26 de julho de 2025
Politica

Polarização ideológica e o impacto na Política Externa do Brasil

Desde sua reeleição em novembro de 2024, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem ampliado o uso de tarifas comerciais como uma forma explícita de pressão política, afastando-se das normas tradicionais do comércio internacional. Em julho de 2025, sua administração anunciou a imposição sobre tarifas sobre uma ampla gama de produtos originários do Brasil, Canadá, China, África do Sul e outros países membros do BRICS. A medida também afetou indiretamente parceiros comerciais europeus que mantêm acordos com esses países.

Diferente de tarifas comumente justificadas por práticas desleais de comércio ou desequilíbrios na balança comercial que justificam medidas de defesa comercial como antidumping ou medidas compensatórias de setores domésticos identificados como vulneráveis, Trump vinculou essas novas tarifas a pretextos explicitamente políticos.

Apesar do discurso político norte-americano recorrente sobre “déficits bilaterais” com parceiros comerciais, os dados mostram que, desde 2000, os Estados Unidos têm registrado superávits frequentes e significativos em sua balança comercial com o Brasil, especialmente na conta de produtos industrializados e de alto valor agregado.

A ameaça de tarifas adicionais contra membros do BRICS, incluindo o Brasil, por supostas “políticas antiamericanas”, pode isolar os EUA em fóruns multilaterais e fortalecer a coesão do bloco, que inclui potências como China e Rússia. Isso pode acelerar a busca do Brasil por parcerias comerciais alternativas, especialmente com a China, que já é seu principal parceiro comercial.

O Brasil, um país de imenso potencial, enfrenta desafios estruturais que o mantêm estagnado em seu desenvolvimento. Um dos principais entraves é a polarização política, que fragmenta a sociedade e impede um debate sério sobre a política externa e os interesses nacionais.

Essa divisão, alimentada por narrativas ideológicas superficiais, cria um ambiente propício à manipulação cognitiva e à estagnação no desenvolvimento, desviando o foco de questões fundamentais para o progresso do país.

A polarização política no Brasil é marcada por uma visão binária e simplista, que reduz debates complexos a narrativas de “nós contra eles”, além de impulsionar vieses cognitivos alheios à realidade, à técnica e ao conhecimento empírico ou teórico.

Um exemplo claro das contradições que permeiam o discurso dos grupos cognitivos dissonantes no contexto da polarização política no Brasil e a realidade histórica ignorada ou manipulada, é a historiografia da política externa brasileira durante o regime militar (1964-1985), frequentemente mal compreendida ou absolutamente ignorada por ambos os espectros ideológicos. Contrariando estereótipos, o governo Geisel, por exemplo, adotou uma doutrina de pragmatismo responsável, rompendo o acordo militar com os Estados Unidos em 1977, reconhecendo a República Popular da China em 1975 e estabelecendo cooperações econômicas com a União Soviética.

Essas ações, que hoje chocariam tanto a esquerda quanto a direita por contraírem a essência da narrativa polarizada artificial, a qual um grupo ideológico denuncia o “fascismo” e o outro o “perigo do comunismo” , demonstram que o Brasil já teve uma política externa assertiva, focada na soberania e no desenvolvimento tecnológico, mesmo em um período controverso e considerado por muitos o paradigma mais rejeitado ou idolatrado pelas facções politicamente enviesadas no Brasil.

Além disso, a polarização ideológica e a dissonância cognitiva resultante na sociedade brasileira, obscurece outros problemas estruturais crônicos. A desvalorização do capital humano, com engenheiros e cientistas subaproveitados, e a falta de investimento em educação massiva voltada para a economia quaternária agravam esse cenário. A cultura de glorificação do grotesco e da superficialidade, aliada à tolerância à corrupção e ao “jeitinho brasileiro”, perpetua um sistema que retroalimenta a polarização e a ineficiência institucional.

Para superar esses desafios, é necessário um esforço coletivo que transcenda as bolhas cognitivas. O Brasil precisa de uma mudança cultural que valorize o mérito, a infraestrutura tecnológica, combata a desigualdade e promova uma educação massiva de caráter crítico e adequada para a revolução quaternária da economia.

A sociedade brasileira, por sua vez, deve abandonar a idolatria a narrativas polarizadas, tolerância com o ilícito e exigir das autoridades medidas estruturantes, cobrando responsabilidade sem se deixar manipular por discursos de engajamento midiático para finalidades eleitorais. Em suma, a polarização ideológica vigente é um obstáculo ao desenvolvimento soberano do Brasil. Enquanto a sociedade permanecer refém de narrativas binárias, o país continuará vulnerável e distante de seu potencial.

 

 

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