Vai de Bet-Corinthians: Augusto Melo alega negócio com empresa do Caribe e quer anular inquérito
O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, pediu à Justiça de São Paulo nesta sexta-feira, 11, a anulação da investigação da Polícia Civil que embasou o inquérito do caso Vai de Bet e a denúncia do Ministério Público que o acusa de furto qualificado e lavagem de dinheiro. Segundo a defesa, como o caso envolveria contrato internacional com empresa sediada em Curaçao, no Caribe, a Polícia Civil não teria competência para apurar eventuais crimes.
Na última quinta-feira, 11, Augusto Melo foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por integrar um grupo que teria desviado recursos do contrato de publicidade entre o Corinthians e a casa de apostas Vai de Bet. Segundo a Promotoria, os prejuízos ao clube ultrapassam R$ 40 milhões.

No entanto, os advogados de Melo, Ricardo Hasson Sayeg e Rodrigo Campos Hasson Sayeg, sustentam que há uma dimensão internacional nos contratos que exigiria a atuação da Polícia Federal, e não da Polícia Civil. Eles destacam que a empresa responsável pela marca Vai de Bet está sediada em Curaçao, no Caribe.
A defesa apresentou, nesta sexta-feira, 11, o pedido de anulação do inquérito policial e, por consequência, a rejeição da denúncia, dirigida à 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital.
“É teratológico, além de manifestamente inconstitucional, a Polícia Civil se arvorar da competência investigativa no presente caso, induzindo este MM. Juízo a erro por omissão imperdoável de aspecto internacional indispensável à investigação”, afirmam os advogados.
A defesa também alega nulidade na obtenção de dados bancários do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) pela Polícia Civil. Segundo eles, não houve autorização judicial para o uso dessas informações:
“É a questão do acionamento do COAF sem ordem judicial, sendo que esta defesa técnica não encontrou referida ordem que, salvo melhor juízo — pelo menos no que tange ao conhecimento da defesa —, não existe.”
De acordo com o Ministério Público, o esquema criminoso envolvia a empresa Rede Social Media Design, de propriedade de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, que teria trabalhado na campanha de Melo para a presidência do clube. A empresa recebia uma comissão não prevista de 7% dos valores pagos pela Vai de Bet ao Corinthians. O acordo de patrocínio previa o pagamento de R$ 360 milhões em três anos, o equivalente a R$ 10 milhões mensais.
Inicialmente, a empresa de Cassundé atuava apenas como agência de publicidade focada em serviços digitais, com capital social de R$ 10 mil. Após a formalização do contrato de publicidade entre o Corinthians e a casa de apostas, a empresa passou a assumir a razão social de intermediação e agenciamento de negócios, recebendo cerca de R$ 700 mil por mês.
“Sem qualquer experiência na área, do dia para a noite passou a atuar no que foi noticiado como o maior contrato de patrocínio da história do futebol brasileiro”, afirmou a defesa.
Segundo os promotores do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o Corinthians chegou a pagar R$ 1,4 milhão à Rede Social Media Design. Esse valor teria sido repassado a outras empresas em nome de laranjas, sem qualquer respaldo contratual legítimo. A investigação aponta que os recursos retornaram aos diretores do Corinthians:
“mediante sucessivas transferências financeiras entre empresas de fachada, ocultando a origem e propriedade de valores provenientes dos crimes de associação criminosa e furto qualificado.”
A Promotoria ressaltou ainda que não há qualquer documento que comprove que Alex Cassundé tenha atuado na intermediação do contrato de publicidade entre o Corinthians e a Vai de Bet:
“Isto se dá porque a intermediação, de fato, não ocorreu, tratando-se de manobra simulada para permitir a subtração de valores do clube.”
Além do presidente afastado, a denúncia também envolve:
- Marcelo Mariano dos Santos, diretor administrativo;
- Sérgio Lara Muzel de Moura, diretor de marketing;
- Alex Cassundé, apontado como “falso intermediário”;
- Victor Henrique de Oliveira Shimada, operador financeiro do esquema de lavagem;
- Ulisses de Souza Jorge, agenciador de futebol.