13 de julho de 2025
Politica

Após Brics sem Xi Jinping, governo brasileiro vê esfriar acordos imediatos com China

A ausência do presidente da China, Xi Jinping, na Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro, não apenas sinalizou um esvaziamento da reunião, como frustrou acordos bilaterais previstos pelo governo brasileiro. Havia expectativa do governo brasileiro de concluir uma série de tratativas com a China, relataram fontes à Coluna do Estadão/Broadcast.

A expectativa no governo era de que Xi Jinping aproveitaria a visita em nível de chefe de Estado para destravar desde aberturas de mercado a anúncios de investimento e acordos de cooperação técnica entre os países. Mas, com a ausência de Xi, as questões entre os dois países resumiram-se a uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alguns ministros com o primeiro-ministro da República Popular da China, Li Qiang, no último sábado, 5.

O agronegócio e a infraestrutura eram os setores prioritários dos anúncios. Em infraestrutura, havia a previsão de investimento bilionário da China em ferrovias no País, o que acabou se concretizando apenas em memorando para realização de pesquisa e planejamento sobre um sistema de transporte integrado no Brasil.

No agronegócio, eram esperados pelo menos quatro grandes anúncios: a abertura de mercado da China para miúdos suínos do Brasil e para cálculo biliar bovino (pedra de fel); a revisão do protocolo de exportação de carnes entre os países (assinado em 2015); a sincronia na aprovação de transgênicos (biotecnologia) entre os países; e a habilitação de frigoríficos para exportação de carne suína e farinhas de aves e suínos.

“São discussões consideradas concluídas ou bem avançadas do ponto de vista técnico. Falta a decisão política para o anúncio. É uma decisão estratégica da China”, observa uma fonte que acompanha as tratativas.

Outro tema que surgiu nos últimos meses e sobre o qual o governo brasileiro gostaria de tratar diretamente com o líder chinês é a retomada da compra de frango brasileiro após o encerramento do caso de gripe aviária no País.

Um dos interlocutores do governo afirma que as negociações continuam com a possibilidade de conclusão dos pactos no curto e médio prazo. “As entregas não ocorreram, mas os temas seguem na pauta bilateral”, pontuou.

Foi a primeira vez que Xi Jinping não participou da cúpula do Brics. O motivo da ausência do líder chinês não foi explicado pelas autoridades chinesas, mas fontes apontam que o atual momento geopolítico conturbado pode ter afastado Xi da cúpula.

Para um interlocutor que acompanha há décadas a diplomacia entre os dois países, a ausência de Xi deve ser vista com “naturalidade” dentre o atual contexto global e não representa retrocesso na relação bilateral entre os países, que é considerada em boa fase.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro

A expectativa de grandes anúncios de Xi Jinping foi reforçada após a missão de Lula em maio ao país asiático para o Fórum Ministerial entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a China.

Na ocasião, muitos temas avançaram do ponto de vista técnico e os anúncios políticos eram aguardados na visita de Xi ao Brasil. Autoridades do governo, inclusive, apontavam que se tratava de um gesto de Lula de fortalecimento do presidente chinês pela união da Celac.

Depois da Celac, membros do corpo diplomático voltaram otimistas ao Brasil com a expectativa de anúncio de uma nova rodada de injeção de recursos chineses em investimentos no Brasil durante a cúpula do Brics.

A aproximação de Lula com Pequim não é nova, mas vem ganhando novos contornos após a vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos. Se a política comercial americana continuar agressiva sobre o mundo, é possível que as relações com o gigante asiático se estreitem ainda mais.

 

 

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