Investigação comercial dos EUA gera riscos em 8 frentes para economia no Brasil, diz Jorge Arbache
A abertura de uma investigação dos Estados Unidos sobre as práticas comerciais do Brasil, anunciada esta semana, pelo presidente norte-americano, Donald Trump, amplia o escopo do conflito entre os dois países e tem “potencial devastador” para a economia brasileira.
Na avaliação do economista Jorge Arbache, ex-vice-presidente de Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe, estão em jogo agora temas altamente sensíveis do ponto de vista econômico: comércio digital, sistemas de pagamento, propriedade intelectual, etanol, desmatamento, entre outros. “Ou seja, todos os setores da economia brasileira estão envolvidos no conflito”, ressalta.
Jorge Arbache também avalia que haverá consequências em oito frentes:
- Saída de empresas brasileiras para os EUA
- Redução da atratividade do país para investimentos diretos estrangeiros
- Obstáculos ao aproveitamento do capital natural como motor de desenvolvimento
- Perda de protagonismo na agenda climática
- Aumento dos custos de produção
- Retração nas exportações
- Dificuldades nos sistemas de pagamento
- Restrições ao acesso a tecnologias estratégicas
O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) anunciou, em um comunicado divulgado na noite da terça-feira, 15, que iniciou uma investigação contra o Brasil a pedido do presidente americano Donald Trump.
A investigação ocorrerá com base na Seção 301, que faz parte da Lei de Comércio de 1974, assinada pelo então presidente Gerald Ford. A ferramenta da legislação norte-americana já foi utilizada em outros momentos, inclusive contra o Brasil nos anos 1980, e voltou a ser citada uma semana após o anúncio de que todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos serão taxados em 50% a partir do dia 1º de agosto.
“Ao que tudo indica, a intenção do governo americano de impactar a economia brasileira vai muito além da imposição unilateral de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros”, observa Arbache.
“Mais do que uma disputa comercial, trata-se de uma pressão direta para que o Brasil assuma posicionamentos geopolíticos dos quais tradicionalmente se mantém afastado com prudência”, continua.
Na avaliação de Arbache, a estratégia americana parece seguir um roteiro conhecido de impor pressões punitivas severas como forma de obter concessões significativas.
“É razoável supor que essas concessões incluam o afastamento do Brasil da China, a abertura facilitada para empresas americanas explorarem minerais críticos e terras raras, a instalação de data centers em território brasileiro, e a revisão de legislações sensíveis — como aquelas relativas à regulação das big techs, à prestação de serviços digitais e aos direitos de propriedade intelectual”, avalia.
“Diante desse cenário, o Brasil precisa agir com firmeza e clareza na defesa de seus interesses estratégicos. Este não é o momento para hesitações. A resposta brasileira está sob os holofotes internacionais, e qualquer passo — ou omissão — será analisado em detalhe, com implicações econômicas e geopolíticas que se farão sentir tanto no curto quanto no longo prazo”, finaliza.
