Quem vai se comover com as palavras de Trump em favor de Bolsonaro?
A diplomacia brasileira já esperava alguma represália do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à reunião dos Brics, no Rio de Janeiro, e ela veio na forma de uma ameaça de aumento de tarifas. Mas parece que ele resolveu aproveitar o ensejo e ir um pouco mais longe, tirando da cartola uma enfática defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030.
O post publicado em sua rede social – Truth Social – constrasta com o silêncio da época em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou o ex-presidente brasileiro. Naquele momento, em junho de 2023, embora não fosse o homem mais importante do mundo, Trump não mandou sequer um aceno ao amigo dos trópicos.

Talvez porque ele mesmo estivesse enrolado com a justiça americana em dezenas de processos que iam desde uma acusação de assédio sexual até questões fiscais e alegações de fraude eleitoral. Como não há nada na Constituição dos Estados Unidos que impeça um réu de ser candidato, Trump seguiu seu caminho e conseguiu garantir, nas urnas, mais quatro anos na Casa Branca.
No Brasil, Bolsonaro não pode concorrer a nenhum cargo eletivo, e é reú por planejar e atentar contra a democracia, num fracassado golpe de Estado. Desde o começo do ano, quando seu filho Eduardo, o 03, pediu licença da Câmara e se mudou para os Estados Unidos, a família Bolsonaro espera por uma manifestação de Trump.
“Se houve alguma surpresa na declaração de Trump foi a de que demorou muito”, comentou o ex-ministro Rubens Ricupero que foi embaixador em Washington.
Ele observa que Eduardo Bolsonaro vem tentando obter uma manifestação de Trump há alguns meses. Conversando com republicanos e com integrantes de movimentos da direita. Nesses encontros, o deputado licenciado argumenta que seu pai é inocente e perseguido pela justiça brasileira, pede punições para o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a quem se dirige como o mentor do processo de “caça as bruxas” que atinge o “inocente” Bolsonaro.
Aqui no Brasil, as palavras de Trump provocaram diferentes reações. O presidente Lula respondeu, afirmando que “não aceita interferência nem tutela de ninguém”.
Entre diplomatas, alguns lembraram que Lula fez um gesto semelhante na semana passada em Buenos Aires ao posar para fotos com um pequeno cartaz, pedindo liberdade para a ex-presidente Cristina Kirchner, que está em prisão domiciliar.
Outros, entretanto, acham que o “singelo” cartaz nas mãos de Lula não tem ponto de comparação com as declarações de Trump.
Sem entrar nesse mérito, a família e aliados do ex-presidente comemoraram como se tivessem ganho um bilhete premiado da loteria. E acreditam que até o dia do julgamento no STF, novas manifestações virão. Não é improvável que isso aconteça. O improvável é que elas livrem Bolsonaro da quase certa condenação e da sentença de prisão. E, mais improvável ainda, é que à exceção dos seus apoiadores fanáticos, um único brasileiro se comova com as palavras de Donald Trump.