Transformar Bolsonaro em vítima é um erro político
Seja na política, ou na história, um personagem sofrer algum tipo de martírio, real ou fictício, é um trunfo considerável. As trajetórias dos heróis de tanta gente são recheadas de quedas e percalços, que são reescritos por quem admira a figura. Com a ajuda considerável do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem traçado o roteiro de vítima nessa epopeia. Isso impacta os seus e retroalimenta a admiração.

O grande risco de Alexandre de Moraes conduzir um processo como o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado é o ressentimento. Os admiradores de Bolsonaro – e outros – o veem há tempos apenas como um Torquemada a perseguir de maneira arbitrária o ex-presidente. Seria um caso de vingança contra a ex-autoridade que ousou enfrentar o sistema (sic).
A nunca cega cúpula do Judiciário deveria saber que um processo de tal gravidade, além de prevalecer a justiça, deveria, também, pacificar a população. Mas muitas vezes parece haver o contrário. Vistas de fora, uma série de ações, até contra Bolsonaro, são percebidas como arbitrárias e draconianas.
Jair Bolsonaro já percebeu que pode surfar na onda de que é perseguido. Por mais que existam provas, quer ficar para os seus e para a história como um humilhado e martirizado. A depender da dosagem da ação contra o presidente, pode dar certo. Proibir o ex-presidente até de se expressar, como já proibiram o Lula, pode ser um equívoco. Prender antes da hora, outro.