qual nós temos hoje uma diminuição da nossa interação. As obras do PAC são extremamente importantes do ponto de vista da geração da infraestrutura adequada para o Brasil crescer. Obviamente que essas coisas todas, além da própria política, vão contribuir para o fortalecimento da candidatura do presidente.

Além da disputa presidencial, em 2026 o PT tem de focar a estratégia de olho principalmente em ampliar a bancada da Câmara, para ter mais fundo eleitoral e tempo de TV, ou do Senado, onde há uma tendência de a direita ter maioria?

Obviamente consideramos que a Câmara para nós é muito importante e ela vai ter uma prioridade, até porque nós temos uma avaliação de que vamos fazer crescer a nossa bancada. Vamos estabelecer uma estratégia para isso, a colocação de nomes que possam ser puxadores de votos nos estados, a busca de obtenção de um número que seja uma meta atingível, seja uma meta possível. En não vamos deixar a Câmara dos Deputados para um segundo plano.

Que meta é essa?

Não começamos a discutir os números, mas temos certeza de que vamos ter um crescimento significativo. Eu não quero falar de números porque de repente não se chega a isso e aí a leitura é que o PT foi derrotado, mesmo que ele cresça em termos de número da bancada. No Senado realmente há a possibilidade de constituição de uma extrema direita majoritária pode levar o Brasil a uma situação de ingovernabilidade. Porque as primeiras ações com certeza que eles vão fazer serão no sentido de se contrapor à Constituição, se colocarem contra a independência entre os Poderes, realizar impeachment de ministro do Supremo, impedir a indicação de membros das agências de regulação, então nós temos uma tensão muito grande com isso. E o nosso objetivo em relação ao Senado é formar uma bancada do presidente Lula, mais do que uma bancada do PT. Nosso objetivo é ter um número de senadores aqui que possam dar apoio e suporte ao governo do presidente Lula e que sejam uma maioria dentro do Senado Federal, então isso é uma prioridade.

A presidência do PT vai ter autonomia para conduzir essas discussões no partido ou tudo vai passar de fato pelo aval do presidente Lula?

Obviamente que quando o partido disputa uma eleição e tem um candidato, esse candidato sempre terá a palavra principal, e muitas vezes o próprio candidato se envolve nas articulações políticas. E eu acredito que o presidente Lula vai se envolver. Agora, do ponto de vista do partido, o futuro presidente do PT terá total autonomia para fazer os diálogos, os debates, para tomar decisões, para trazer os assuntos para a Comissão Executiva Nacional, para o Diretório Nacional e naturalmente validar essas decisões com o presidente Lula.

Vice-presidente, por exemplo, é uma decisão que tem que ser de Lula ou do partido?

O partido com certeza vai emitir uma opinião diante do cenário que estiver desenhado, mas se, por exemplo, nós tivermos na coligação alguns partidos que têm o interesse de ter a vice, isso também vai ser uma coisa que vai ser pesada. Pessoalmente, individualmente, o vice-presidente Geraldo Alckmin tem cumprido de forma muito adequada, decente, correta o seu papel como vice-presidente da República. Ele é um nome que ninguém pode deixar de considerar, especialmente por esse seu perfil, pelo fato de ele estar assumindo um papel importantíssimo. Agora, naturalmente, se outras legendas quiserem fazer essa discussão, o partido fará e junto com o presidente Lula vai definir esse caminho.

Mesmo se for do Centrão?

Veja, nós só podemos discutir essas coisas quando elas virem concretamente. Eu acho que se o processo eleitoral se iniciasse hoje, a maior probabilidade é de que alguns partidos estejam sem uma indicação de candidatura à presidência da República. Até por estarem divididos. Alguns desses partidos do Centrão têm uma parcela significativa do partido que apoia o presidente Lula e uma parcela que é a oposição ao seu governo. Então, nós só poderemos emitir uma opinião a depender dos nomes que forem postos e dos partidos que pleiteassem.

 

 

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