Patrimônio É… celebra legado de Mãe Stella de Oxóssi

Foto: Lucas Moura/Secom PMS
Reportagem: Priscila Machado e Nilson Marinho/Secom PMS
No terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, em Salvador, o centenário de Mãe Stella de Oxóssi foi marcado, nesta quinta-feira (24), por uma roda de conversa que reuniu lideranças religiosas e intelectuais negras para refletir sobre o legado da Yalorixá, falecida em dezembro de 2018. A atividade integra a edição especial do projeto Patrimônio É…, promovido pela Prefeitura de Salvador, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), e teve como tema “100 Anos de Mãe Stella e a Força das Mulheres do Afonjá”.
Com entrada gratuita e transmissão ao vivo pelo YouTube da FGM, o evento contou com a mediação da jornalista Cristiele França e a participação de Mãe Ana de Xangô, Iyá Márcia de Ògún e Ajoyé Eliana Falayó. Cada convidada compartilhou vivências pessoais e religiosas com Mãe Stella não apenas no universo do Candomblé, mas também na cultura, na educação e na vida pública.
“Com os meus olhos, existe um candomblé antes de Mãe Stella e um candomblé depois de Mãe Stella. Ela fez com que nós, iniciados, não tivéssemos mais vergonha ou medo de ocupar espaços com nossas vestes sagradas. Ela nos ensinou a dizer com orgulho: somos filhos de orixá”, afirmou Eliana Falayó, Ajoyé do Ilé Asé Oyà Alakaiye.
Incentivo à educação – Sucessora de Mãe Stella e atual líder do Afonjá, Mãe Ana de Xangô lembrou-se do legado deixado pelas ancestrais, entendendo a educação como parte da missão religiosa. O local sagrado abriga a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos.
“Quando Mãe Aninha (Eugênia Ana dos Santos), fundadora da casa centenária, afirmava que queria ver seus filhos com anel no dedo aos pés de Xangô, ela já pensava em educação de base. Hoje, como sucessora dessa trajetória, me sinto lisonjeada em dar continuidade a essa missão de qualidade, religiosidade e tradição. Carrego essa responsabilidade de dar continuidade a essa casa e a essa educação, que é uma educação de base, de qualidade, fundamentada na religiosidade e na tradição”, comentou.
Para ela, o impacto de Mãe Stella ultrapassa os limites do terreiro. “Ela não foi apenas uma Yalorixá, foi escritora, líder religiosa, pioneira, mulher negra com empoderamento e altivez. Caminhou 42 anos na religião com ensinamento e aprendizado. Assim como eu, filha dela, tive o privilégio de vivenciar isso dentro do Afonjá”.
Iyá Márcia de Ogun resgatou o pioneirismo da religiosa, que adotou ferramentas digitais para difundir a tradição, além do fato de ter lançado livros, se tornando a única ialorixá e a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia (ALB).
“Ela, de fato, foi um ser à frente do seu tempo. Muita gente não sabe, mas Mãe Stella teve um aplicativo e lançou um canal no YouTube. Sempre fui, e sempre serei, fã de Mãe Stella, porque ela muito me inspirou. Peço licença às minhas ancestrais, à minha ialorixá, mas preciso dizer: eu sempre fui, e sempre serei, fã de Mãe Estela, porque ela me inspirou profundamente”, finalizou.
Patrimônio como identidade – O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, defendeu a continuidade de ações como essa. “Muita gente acha que patrimônio é coisa velha, ultrapassada. Mas o patrimônio é o que nos mantém vivos, com identidade. Mãe Stella transformou este espaço em território de cultura, de educação e de memória. Precisamos falar disso nos 101, 102, 103 anos…”, disse.
O diretor de Cidadania Cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), Chicco Assis, afirmou que o encontro é especial por ser um momento de reconexão com a força das mulheres negras e iniciadas, sobretudo do Afonjá. Ele defende que a celebração do legado de Mãe Stella e do Dia da Mulher Negra não deve se limitar ao mês de julho.
“Julho se torna agora um grande marco, porque é urgente celebrar as mulheres negras em suas dimensões internacional, nacional e municipal. Pensar nas mulheres negras de Salvador é pensar nas raízes mais profundas da nossa identidade”, comentou.
Circuito – A atividade integra o Circuito Mulheres Negras em Movimento, promovido pela Prefeitura de Salvador por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e ao Dia Municipal da Mulher Negra. As atividades seguem até o próximo dia 27 com rodas de conversa, feira de empreendedoras, exibição de filmes, oficinas, homenagens e manifestações culturais. É possível conferir a programação completa no site http://www.salvadordabahia.com/circuito-mulheres-negras-em-movimento/ .
Acesse a galeria de fotos: https://comunicacao.salvador.ba.gov.br/edicao-especial-do-projeto-patrimonio-e/ .