12 de julho de 2025
Politica

Oposição articula contraponto à PEC da Segurança do governo Lula em jantar com empresários

BRASÍLIA – Enquanto o relator da PEC da Segurança Pública na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara, Mendonça Filho (União-PE), desidratava a proposta, parlamentares da oposição se reuniam com empresários num jantar para debater sua própria aposta para o combate à criminalidade.

Na abertura do encontro, oferecido pela Frente Parlamentar Brasil Competitivo no Lago Sul de Brasília na noite da terça-feira, 8, deputados e senadores do PL pregaram mão pesada na área da segurança, criticaram a PEC elaborada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e defenderam a aprovação do projeto de lei 2646/2025, que visa blindar os setores estratégicos da economia contra o avanço do crime organizado.

Jantar da Frente Parlamentar Brasil Competitivo discutiu projeto que endurece combate ao crime organizado
Jantar da Frente Parlamentar Brasil Competitivo discutiu projeto que endurece combate ao crime organizado

As falas iniciais ficaram a cargo de Carlos Portinho (PL-RJ), líder da sigla no Senado, Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública na Câmara, Eduardo Pazuello (PL-RJ), Domingos Sávio (PL-MG) e Vitor Lippi (PSDB-SP), representando o deputado Júlio Lopes (PP-RJ), autor da proposta e que estava ausente.

A proposição defendida pelos oposicionistas prevê algumas medidas contra membros do crime organizado: o sequestro de bens e recursos financeiros de indiciados, que só poderiam pagar por advogados com patrimônio lícito; a prisão após condenação em segunda instância; aumento do prazo da audiência de custódia para três dias; aumento de penas para determinados crimes e alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o que permitiria reclusão de até seis anos para menores envolvidos com organizações criminosas.

Os autores da proposta também querem permitir o uso da Lei Rouanet para projetos de ressocialização; trabalho carcerário gerenciado por entidade privada; estabelecimento de um programa de monitoramento para participantes de facções e um cadastro nacional de organizações criminosas, com compartilhamento de informações sobre esses grupos e demais crimes em setores lícitos; entre outras medidas.

Os presentes manifestaram preocupação com o avanço de traficantes e milicianos em territórios do País, em especial no Rio de Janeiro, e fizeram sugestões ao texto. Em determinado momento, houve a defesa da instituição do chamado “juiz sem rosto” – prática de proteger a identidade de um juiz para evitar retaliação dos réus –, e de uma espécie de “lei de exceção” para criminosos.

“Uma contribuição, que pode ser polêmica, seria um bloqueio prévio de contas, recursos e patrimônio daquilo que é suspeito, antes do julgamento, e depois eles (investigados) podem retomar aquilo, desde que provem a origem lícita. Seria algo estranho numa democracia, mas nós estamos falando de uma lei de exceção, que é excepcional”, recomendou Lippi.

Em seguida, Bilynskyj mencionou o conceito de “direito penal do inimigo”, do jurista alemão Günther Jakobs, para sugerir a separação entre um direito penal para o cidadão, “cheio de garantias, direitos e processo penal”, e outro para o inimigo, a quem ele definiu como terrorista.

“Vocês entendem por que o Lula não quer reconhecer organizações criminosas como terroristas? A partir do momento em que você fala que o cara não é só um traficante de drogas, (que ele) é um terrorista, a sociedade passa a enxergá-lo como um não cidadão. E a gente pode fazer certas coisas com ele que a gente não poderia fazer com um cidadão. Como é que El Salvador conseguiu resolver todos os problemas? Muito foi feito nessa toada: se o cara tem tatuagem de organização criminosa? Joga ele na jaula e depois a gente vê”, declarou o deputado.

Bilynskyj se referia ao fato de o governo Lula ter rechaçado um pedido feito pela administração Trump para categorizar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do País, como organizações terroristas. Os americanos alegaram que a legislação americana permitiria sanções mais pesadas contra PCC e CV se eles fossem enquadrados como terroristas pelo governo do Brasil. Já o Executivo brasileiro justificou é que o sistema legal nacional não considera facções criminosas como terrorismo, uma vez que a atuação desses grupos não atendem a uma causa ou ideologia, mas sim a busca por lucro de diversas atividades ilícitas.

Portinho foi um dos expressaram temor com a infiltração de criminosos no aparato estatal e citou casos de traficantes expulsando síndicos para dominar condomínios do programa Minha Casa Minha Vida. “Isso acontece no Brasil inteiro. A Polícia Federal tem conhecimento e não faz nada. Então não adianta o ministro Lewandowski querer concentrar mais poder na PF se ele não faz o que todo mundo sabe que acontece”, disse.

Questionados pelo Estadão, os parlamentares se dividiram a respeito de como tratar a PEC da Segurança Pública, que começou a tramitar no Congresso após quase um ano de sua elaboração no Ministério da Justiça. Enquanto Bilynskyj quer barrar a proposta por inteiro e aprovar o projeto discutido no jantar, Lippi diz haver espaço para ambos serem aprovados. Mas todos foram unânimes em dizer que a PEC de Lewandowski não combate o avanço do crime como o texto de Júlio Lopes pretende fazer.

Representantes de companhias como Itaú, Betano, Grupo Ultra, Raízen, Bayer, Vivo e Nova Nordisk estiveram presentes e tiraram dúvidas com os parlamentares sobre o projeto. A Frente Brasil Competitivo entrou nesse debate, dizem seus membros, porque o crime organizado afeta cada vez mais os setores econômicos, como combustíveis, cigarro, bebidas, agronegócio, transporte público e provedores de internet. E a defesa do endurecimento de penas, do corte de financiamento de atividades ilícitas e do aumento do investimento no sistema penitenciário visaria combater a sonegação fiscal e o afastamento de investimentos, por exemplo.

Os deputados do PL defenderam “tratorar” – isto é, passar por cima ou dar célere andamento a uma matéria – na CCJ para garantir a rápida aprovação do texto. A ideia é nomear um relator que “se comprometa a manter o projeto íntegro” e levá-lo a a votação em plenário no segundo semestre. Enquanto isso, bolsonaristas querem barrar a PEC de Lewandowski e impedir que o governo Lula ganhe capital político com a medida em ano de eleição.

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