Tornozeleira eletrônica de Bolsonaro prende o Brasil na polarização e expõe o cansaço dos moderados
A decisão do ministro Alexandre de Moraes de impor tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro reativou instantaneamente o modo turbo da polarização política. O assunto foi o suficiente para que os dois grandes blocos voltassem a se enfrentar com a mesma fúria das últimas eleições.
Um levantamento da AP Exata, com 62 mil publicações sobre o tema, feitas no X e Instagram, mostra as militâncias divididas de forma quase milimétrica. Excluindo as menções neutras, 50,3% das manifestações nas redes são contra o ex-presidente, enquanto 49,7% são a favor.

A direita organizou sua reação com um repertório bem conhecido. A hashtag #SomosTodosBolsonaro liderou as menções, seguida de #Trump e #STFvergonhaMundial. As palavras de ordem mais utilizadas foram “perseguição política”, “ditadura de toga” e “Brasil virou Venezuela”. Vídeos, cards e posts pedindo mobilização voltaram a circular como em tempos de campanha. Também foram muitos os apelos ao presidente dos Estados Unidos, para que tomasse alguma providência. A narrativa foi de que o ex-presidente estaria sendo humilhado por motivações políticas e o Brasil teria se transformado num regime de exceção.
A esquerda respondeu com comemoração e provocação. #BolsonaroNaCadeia e #GrandeDia ocuparam os primeiros lugares entre as hashtags usadas por perfis desse espectro ideológico. A linguagem foi marcada por ironia, escárnio e memes. Frases de efeito e montagens circularam com velocidade. A resposta não teve compromisso com o debate jurídico ou político. Teve o objetivo de devolver na mesma moeda dos que se regozijaram quando Lula foi preso.
No campo dos que não tomaram partido, o comportamento também chama atenção. Não se trata de silêncio total. Muitos falaram da repercussão, da cobertura da imprensa, da reação das bases bolsonaristas e governistas, sem manifestar apoio nem reprovação direta a qualquer um dos lados. O tom predominante foi de cansaço. Frases como “mais um capítulo da novela”, “nada muda”, “estamos presos nesse ciclo” apareceram com frequência.
Esses perfis não são apáticos. São atentos, informados e cada vez mais distantes do debate polarizado. Observam com descrença tanto os que comemoram quanto os que denunciam. E deixam claro que o episódio da tornozeleira, para além da disputa entre extremos, reforça a sensação de paralisia de um País que não consegue se libertar das mesmas narrativas. Para esse grupo, o Brasil parece congelado em um roteiro repetido, onde os personagens são sempre os mesmos e o final nunca chega.
As reações à tornozeleira eletrônica de Jair Bolsonaro expõem uma nação que insiste em se manter aprisionada à polarização, como se não houvesse outro caminho. Mas há. E talvez esteja justamente na parte da sociedade que hoje prefere observar em silêncio. Os que não berram, mas pensam. Os que não compartilham, mas enxergam. Essa maioria, exausta, que rejeita os extremos e torce para que o País finalmente vire a página, pode ser o único antídoto possível para o ciclo que insiste em se repetir.