12 de julho de 2025
Politica

O crime compensa e prospera no Brasil

No Brasil, o crime não só compensa — ele prospera. Parece provocação, mas é diagnóstico. Quem estuda a economia do crime, como Gary Becker e o professor brasileiro Pery Shikida, sabe: onde a punição é incerta, o crime se torna uma escolha racional. E é exatamente isso que assistimos — um país onde a legalidade perdeu espaço para a lógica perversa da impunidade.

A chance de um criminoso ser preso, julgado e condenado é ínfima. O sistema penal brasileiro mais incentiva do que inibe o crime. Não se trata de opinião, mas de análise empírica. Segundo Shikida, boa parte dos encarcerados reconhece abertamente que penas longas, sem benefícios e progressões, seriam mais eficazes que qualquer discurso de reabilitação para frear a criminalidade. Isso mesmo: os próprios criminosos sabem da falência do sistema.

A equação do crime, como mostra a teoria econômica, é simples: avalia-se o potencial de ganho e o risco da punição. No Brasil, o custo de delinquir é tão baixo e o retorno tão vertiginoso que a decisão de roubar, traficar ou até matar se tornou economicamente razoável. Em muitos estados, menos de 10% dos homicídios são solucionados. Em crimes patrimoniais ou sexuais, a impunidade é quase garantida. O criminoso reincide porque sabe que pode — e porque o Estado, na prática, autoriza.

Os dados são alarmantes: 31% dos presos defendem a pena de morte; 19,8% sugerem penas mais duras e 8,6% pedem prisão perpétua.

Não são cidadãos comuns pedindo endurecimento das leis — são criminosos reconhecendo a falência do sistema. Dentro das prisões a realidade não é de punição, mas de reintegração ao mundo do crime. Superlotadas, desorganizadas e dominadas por facções, as unidades prisionais viraram centros de negócios. Lá, o preso encontra proteção, apoio jurídico, renda para sua família e promoção dentro da “carreira” criminosa.

A legislação também colabora. Das mais de 1.000 figuras penais existentes: cerca de 50% permitem transação penal; aproximadamente 24% autorizam a suspensão condicional do processo e quase 18% admitem substituição da pena, inclusive em casos de regime fechado.

Sobra, portanto, um ínfimo percentual de casos em que o juiz realmente é obrigado a aplicar o regime fechado. Mesmo assim, a detração penal (desconto do tempo já cumprido) muitas vezes garante que a progressão de regime seja antecipada. Em suma: é quase impossível manter alguém preso por muito tempo no Brasil. E nem se fale dos malabarismos das cadeias superlotadas. O obvio precisa ser dito: o crescimento da população e falta de novos presídios motivou o inchaço.

Aqui há a cristalização do “garantismo monocular”: aquele que enxerga direitos apenas do criminoso e deixa de lado o sofrimento da vítima. E enquanto isso, as facções criminosas tomam territórios, impõem regras, administram “justiça” paralela e cobram tributos, transformando comunidades inteiras em zonas de exclusão do Estado — os chamados blackspots. Neles, o crime não é apenas tolerado: é lei e governo.

Estamos assistindo, silenciosamente, à fragmentação do país. De um lado, os “ungidos”; de outro, uma população escravizada pela normalização da ilegalidade. O crime se tornou instrumento de ascensão social, enquanto o trabalho honesto virou caminho de frustração e abandono.

A consequência? Bilhões de reais movimentados por atividades ilícitas como tráfico, extorsão e contrabando. Um Estado informal e violento substituindo a passos largos o poder público. Uma economia paralela que concorre — e vence — o empreendedorismo legal.

Enquanto o crime continuar sendo um negócio seguro e lucrativo, o Brasil permanecerá dividido entre os “abençoados” pela impunidade e os cidadãos honestos escravizados pela insegurança. A frase “o crime compensa” já está normalizada e precisa ser combatida — com dados, com coragem e com ação.

Fontes consultadas:

https://veja.abril.com.br/coluna/direito-e-economia/o-crime-compensa-no-brasil-perguntem-aos-proprios-criminosos/

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/11/11/levantamento-mostra-que-6-em-cada-10-homicidios-ficam-sem-solucao-no-brasil.ghtml

Mapa de violência no Brasil: Análise de dados sobre furtos

https://aquinoticias.com/colunas/violencia-no-brasil-raizes-impunidade-e-o-papel-das-drogas/

http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao028/douglas_fischer.html

https://www.metropoles.com/sao-paulo/faccoes-se-associam-de-olho-em-lucros-bilionarios-diz-pesquisador

https://cbn.globo.com/brasil/noticia/2024/12/06/faccoes-criminosas-faturam-quase-r-150-bi-ao-ano-com-produtos-dentro-da-lei-diz-estudo.ghtml

chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://acrj.org.br/wp-content/uploads/2022/08/2022-07-Brasil-Ilegal-em-Numeros.pdf

https://www.terra.com.br/economia/medo-da-criminalidade-afasta-negocios-e-leva-regioes-do-brasil-a-desindustrializacao,1fb65a09ae7934268b6d6875760d3362edda9xmr.html#google_vignette

800 milionários devem sair do Brasil em 2024, diz consultoria

 

 

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